Eleições municipais: uma pequena viagem no tempo

Por conta de inúmeros compromissos profissionais e pessoais, nos últimos anos tive que abrir mão das participações no Jornal Agora com os artigos e reportagens especiais que sempre gostei de escrever. Mas às vésperas do início desta campanha eleitoral, recebi do colega Roberto Junior, editor deste periódico, o convite para produzir um material especial sobre a história das eleições em Mandaguari. Mesmo com a agenda lotada e uma demanda enorme de trabalho em minha pequena empresa, não quis deixar de contribuir neste momento tão importante. Além do mais, fazer pesquisas históricas é algo que sempre gostei, mas que nem sempre tenho a oportunidade de praticar. Decidi escrever sobre as nove eleições municipais das quais me recordo, a primeira delas foi a de 1982.

Estava prestes a completar 8 anos de idade e fiquei impressionado com toda aquela movimentação de candidatos, santinhos, brindes sendo distribuídos e os comícios que aconteciam a uma quadra da casa que eu morava no Jardim Esplanada. Desde então, acompanhei todas as disputas que aconteceram. Na maioria delas apenas como expectador, em outras como prestador de serviços e apoiador. Por opção, nos últimos anos tenho me mantido afastado do cenário eleitoral. Não deixo de observar o que acontece, mas prefiro não me envolver. E por incrível que pareça, quanto mais longe eu fico desta “muvuca”, melhor é a minha percepção sobre os fatos.

Muita coisa mudou desde aquele distante 1982. Passados 38 anos e dez eleições, a se considerar a disputa em andamento, vejo que tivemos avanços importantes em vários aspectos eleitorais, mas infelizmente regredimos muito em algumas questões. Práticas que antes eram comuns, hoje não são mais aceitas. Atitudes antes repudiadas hoje são exaltadas.

Tudo isso faz parte das transformações que acontecem na sociedade, mas independente das mudanças, é quase impossível ficar indiferente à toda movimentação que acontece nos períodos eleitorais, ainda que não se envolvendo diretamente nas disputas. Ao final de cada pleito, ganhe A ou ganhe B, a vida continua e sobram as histórias, as oficiais e as reais. A partir desta edição do Jornal Agora vamos falar sobre as últimas nove eleições municipais de Mandaguari. Procurei resgatar um pouco dessas histórias a partir de lembranças pessoais e de documentos oficiais aos quais tive acesso. 

1982 – Regras estranhas, brindes e vitória apertada

Além de ser a primeira eleição com a participação de vários partidos de depois de muitos anos, outra curiosidade das eleições de 1982 foi possibilidade de uma mesma sigla lançar mais de um candidato e de uma mesma pessoa ser indicada como vice de dois postulantes ao cargo de prefeito. Isso aconteceu em Mandaguari naquele ano.

Em seis candidatos a prefeito, embora na prática apenas cinco tenham participado da corrida. Pelo PMDB almejavam a chefia do Executivo o ex-prefeito Antônio Galera, que tinha como vice o comerciante Antônio Munhoz; Miguel Garcia Fernandes, como o mesmo vice de Galera; e Odeval Sofia, com o vice Nei Conciani. Pelo PDS os candidatos eram Cyllêneo Pessoa Pereira, tendo como vice Edilson Xavier; Hideaki Miazawa, com Edgar Bugni na vice; e Fernando Augusto de Carvalho, cujo vice era Pedro Marino. Desses, Garcia não entrou efetivamente na campanha e nas urnas recebeu somente um voto.

Como ocorreu na maior parte do país naquele ano, o PMDB elegeu o maior número de candidatos. Das onze cadeiras do Legislativo, sete foram ocupadas por membros do partido: Walter Domingos, Santo Geretti, Maria Inês Botelho, Joaquim do Couto, Wanderley Lukachewski, Jorge Hamessi,e Fernando Padilha. As outras quatro vagas ficaram para João Vrenna, Oswaldo Neves, Alécio Maróstica e Mario Bezerra.

Já na majoritária, quem se sobressaiu foi Galera, que com 3.294 votos, apenas 140 votos a mais do que Sofia, foi reconduzido ao cargo de prefeito. Fernando Carvalho ficou na terceira colocação, com 2.218 votos, Cyllêneo em quarto, com 1.187, e Hideaki em quinto com 533 votos, superando apenas Garcia, que, como já mencionado, não fez campanha e teve somente um voto.

A disputa foi marcada também por uma ampla distribuição de brindes feita pelos candidatos. Durante a campanha, que se estendia por mais de quatro meses, os eleitores ganhavam camisetas, bonés, réguas, chaveiros, mudas de árvores e gasolina, muita gasolina. Tudo isso era feito às claras, sem que houvesse qualquer questionamento por parte da Justiça Eleitoral. Candidatos chegavam a doar 20 litros de combustível por semana para quem se dispusesse a pintar seu nome e número no vidro do carro.

Em termos políticos, chamou a atenção o fato de Xandú, o prefeito da época, e Galera, seu antecessor, estarem em palanques diferente. Os dois haviam sido aliados, Xandú foi chefe de gabinete de Galera e teve o seu apoio quatro anos antes, mas naquele momento os dois estavam rompidos politicamente.

O que vem por aí

Na próxima edição vamos contar um pouco mais de uma virada histórica no pleito de 1988 e a disputa com muitos candidatos na eleição de 1992. Não perca!

*André De Canini é jornalista há mais de 25 anos, tem especialização em Comunicação, Publicidade e Negócios e é proprietário da Semiótika, empresa que atua na produção de conteúdo jornalístico e publicitário, assessoria de imprensa e desenvolvimento de estratégias para comunicação corporativa e institucional.