Procuram-se almas humanas
O título do texto remete a um certa redundância, o texto das férias deveria ser produzido com nuances leves, carregado de otimismo, de bom presságios, e de leveza. Entretanto, além do calor colossal que vem fazendo nas últimas semanas, há também um sombra triste e nada reconfortante que nos afeta, porque não há como ser indiferente a uma tragédia como a ocorrida no último fim de semana. Por mais que hajam discórdias ou polêmicas em torno de opiniões diferentes, não acredito que não tenha um brasileiro que sinta uma certa dor no coração ao pensar na tragédia da Mina do Feijão. A propósito, andei matutando qual seria a história da origem do nome da fatídica mina. Me fez lembrar nos pés de feijão que ajudara a plantar e a colher lá na roça quando menina. A curiosidade era tamanha que era imperioso a lida com a plantação, mesmo que por alguns minutos.
E hoje pela manhã ao ler o relato de um bombeiro me deu uma crise de choro, imaginando o trabalho árduo e valente de uma classe tão corajosa nesses tempos de tanta discórdia. E penso, que as almas humanas parecem substituídas por corpos raivosos e cheios de rancor, por que o que vale é lacre da resposta, da provocação, da discórdia, da humilhação. Como pontuou a atleta Joana Maranhão numa resposta a um internauta, após a moça ter pedido sugestões de lojas para a compra do enxoval do bebê que ela espera. E a resposta veio num tom odioso: “na casa do c*****”. Provavelmente um corpo cheio de amargura, de rancor, de raiva. Tratar o outro com afeto e educação é primeira lição que vem de casa. Tenho refletido sobre essas discussões anódinas, e decidi uma coisa. Não discuto mais por divergências religiosa, políticas ou de qualquer outra origem.
Decidi que esse ano vou encontrar tempo para a prática do Yoga, nem que seja uma vez por semana. Se bem que, como diz uma grande amiga, não consigo ver as cores que teria que enxergar nos momentos de reflexão. Acredito que me dará mais senso para fugir de vez de tudo aquilo que não valha a pena. Volto a refletir sobre o sentido da vida, sobre quem realmente somos, me vem à mente Vidas Secas, de o quanto fez sentido na minha vida essa obra recheada de sinestesia e personagens marcantes pela resiliência, pela trajetória difícil, pelas limitações, e pondero que quando as indesejadas das gentes chegar, ela não se importará com nenhuma resposta lacradora, ou se o perfume é o ou não importado, se roupa tem essa ou outra etiqueta.
É preciso que sejamos mais almas humanas. É preciso que tenhamos mais amor e reciprocidade para com o próximo, seja ele quem for. É preciso mais aceitação, mais paciência, mais respeito, mais afetos. O mundo anda carente de almas humanas, almas que tenham a consciência da nossa vulnerabilidade, da nossa limitação, da nossa insignificância, da nossa fragilidade. Não há ninguém que possa fazer algo por nós, a não ser nós mesmos. Dias atrás, ao postar uma mensagem de condolências, li algo do tipo: cuide de nós aí de cima. Penso que o mínimo que podemos desejar a quem parte, é que a alma dela descanse em paz. Que tenha um caminho de luz, afinal, ninguém permanece por aqui, todos partiremos, e essa partida dever ser em paz, com energias positivas pelo que a pessoa foi aqui na Terra.
Quando falo almas humanas penso no personagem Fabiano, do livro já citado. Apesar de todas as dificuldades, trazia consigo uma calma, uma aceitação, que a princípio parece comodismo, mas ao conhecer o personagem, percebemos qual o sentido de ser quem ele é. Graciliano nos diz: ei, deixa de ser besta, você não é melhor que ninguém, apenas mais um nesse mundo. Trata de fazer a sua parte, deixa de ser besta mais uma vez, deixa o orgulho e arrogância de lado. Cuide do que realmente importa.