“Acordamos com R$ 48 milhões a menos na conta”

No final de abril, o Ministério da Educação (MEC) bloqueou uma parte do orçamento de 63 universidades federais e 38 institutos federais de ensino. O corte, segundo o governo, foi aplicado sobre gastos não obrigatórios, como água, luz, terceirizados, obras, equipamentos e realização de pesquisas. Despesas obrigatórias como assistência estudantil e pagamento de salários e aposentadorias não foram afetadas.

No total, considerando todas as universidades, o corte é de R$ 1,7 bilhão, o que representa 24,84% dos gastos não obrigatórios (chamados de discricionários) e 3,43% do orçamento total das federais. O contingenciamento foi um duro golpe absorvido pelas universidades, que do dia para a noite viram seu orçamento cair ainda mais.

O Campus Avançado da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Jandaia do Sul também foi afetado pelo contingenciamento proposto pelo MEC. Ao Jornal Agora, o diretor do campus, Eduardo Teixeira da Silva, lamentou os cortes, mas afirmou que as atividades da universidade continuam, ao menos por enquanto.

Silva concorda com o que diz o reitor da UFPR, Ricardo Fonseca, que concedeu algumas entrevistas nas quais fala que a universidade pode fechar as portas caso o corte não seja revisto.

“A universidade tem um orçamento anual, e nesse orçamento a UFPR como um todo teve um corte de R$ 48,5 milhões. Esse dinheiro era o fôlego que tínhamos, e sem ele a gente não chega até o final do ano”, dispara.  “O que o reitor vem falando na imprensa é a realidade curta e grossa. Nós não temos dinheiro para honrar os compromissos no segundo semestre”, complementa.

“Vou te dar um exemplo que é a energia elétrica, que tem um consumo elevado. O dinheiro para pagar essa conta é que foi cortado. Tem também a questão de água, telefonia e terceirizados, nós não sabemos como fazer para honrar esses compromissos. Nós acordamos com R$ 48 milhões a menos na conta, e vamos sentir o reflexo disso”, declara.  

“Não posso falar especificamente sobre as atividades de Jandaia, mas da UFPR como um todo. Por sermos um setor pequeno, a gente já vem apertando o cinto há muito tempo. Estamos caminhando na contramão. Ao mesmo tempo que se tem reajuste de água, energia e combustível, o nosso orçamento é o mesmo. Nós estamos aumentando o número de alunos, o que significa que o consumo interno vem aumentando, mas o custeio vem sendo reduzido”, acrescenta o diretor.

Ainda sobre os cortes, Silva avalia como retrocesso na educação. Ele afirma que está preocupado, pois “o país precisa de tecnologia e 90% da pesquisa brasileira está nas universidades. As pesquisas não podem parar, mas como vou continuar? Imagina se tiver um laboratório com vários produtos num freezer e houver corte de energia elétrica? A situação pode piorar caso o governo não reveja o contingenciamento que foi imposto, não negociado”.

Segundo o diretor do Campus de Jandaia do Sul, o país “está no momento que precisamos de investimento e estamos tendo o contrário. Lá na frente podemos pagar muito caro por esse retrocesso”, afirma.

“Sabemos que o momento é de dificuldade, mas eu acho que educação e saúde tem que ser prioridade. Mexer da forma como está sendo feito, acredito que ninguém concorde. A maneira como foi colocada, como foi retirado o recurso, todo mundo está bastante insatisfeito. A gente espera que o governo reveja, e que volte a repor esse custo, que é fundamental para manutenção das universidades”, ressalta.

Construção de sede própria ainda está mantida

Mesmo com os cortes anunciados pelo MEC e a incerteza sobre o futuro da UFPR como um todo, a construção da sede própria do campus de Jandaia não deve ser afetada – atualmente a entidade ocupa espaço alugado da Fafijan.

“A construção ainda continua viável pois são coisas diferentes. O corte que o governo federal fez não foi em capital, apesar do investimento ser reduzido, mas sim na manutenção. O projeto de construção da sede está praticamente pronto e estamos negociando com governo federal e estadual”, afirma Silva.

O diretor explica que a UFPR já tem o terreno, e é necessário aporte de recursos para que as obras comecem ainda este ano. Neste caso em específico, a instituição conta principalmente com apoio do governo estadual. “Que tem um compromisso com a nossa região na implantação do campus”, destaca Silva.

“Se analisar no âmbito regional, hoje geramos ICMS para o governo estadual. Temos diversos professores e técnicos, além de 700 alunos aqui, todos eles consumindo na região e movimentando a economia. O governado estadual está sensibilizado com isso e é nosso parceiro na implantação do campus com instalações próprias em Jandaia do Sul”, conclui.

 

* Matéria publicada na 303ª edição do Jornal Agora