Em tempos de cólera, tratemos do amor

A palavra cólera remete ao romance de Gabriel Garcia Márquez. O colombiano narra a história da jovem mãe, Fermina, pelo pai do escritor. Interrompido pela cólera do avô do escritor, pai da moça, que se mostra contrário ao romance.  
O jovem telegrafista, violinista e poeta encontrou um meio de comunicação com a amada, em qualquer lugar que ela estivesse. “Ela lhe perguntou num daqueles dias, se era verdade, como diziam as canções, que o amor tudo podia. É verdade, respondeu ele, mas será melhor, não acreditares”. E graças a essa rebeldia do escritor, que desobedeceu ao pai, largou a faculdade de direito e tornou-se Nobel da Literatura, podemos entender através da literatura que quando se trata de um sentimento verdadeiro, não há cólera que separe.
A rudeza que cerceia as atitudes dos jovens contemporâneos, na sua maioria, desacorçoa, entristece, desanima. Entretanto, havemos de espalhar o amor, sentimento universal, tratado em prosa, em verso, ou na vida real. 
E talvez perguntarão: como falar de amor, se não há romance na vida de quem escreve? Penso que quando se vive uma única vez, uma história recíproca, real e que tenha valido, mesmo depois de três décadas, olhares e raras conversas, como se o tempo tivesse permanecido no mesmo lugar, ou quando todas as vezes que toca Pintura Íntima na voz da majestosa e encantadora Paula Toler, a lembrança aquece o coração. Pois permanece na gente, na cachola, uma mistura nostálgica de sentimentos.
Sentimentos que nos aquecem o coração, como escreve Graciliano Ramos com uma capacidade ímpar de retratar sentimentos, que mantém a humanidade viva. Ainda posso falar do amor, por que quando acordo todas as manhãs, posso dizer pra mim mesma do amor que tive, como cantou Vinicius, e também do amor que tenho hoje, por mim mesma, que talvez tenha me faltado anos atrás, por que há demora pra que tenhamos por nós mesmos, o tão desejado amor próprio, sentimento que se torna real, aqui na maturidade, quando os anos são urgentes, por que vão se tornando valiosos, por que ficaram curtos.
Esses que tenho agora, capazes de enfrentar as mazelas, de se importar menos, e sentir mais, seja com a ajuda de um “abraça Jesus”, seja com a prática de uma atividade física, seja cultivando vasos, seja cozinhando um prato saboroso, Enfim, de uma forma de tratar o amor com mais acuidade, com mais atenção e menos cólera.