Um novo mundo agrícola se aproxima – Riscos x Oportunidades

Na verdade, as inovações tecnológicas e, por consequência, as informações delas decorrentes, estão circulando com absurdas velocidades e, por mais que queiramos transmitir o nosso sentimento sobre as mudanças que estão ocorrendo e a tendência futura, realmente é uma atividade hercúlea e muitas vezes fadada ao insucesso, onde, do período de análise até a publicação do assunto, as coisas já mudaram e existem novas opções e oportunidades. Simplificando o raciocínio, muitas vezes é mais ou menos como o sentimento de enxugar gelo…

Vamos lá às novidades da semana que devem mexer com o futuro do nosso negócio:

Milho

O sonho dos produtores brasileiros sempre foi de que o milho tivesse a mesma paridade e liquidez definidas pelo mercado internacional que possui a comercialização do soja.

Pois bem, grandes crises também geram grandes oportunidades e parece-me que, a cada nova informação publicada, este será o caminho do milho num futuro não tão distante. A causa é a grande mortalidade de suínos verificada na China nos últimos dois anos em decorrência da Peste Suína clássica. Esta mortalidade de suínos, somada ao abate sanitário naquele país, desequilibrou o mercado mundial de carnes e, agora, o governo chinês tem tomado medidas efetivas para implantação de grandes estruturas produtivas de suínos com tecnologia e rígidos controles sanitários.

A visão dos analistas é de que a produção de carne suína na China, que caiu para algo entre 38 e 40 milhões de toneladas em 2020, cresça 10% ao ano nos próximos cinco anos e, para que isso ocorra, a demanda por milho deverá mais do que duplicar no mesmo período naquele país. Bom, para os produtores de milho do Brasil, é uma preocupação a mais para as integrações de suínos que deverão equacionar o custo da matéria-prima (milho), que terá cada vez mais paridade com o mercado internacional, com redução das exportações de carnes suínas para os chineses. Teremos maiores oportunidades de exportar milho e menor demanda, portanto, maiores desafios para a carne suína in natura.

Na verdade, já verificamos e veremos, de forma mais acentuada na China, a substituição da produção artesanal dos porcos criados à base de sobras de comida e lavagem por suínos com criação de sanidade controlada, ração de qualidade e produção tecnificada. Como visto, novamente existem ameaças e oportunidades e precisamos nos preparar para isso.

Agricultura Tecnológica

Acredito com todas as forças que, nos próximos cinco a dez anos, teremos mudanças ainda mais radicais na maneira de se produzir grãos das mais diversas formas e gostaria de propor a seguinte reflexão:

Se pudéssemos analisar as propriedades agrícolas, comparadas com a evolução da medicina de imagens do corpo humano, eu diria que estaríamos trilhando um caminho mais alinhado ou uma análise mais assertiva do que pode acontecer.

Na medicina de imagens, primeiro tínhamos a sensibilidade e experiência do médico como predominantes, depois, especialmente a partir da década de 1980, vieram os aparelhos de raio X, o ultrassom, as tomografias, a cintilografia e as ressonâncias magnéticas, agora inclusive com tecnologia de 3 teslas¹, que geram imagens de alta definição de órgãos, tecidos e estruturas internas do corpo. Nesta evolução, podemos dizer que os exames de imagem iniciais detectavam lesões com distâncias entre dois e cinco cm e, atualmente, podem detectar lesões abaixo de um milímetro, segundo informações do Dr. Carlos Alberto Buchpiguel, do HCor.

Pois bem, e o que impede que possamos analisar o desempenho de nossas propriedades, não mais por produção e produtividade por alqueire ou hectare, mas sim com dados precisos por m², por exemplo, onde depois pode ser projetado para 100 m² e depois 1.000 m² até que cheguemos aos nossos atuais hectares ou alqueires? Quando temos um corpo doente, normalmente é apenas uma pequena parte que está comprometida e, na fase inicial da doença, esta parte do corpo é ainda menor, por isso, o tratamento é mais efetivo e normalmente mais barato, e a mesma regra vale para a nossa propriedade: selecionando o metro quadrado mais produtivo, podemos facilmente calcular quanto seria a nossa produtividade potencial de toda área cultivada e a diferença é quanto perdemos ou deixamos de produzir em função dos mais diversos fatores que precisam ser identificados e equacionados. Portanto, precisamos agir para corrigir as causas dessas perdas e óbvio que as atuais regras econômicas de perdas para definir as aplicações de definições e/ou correções de solo pela média serão revistas.

Os nanossatélites que estão sendo desenvolvidos fornecerão imagens com alta definição das culturas que, somadas aos sensores de movimento ou identificação de pragas e doenças, determinarão que a aplicação das medidas sanitárias serão pontuais e para área específica (reboleira), onde foi identificado o problema. Portanto, o diagnóstico e tratamentos serão pontuais e nas áreas determinadas, não sendo mais necessário atuar sobre toda a cultura: menos serviço, menos produto, menor custo e menor estrago com maior potencial produtivo. Quanto ao solo, óbvio que a média também não será mais utilizada e as correções estruturais e de nutrientes serão efetivadas com diagnóstico preciso e com menor custo no exato lugar necessário.

Ao final, ganharemos todos e olharemos para trás com o sentimento de que a evolução tecnológica foi fundamental para a vida com qualidade que todos sonhamos.

Vamos pensar nisso.