“Mandaguari à distância”

Há quase 20 anos eu deixava Mandaguari para morar e trabalhar em Guarapuava. Um município nem tão longe assim, mas diferente da terra onde nasci. Quando se fica por anos longe de onde se viveu há uma sensação curiosa quando retornamos. No início parece que já não conhecemos todas as pessoas, crianças tornaram-se adultos, novos rostos e muitos desconhecidos. Conseguimos notar até mesmo que as árvores cresceram. A própria cidade muda. Lojas novas são inauguradas, antigos estabelecimentos fechados, terrenos vazios ocupados. Enquanto isso, construímos uma nova vida em outra cidade, que também se torna nossa. Assim, o amor pelo local onde nascemos e crescemos passa a ser dividido com o apego ao novo lugar.

Como mandaguariense, imagino, que quase ninguém deixe Mandaguari por conta de não amar a nossa cidade. Mesmo quem viveu nas primeiras décadas do município traz uma lembrança agradável. Mandaguari sempre foi um lugar que, apesar de todos os seus problemas, cativa as pessoas que passam a viver nesse espaço. Assim como os migrantes, quem sai de Mandaguari o faz, na sua maioria, em busca de trabalho, como oportunidades profissionais na carreira. Mas ao sair, sempre leva consigo um pouco da sua terra, nos hábitos, na linguagem e até no consumo. Buscamos aquele pão que só encontrávamos em uma determinada padaria da cidade ou o doce que não existe em outro lugar. A vida cotidiana e o universo de sensações das memórias se mesclam, onde o simbólico e o prático se unem.

Fora de Mandaguari, criamos hábitos novos e até nos acostumamos a viver sem algo que tínhamos antes. Mas a nostalgia é sempre presente. As lembranças ressurgem nos cheiros e nos sabores. Tempo e espaço marcam a saudade do lugar em que vivemos de tal forma que mesmo quando retornamos para visitar o município buscamos resgatar detalhes da época em que vivíamos ali, procurando familiares, amigos e conhecidos. Tentamos identificar pessoas, lembrar de como era cada esquina. Mas a vida seguiu enquanto estávamos longe, a cidade se transformou e as pessoas também não são exatamente as mesmas.

Porém, a tecnologia e a internet nos permitem acompanhar de Mandaguari à distância. O contato virtual, ainda que não seja suficiente, traz não apenas notícias e informações, mas possibilita conhecer um pouco dessa “nova” Mandaguari, dos nossos personagens, das histórias que ainda não conhecemos. Viver Mandaguari à distância é como reconstruir a nossa relação com a cidade a partir de uma perspectiva de redescoberta dos sentidos e dos significados.

*Sergio Fajardo é Doutor em Geografia pela Unesp, Professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Unicentro em Guarapuava (PR). É autor dos livros “Territorialidades Corporativas no Rural Paranaense”, “Cooperativas Agropecuárias no Complexo Agroindustrial” e Cooperativismo e Contradições”, além de vários artigos nas áreas de Geografia Econômica e Agrária.