HARMONIA E RADICALISMO

 

“O tumulto é a linguagem daqueles que ninguém entende” – Martin Luther King

     As principais manchetes, comentários e discussões atuais estão direcionadas para o mundo político, com destaque ao governo federal. Não poderia ser diferente em virtude do momento de mudanças originadas do resultado da última eleição. Por enquanto parece que a campanha eleitoral ainda não terminou.

     Alfinetadas e acusações continuam, tanto do lado vencedor que parece pretender uma nova política no jeito de conduzir o destino da nação, quanto pelo lado derrotado que promete quatro anos de desconstrução de tudo que for tentado colocar em pratica. Pressinto que o Ceará será chumbo leve perto do que está batendo em nossa porta.

      Sé que isso, guardadas as devidas proporções, me lembra das estradas que percorri estacionando por algum tempo, a trabalho, em oito cidades diferentes. Respeitando o costume de cada lugar, mas com olhar crítico e atento, procurei observar, conhecer e participar para que eu pudesse me adaptar, mesmo porque ali seria o meu habitat durante algum tempo.

     Focando na administração pública, pude perceber a diferença de comportamento político em cada uma das cidades. As campanhas eleitorais eram acirradas com cada um tentando convencer os eleitores da praticidade de suas propostas.  Em algumas o período de campanha era conduzido de maneira respeitosa, cordial e quaisquer problemas eram resolvidos de imediato pelos coordenadores. Em outras, era um perigo sair de casa e até tomar partido por um dos lados. Desacatos, insultos e até agressões eram constantes e os problemas eram resolvidos com o juiz eleitoral ou delegado de polícia.

      E durante o mandato as coisas não mudavam. Os cordiais trabalhavam fiscalizando, conversando, denunciando se fosse preciso, mas tinham o objetivo de contribuir para o desenvolvimento do município e bem-estar da comunidade. Na eleição seguinte cada um vendia seu peixe, e o povo, consciente, decidia de quem seria o próximo mandato.

     Já os radicais também fiscalizavam, porém com o objetivo de descobrir erros que pudessem mostrar quaisquer indícios de falcatruas e assim denunciar para desconstruir o caráter dos administradores. Mas o intuito não era proporcionar melhorias e consertar o que estava errado, mas sim de no futuro garantir uma vitória eleitoral não importando o rastro de malvadeza deixado pelo caminho. E o eleitor, sem saber ao certo quem seria o dono da verdade, caminhava inconsciente para o exercício do voto nas urnas.

     Mas o que vi no final das estradas que percorri e por onde, às vezes, transito? Que as cidades onde a harmonia reinava foram transformadas em lugares bonitos, agradáveis de se viver, a população feliz e o progresso em alta. Já nas cidades controladas pelo radicalismo, a beleza não chegou e a população continua reclamando da saúde, longe da educação e perto dos buracos da rua. Nada mudou. Em uma os políticos recebem os aplausos e ficam com os louros da vitória. Em outra os políticos enxugam gelo, lavam papel carbono e continuam acreditando na frase imbecil de que “em eleição só não vale perder”.

     Na minha cidade atual, que é a natal, continuo com olhar crítico e atento percebendo que muita coisa não está bem, mas tem conserto. E a sua?  Está tudo bem? Espero que sim, como também espero por quatro anos de desenvolvimento para a Pátria de todos nós, com fiscalização, críticas e até de denunciais, mas bem longe do radicalismo. Tenhamos todos um feliz 2019

“Uma das coisas importantes da não violência é que não busca destruir a pessoa, mas transformá-la”.  Martin Luther King

 

* Renato Navarro é sociólogo e aposentado do Banco do Brasil.