A angústia dos Finais e Recomeços

Diante de toda condição humana que se apresenta, podemos vislumbrar a possibilidade do ganho e da perda, do fechamento e recomeço dos vários ciclos da vida. A constatação do final de ano, para muitos de nós, mobiliza afetos complexos, uma época em que a angústia aumenta decorrente do simbolismo que estas datas evocam para algumas pessoas. Alegria e tristeza podem coexistir, ou mesmo, estados mais melancólicos de um lado, bem como, estados mais eufóricos, como forma de compensação, uma válvula de escape, uma saída para a angústia. As festas, as comemorações, embora simbolizem os rituais de passagem para muitas culturas e religiões e tenham um sentido importante para várias pessoas, são destituídas de valor para outras. A busca por uma espécie de prazer sem fim leva muitas pessoas ao que Sigmund Freud (pai da psicanálise) denominou de pulsão de morte. A tentativa ilusória de buscar um prazer ininterrupto constata a dificuldade que muitas pessoas possuem de lidar com o fim da vida, que está representada em toda e qualquer situação de perda ou do final do prazer. É por esta razão que nesta época do ano, muitos de nós podemos experimentar sentimentos variados e por vezes, contraditórios. Alegria, tristeza, gratidão podem estar presentes, mas sempre dependerá do sentido particular que atribuímos à vida. 

Recomeçar é fundamental como bem sabemos, ter clareza de nossos desejos e assumir a dura e inevitável responsabilidade de fazermos escolhas virtuosas é um desafio complexo e necessário para aqueles que alcançaram uma condição rara, que é a lucidez e a coragem de saber sobre verdades dolorosas, muitas delas, inconscientes, das quais podemos suportar. Talvez, a mais difícil de todas, seja a constatação de que não podemos tudo e que os limites, o fim das coisas, ocorrem em nossas vidas. Para isto, é fundamental que a angústia dos finais e recomeços possam encontrar caminhos mais saudáveis, como a fala e outras formas de expressão. A esperança, a fé na vida são condições fundamentais para continuarmos existindo com algum sentido, deixando um legado, uma marca de amor e não de horror e tragédias. Que neste final e recomeço possamos nos dar conta de que sempre é por meio destas escolhas, da prática do bem coletivo que podemos suportar melhor os momentos em que a angústia se torna insuportável.

Que tenhamos um Natal e um Ano que se inicia mais saudável, lúcido e afetivo.