“O rico e o pobre”

O título simples do artigo denota exatamente o sentido das expressões. A palavra pobre, remete à falta de algo, a escassez, a miséria, a fome, enfim todas com conotações negativas. Entretanto, há fartura em muitas mesas ricas, e pobreza nas atitudes.

Sou pobre quando nego um olhar sensível a quem clama por afeto. Sou pobre quando nego um abraço a quem está carente. Sou extremamente pobre quando deixo de dar atenção a quem passa por ruim momento difícil, e não dispenso alguns minutos àquela pessoa. Sou pobre quando não olho o outro porque o dia está corrido. Sou pobre quando não percebo o dia ensolarado que me energiza e dá vitalidade.

Sou pobre quando acredito que a perspectiva da janela de um carro substitua o prazer de olhar e perceber fora dele o mundo a minha volta. Sou pobre quando não consigo enxergar o valor das coisas simples, que custam pouco, que tornam a vida uma aventura gostosa. Gosto da palavra gostosa, tem uma sonoridade leve, sem exageros.

Hoje, muitas pessoas acreditam pertenceram à classe dos ricos. Tenho pena. Lamento informar que o rico de verdade possui características ímpares, enxerga além do que os olhos mostram, e não se trata apenas de conta bancária, mas de atitudes.

Quando penso no outro, quando me coloco no lugar de quem passa por alguma dificuldade, quando estendo a mão, quando faço uma visita e levo algo simples a quem está acamado, quando mando uma mensagem bacana, quando sorrio para alguém desconhecido na rua, quando trato o outro com carinho, seja aquele quem interpela na frente do mercado, seja aquele que entra num carro que ainda cheira novo e custou mais que três dígitos. Sou rica quando sinto que além de mim há mais pessoas no mundo.

Semanas atrás – antes do isolamento social – estive num shopping em Londrina, entrei numa loja de cosméticos, em busca de um hidratante, porque um bom hidratante faz nosso dia muito mais gostoso, e é claro, pra que eu possa comprá-lo, necessito de muitas horas de luta. Porque não há conquistas sem lutas e coisas novas e boas custam caro.

Não se trata de fazer apologia a nenhum tipo de contemplação. Nada cai do céu, além de chuva gelada, e padres malucos. A moça que me atendera na loja, me responde, depois do meu questionamento sobre os hidratantes da marca, que ali eram só produtos franceses, eu retruquei que conhecia a marca, queria saber dos lançamentos.

A jovem, com rosto claro e redondo, forte nas atitudes e de tamanho, volta a responder que os produtos da marca eram franceses. Como ando fazendo a linha fina e polida, me virei e saí da loja. Enfim, podia ter dito a ela que usava chinelos porque saíra da manicure cedo, e o meu estava bem cuidadinho, mas que eu podia comprar o hidratante. Mas a maturidade me fez tomar a melhor decisão, certamente a vida mostrará à moça que as aparências enganam, e nem sempre quem usa salto está disposta a comprar um pote de creme.

Rico é aquela pessoa que entende a expressão “daqui nada levamos”, e também aquela pessoa que enxerga além das roupas e da aparência de cada um, é aquela que sabe que podemos ter muitos cifrões no banco e não saber o que significa a palavra altruísmo, ou empatia, ou respeito. Quando respeito escolhas, mostro justamente que não escolho por ninguém, cada qual faz as suas, não posso afirmar que sou contra qualquer tipo de escolha individual, seja ela por relacionamentos, por religião, por partido. Meto o pitaco nas minhas roupas, nas minhas escolhas, nas minhas opções. Porque quando aponto o indicador, se voltam quatro dedinhos para minha pessoa. Sejam eles ricos ou pobres.