Profissionais da Assistência Social e da Secretária de Saúde discutem sobre os moradores em situação de rua em Mandaguari

Na manhã desta segunda-feira (11), o secretário de assistência social, Murilo Meleiro, esteve acompanhado das profissionais, Claúdia Rodelli, da área da saúde, Maria de Lurdes, coordenadora do Creas e Aline, que também atua na área social como psicóloga, no Programa Show da Manhã da 91.3 com o Júlio César “Raspinha”, para debater sobre os moradores em situação de rua. 

 

Bom dia Murilo, seja muito bem vindo!

 

Bom dia Raspa, eu queria iniciar enaltecendo o trabalho que vem sendo feito por esses profissionais aqui do município, uma rede de assistência que está ligada com a saúde, que vem atuando de forma eficaz nesses assuntos. Eu tive a oportunidade de trabalhar com isso. Com relação à assistência social nós estamos fortalecendo os vínculos com as famílias. Nós entramos na baixa, média e alta complexidade dos casos, dependendo da gravidade dos casos nós disponibilizamos um serviço, aqui estamos com a Lurdes e a Aline, que trabalham no Creas e a Claúdia que é do Caps, e hoje queremos falar especificamente sobre os moradores que estão em condição de rua. Acontece muito em Mandaguari o serviço que a assistência toda, que engloba a saúde e a social, faz com o cidadão que opta por permanecer na rua, então esse é um fator que nós encontramos com frequência. 

 

Maria de Lurdes, tem muitos moradores nessa situação em Mandaguari? 

 

Que moram em Mandaguari, e que tem família aqui, talvez chegue à 12 pessoas. Mas que passem por Mandaguari, que nós chamamos de 'trecheiros’, tem em média 100 pessoas, pois estamos bem no meio da rota entre Jandaia e Maringá, então eles vão até o Creas, que oferta o alimento, o banho e o passe. 

 

Vocês ainda têm muitos casos de pessoas que vão até lá pedir o passe? 

 

Sim, nós ainda temos muitas pessoas que nos procuram para pedir o passe para Maringá ou Apucarana, e vale esclarecer que para quem mora em Mandaguari quem fornece o passe é o Cras, caso contrário, é o Creas quem disponibiliza. Então tem toda uma organização, nós ofertamos o passe só uma vez por mês, temos um regimento interno também para que as pessoas não fiquem indo e vindo. Agora o café e o banho nós ofertamos com mais frequência. E assim, nessa pandemia nós estamos com alguns cuidados, o uso de máscara, só entra uma pessoa por vez, estamos tomando todo o cuidado também para não aglomerar. 

 

Vocês citaram que tem em média 12 pessoas em situação de rua na cidade, e não tem o que fazer?

 

O Creas trabalha com o fortalecimento de vínculos. Quando esse vínculo já se rompeu, é muito difícil  para nós fazermos esse contato com a família. Por a pessoa viver nessa situação, por ser uma escolha devido ao alcoolismo ,e outras coisas, a família já tentou reverter isso. Nós tentamos, algumas vezes conseguimos, principalmente casos que vem de fora. 

A primeira coisa que a comunidade pergunta, e alguns profissionais da saúde também é “ e a família?”. Os familiares são os primeiros a serem procurados. Outra pergunta é “e o internamento?”, nós tentamos, mas não é uma garantia, pois ele já tem essa ligação muito forte com a rua e com essa liberdade que ele tem nesse espaço. 

 

Eu observo exatamente isso, essas pessoas aqui de Mandaguari, a maioria são pessoas de famílias que são populares da cidade. O que dá pra fazer nesse caso Aline? 

Como a Lurdes estava falando geralmente as pessoas que moram aqui tiveram esses vínculos familiares rompidos, nós tentamos enquanto Creas, pois o Creas é um serviço em situação de violação de direitos, que geralmente não tiveram  esse vínculo rompido, se o vínculo já foi rompido é um pouco mais difícil, elas tem que ir para acolhimentos se não tem como retornar para família. Então nós buscamos a família, tentamos argumentar, às vezes pedimos orientação ao Ministério Público com relação a forma que deveríamos abordar essa família, mas dificilmente – por questões de violência, drogas – a família quer essa pessoa de volta.

 

E a maioria desses casos é álcool? É droga? É os dois? O que explica? 

 

A maioria das pessoas em situação de rua são aquelas que usam substância, ou também violência, e tem uma taxa alta de desemprego, que são pessoas que não tem condições de sobreviver e vão pra rua. E a questão da internação, as pessoas acham que nós podemos internar a força. “A mas não tem escolha, está se matando, todo sujo, fica nessa situação todo sujo”, às vezes a pessoa perde a noção da estética, do auto cuidado, então urina ali mesmo, essas são situações que nós ficamos pensando “como que essa pessoa vive assim?”, mas aí tem várias questões, o rompimento de vínculos, a questão psicológica, e ‘ porque não obrigar?”, pois a pessoa é sã, ela tem o direito de escolha. Se nós fomos observar,a internação só é uma opção se a pessoa coloca em risco a vida dela e de outras pessoas, aí seria provável uma internação compulsória, caso contrário, a pessoa tem essa opção de escolha . 

 

Agora uma questão Claúdia, nós sabemos de casos de famílias que acabam internando algumas pessoas, às vezes até a força, e depois a pessoa volta pra mesma rotina, Então, como vocês lidam com esse envolvimento da família e essas eventuais internações? 

 

Essa é uma situação muito delicada, porque quando o paciente é lúcido, nós não temos como fazer essa internação compulsória, só existe quando ela oferece algum risco. Porém os moradores de rua em questão, hoje, não estão oferecendo riscos, são lúcidos, independente do estado físico, se estão enfermos, com uma saúde debilitada, dependente químico ou não, eles tem opção de escolha. A família, geralmente, o vínculo já foi rompido a muito tempo, então assim, você busca o contato com a família, ou não tem família, ou ela o abandonou, ou já fez de tudo, ou então, a própria família também tem problemas. Aqui é onde a saúde entra, nós temos o comitê de saúde mental, representado pelos órgãos públicos, então nós discutimos esses casos e tomamos as decisões de quais caminhos serão tomados. Nós nos reunimos mensalmente para falar sobre esses casos, que as pessoas acham que ninguém está nem aí. 

 

Lurdes, quer fazer alguma observação?

 

Sim, quero dizer que quando a pessoa está em situação de rua e é idosa a situação fica bem mais complicada, porque aí ele tem o direito de ser acolhido, nós fazemos uma comoção maior para arrumar uma instituição para acolhê-los, e o asilo é um deles. Tem alguns idosos que estavam em situação de rua e nós conseguimos asilar, pois eles queriam também. 

 

Aline- Algumas pessoas às vezes ligam lá no Creas para falar “Olha tem uma pessoa ali”, nós vamos, fazemos a abordagem social e verificamos o que essa pessoa está precisando, às vezes ela está com a saúde debilitada, mas não quer o encaminhamento. Quando é o contrário, e ela deseja, nós fazemos essa ligação com a saúde. 

 

Aline de que maneira a sociedade pode se envolver um pouco mais nisso, mesmo que de forma voluntária ajudar? 

 

Eu acredito, que perguntar pra pessoa mesmo o que ela está precisando, conhecer mais dessa rede, saber o que o Creas, o Cras, oferece para essas pessoas. Ter isso em mente, de que a pessoa pode negar também. É importante que a comunidade saiba também que nós temos limitações, nós temos que tomar cuidado para não fazer a higienização da cidade, nós podemos sofrer várias punições como profissionais por tentar forçar. A comunidade precisa entender que esse sistema tem uma limitação. 

 

A presença de famílias indígenas aqui na região da estação rodoviária, tem algo relacionado ao que vocês chamam de trecheiros? 

 

Na verdade o índigena é um pouco mais delicado, tem a questão do direito de pertencimento também, eles têm os direitos de permanecer ali, e isso não é do Creas, a abordagem é dever do município. O Creas é acionado quando tem alguma violência, uma violação dos direitos.