A finitude e o tempo que nos escapa 

Tempos atrás, tive uma breve conversa com meu filho, que na época tinha 3 anos, sobre a nossa finitude. Tudo começou quando mencionei que nosso gato estava fazendo “aniversário” de 7 anos e que, para um felino, isso já poderia ser considerado velhice.

Claro, que na curiosidade de uma criança, ele começou a me questionar por que o gato era velho. Mesmo com a explicação ele afirmou que queria ele sempre daquele jeito.

É curioso como, desde pequenos, buscamos formas de negar a passagem do tempo. Queremos que as coisas aconteçam como estão, que os momentos durem para sempre. Mas o tempo, indiferente aos nossos desejos, segue em frente, silencioso e implacável.

Vivemos como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Adiamos encontros, promessas, sonhos, porque amanhã sempre parece garantido. Mas a finitude nos ronda, lembrando que cada instante é uma peça única que jamais se repetirá.

No ritmo acelerado da modernidade, esquecemos que somos passageiros. Construímos cidades, impérios, legados, mas tudo está sujeito ao declínio. O tempo, esse maestro invisível, rege nossas vidas sem dar espaço para ensaios ou repetições.

E o que fazemos com essa consciência? Fugimos dela. Criamos distrações, rituais, mitos que nos fazem esquecer que somos efêmeros. No entanto, encarar a finitude não é um convite ao desespero, mas à urgência do agora. Se tudo acabar, que ao menos possa ficar bem vívido.

Talvez a grande ironia da vida seja essa: só entendemos seu valor quando percebemos que ela escorre pelos dedos. Então, o que nos resta? Abraçar a fragilidade do momento, amar sem reservas, errar e recomeçar, porque no fim, e ele sempre chega, só o que fizemos com o tempo que nos foi dado realmente importante.

E quando olhamos para trás, para aqueles que já partiram, percebemos que eles continuam vivos nas histórias que contamos, nas lembranças que guardamos e nos gestos que aprendem com eles. O tempo pode levar corpos, mas jamais apaga presenças. Assim seguimos, carregando um pouco de cada um, enquanto também deixamos nossa marca nos que ainda virão.