Por menos morte em nossas vidas

Há um bom tempo, no século XVIII, um romance epistolar, publicado pelo escritor alemão Johann Wolfang von Goethe, viria a ocasionar catástrofes irreversíveis na vida de muitos jovens da época.

Goethe em “As cartas do jovem Werther”, baseado em fatos reais, narra a história de um jovem que escreve cartas a um amigo contando fatos sobre sua vida, inclusive a paixão avassaladora por Carlota, um amor impossível, visto a mesma ser casada. Sem perspectivas de futuro em sua vida emocional, Werther, com um tiro, põe fim ao seu sofrimento e deflagra uma onda de suicídios cometidos por jovens, leitores do romance, que padeciam do mesmo mal, embora nunca se tenha realmente atribuído a ele, formalmente, tamanho gatilho.

À época, morrer por amor era lindo e contagiante. Os autores românticos (Fase do Romantismo) brindavam a morte em poemas e romances de forma trivial, como única solução para amores platônicos. Era como se a felicidade consistisse em “amar para morrer”. Séculos depois, alguns ícones do cinema também virilizariam pelo mesmo procedimento de Werther, como Marilyn Monroe e Kurt Cobain.

No momento, passamos também por esse turbilhão de pessoas matando ou fazendo-se morrer por motivos vários e, muitas vezes, incompreensíveis. Mas, hoje, morre-se pelo quê? Por amor?

Penso que, atualmente, morre-se mais pela ausência de amor do que pelo excesso. O medo do sofrimento anda fazendo com que as pessoas se blindem, evitando o sentimento. Morre-se porque as dores emocionais ultrapassam os limites de nossa resistência. Morre-se porque as sombras de um passado feliz, são congeladas pelo frio do inverno que chegou mais cedo. Morre-se porque o dia amanheceu cinzento e a alma, sem cor, só enxerga solidão e abandono.

Morre-se, porque mesmo a palavra não proferida também fere, aniquilando esperanças de um futuro que não será. Morre-se, porque o abraço quente que conforta não aconteceu e o vazio dos dias se repete amargo. Percebo que há muitas pessoas que, embora vivas, já morreram há muito, e outras, que estão morrendo, clamam por… mais tempo!

Em época de festas, como as de final e início de ano, é comum ficarmos mais introspectivos, tomados por uma melancolia obscura, perdida entre sorrisos e brindes. Porém, é um sentimento momentâneo, substituído por planos e sonhos que abraçarão noites e dias do novo ano. É importante que sejamos gratos e estejamos sempre prontos a estender a mão a quem, seja lá por qual motivo, esteja envolto por uma tristeza sem fim.

Sabemos que morremos um pouco a cada dia, entretanto, deixamos um legado que pode ficar lacrado a cada hora, minutos e segundos em que ainda respiramos. Precisamos olhar sempre nos olhos e não deixar que as atrocidades da vida nos façam perder o encanto pelas pequenas coisas. E não é mesmo preciso muito. Necessitamos de menos do que imaginamos, precisamos é ser mais presença; aprender algo todos os dias; fazer alguém sorrir; dizer para o outro quão importante ele é; presentear com coisas simples, mas simbólicas; prestar ajuda; tirar o peso de seus ombros e de quem também anda sobrecarregado; professar a nossa fé. Enfim, de alguma forma, ser um enviado de Deus, e colocar cor e sabor na vida, principalmente daqueles que sentem amargura e só enxergam o cinza, mesmo em dias lindos de sol!!!

 

Um lindo Ano Novo que te realize e, sobretudo, que se realize!!!

Cito um livro que eu amei ler e me inspirou para escrever esse texto: “Apesar de muitos escolherem viver de um jeito morto, todos têm o direito de morrer vivos. Quando chegar a minha vez, quero terminar a minha vida de um jeito bom: quero estar viva nesse dia.”

Dra. Ana Claudia Quintana Arantes, em “A morte é um dia que vale a pena viver”.

 

Sônia Maria Ramos Fachini é formada em Letras com especialização em Literatura, Linguística e Arte. Atualmente, leciona na rede estadual de ensino.