Ajudando quem está longe de casa

O Jornal Agora inicia a partir desta edição uma série especial de reportagens sobre imigrantes vivendo em Mandaguari. Muitos vêm para a cidade em busca de condições melhores de vida e trabalham para ajudar quem ficou no país de origem. Quem são essas pessoas? Como vivem e quais suas histórias? É o que tentaremos responder a partir desta reportagem.

Haitianos em Mandaguari

País mais pobre das Américas, o Haiti, foi local da chegada de Cristóvão Colombo em 1492. Os espanhóis batizaram a ilha de Hispaniola, escravizaram os índios que ali vivam e, até o final do século XVI, a população nativa foi praticamente toda reduzida.

Porém, em 1697, a partir da assinatura do Tratado de Ryswick, a parte da ilha, onde atualmente fica o Haiti foi cedida à França, e recebeu o nome de Saint Domingue. O país obteve sua independência em 1804 e passou a chamar-se Haiti, que foi a primeira República Negra das Américas e o primeiro país latino-americano a declarar-se independente.

Em 2010, o Haiti encontrou-se imerso em uma grande catástrofe natural, quando um terremoto de magnitude 7 na Escala Richter, com epicentro próximo à capital Porto Príncipe, atingiu o país. Esse abalo sísmico devastou a nação, deixando mais de 300 mil mortos. Conforme dados da Cruz Vermelha, cerca de três milhões de haitianos sofreram consequências desse terremoto.

O Brasil se tornou um dos principais destinos desse fluxo migratório a partir de 2010. A busca por trabalho foi uma das principais motivações para a vinda dos haitianos para o país. Na ocasião o Brasil se preparava para Copa do Mundo de 2014 e os haitianos olhavam para o país com esperança, acreditando que aqui poderiam encontrar boas oportunidades de trabalho e melhoria de vida. Outro fator relevante para a escolha do Brasil como destino foi que a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, criada em 2004, foi liderada por brasileiros, o que estreitou laços entre os dois países.

Contudo, apesar de estarem empregados e trabalhando formalmente com documentação de permanência no Brasil, a inclusão desses imigrantes ficou a cargo da solidariedade de algumas instituições, como a Pastoral do Migrante. No caso de Mandaguari, que não tem a pastoral constituída, o trabalho fica por conta do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM).

Em Mandaguari estima-se que por volta de 300 haitianos vivam na cidade, que quando aqui chegaram procuraram apoio na Paróquia Bom Pastor. Esse trabalho iniciou-se com Padre Dirceu Alves que esteve à frente da paróquia entre os anos de 2016 e 2018.

A reportagem do Jornal Agora entrou em contato com o casal Anilton e Zélia Bittencourt, que estão coordenando esse trabalho da SPM na Paróquia Bom Pastor. “Muitos chegam aqui sem nada, com a cara e a coragem e querem primeiramente trabalho. Eles chegam aqui querendo trabalhar para manter viva a família que deixou lá”, relata Zélia.

Mandaguari, na região está, apenas atrás de Maringá como destino dos haitianos e de outros estrangeiros, que veem nas igrejas o primeiro ponto de apoio para se estabelecer. “Muitos vão até nós na busca de trabalho, mais em primeira instância precisando de uma cesta básica, mobília, de uma roupa para se manter temporariamente até conseguir um emprego”, conta os coordenadores.

No começo o atendimento era menor de 2 a 3 pessoas por semana, mais com o boca a boca o numero saltou para até 12 pessoas por dia em pouco tempo, chegando a formar filas de pessoas em busca de ajuda.

Porém Zélia e Anilton ressaltam que a maior barreira depois do idioma e de uma cultura diferente, o preconceito foi e ainda é o fator que mais dificulta a inclusão no mercado de trabalho. Com a ajuda da prefeitura que organizou reuniões com empresas, possibilitou a contratação desses migrantes em Mandaguari e cidades da região.

 

* Matéria publicada na 302ª edição do Jornal Agora