“Gangorra”

Vi pessoalmente o ex-presidente Michel Temer em uma única ocasião, mas não tive a oportunidade de conversar com ele, e sequer de cumprimenta-lo. Também nunca fiz questão e jamais fui seu admirador.
O ano era 2003 e eu estava de passagem pelo aeroporto de Congonhas. Não lembro ao certo qual era a viagem, mas imagino ser dos tempos da política. O espaço estava abarrotado e o então deputado Michel Temer aguardava seu embarque para a capital federal.

Lembro de ficar observando ele por uns instantes. Michel Temer era à época um deputado de alto gabarito, líder do então PMDB e, mesmo com pouca popularidade, um dos maiores líderes do Congresso.
Ele estava com uma edição da Folha de São Paulo em mãos, lendo de maneira compenetrada, alheio à “muvuca” ao seu redor, típica das salas de embarque de aeroportos movimentados.

Os anos se passaram e Temer se tornou vice-presidente da República, e mandatário maior do país após a queda de Dilma Rousseff. Sempre que eu o via em algum noticiário me lembrava da cena em que vi aquele homem espremido em um aeroporto.

Pensava: que mudança. De voo de carreira para voos em aviões oficiais, frequentando os maiores palácios e com assessores para abrir todas as portas necessárias, sem precisar nem se dar ao trabalho de manusear uma maçaneta.

Terminado seu mandato, Michel Temer foi preso essa semana e a cena do aeroporto me veio à mente mais uma vez. Aquele homem poderoso, preso, daria tudo para estar de volta àquela sala de embarque, quente, barulhenta, desconfortável, incômoda, talvez até um pouco hostil, porém livre. O mundo é mesmo uma gangorra. O abominado de hoje pode se tornar o desejado de amanhã.