“Febre” de bike: Com restrições em outros esportes por conta da pandemia e alta no preço dos combustíveis, ciclismo ganha cada vez mais adeptos

Com a alta dos combustíveis muitas pessoas tiveram que migrar para um caminho mais fácil e barato, a bicicleta. Com isso vemos um crescente número de pessoas usando nas ruas, reflexo do aumento expressivo nas vendas. A pandemia foi outro fator que fez com que a circulação das “magrelas” aumentasse e muito.

O futebol ficou proibido, assim como outros esportes que tinha contato físico, acho que o único esporte que não teve restrição foi o ciclismo e por isso aqueceu o esporte e as vendas”, explica Márcio Augusto Copele do grupo de ciclismo Amigos do Pedal de Mandaguari.

Márcio pedala há nove anos e foi um dos primeiros integrantes do grupo. Para ele foi muito bom ter tomado essa iniciativa em sua vida já que mudou totalmente sua cultura e qualidade de vida. Para ele, uma das melhores partes de pedalar em grupo é fazer amigos e o sentimento de união e ajuda que paira no grupo.

Além de esporte, o pedal auxilia na saúde, como conta o ciclista Antônio Flor da Silva. “Tem o caso de um casal de ciclistas que tem colesterol e pressão alta e eles tomam muitos remédios, quando eles começaram a pedalar esses problemas abaixaram e diminuíram, quando eles foram no médico novamente ele disse que eles estavam bem melhor e que não precisava ficar tomando um monte de remédios. Esse é um fato de que o ciclismo ajuda na sua vida e é bom para tudo”.

Antônio pratica o esporte há mais de um ano e três meses e reforça o quanto aquilo é importante não só para a saúde mas também para lazer e também a usa como meio de transporte. A qualidade de vida melhorou e ajudou a amenizar problemas do dia-a-dia, além dele conhecer vários pontos turísticos da cidade.

Outra opção também é pedalar por turismo e conhecer pontos como rios, cachoeiras e florestas. Givanildo Alexandre da Silva pedala há vinte anos e prefere pedalar em áreas rurais no meio da natureza. Ele faz parte do grupo MandaBike. “O ciclismo veio para somar na minha vida, além de conseguir manter uma boa forma física, também ajuda na saúde mental que é fundamental, ajuda também a formar amizades. Principalmente agora na pandemia que a atividade física foi comprovada ser muito importante para aumentar a imunidade. A partir de quando você começa a pedalar você vai testando seus limites, você se motiva a continuar.”, diz ele.

Além disso, uma coisa que prevalece em todos os grupos de ciclismo em Mandaguari é o sentimento de companheirismo e união. Em todos eles há uma união de ciclistas em todas as pedaladas em que vão e mesmo que a pessoa seja iniciante no esporte ela sempre é bem recebida, além de não deixarem ninguém para trás caso alguém não consiga concluir o trajeto.

Dia de sábado é pedal em estradas rurais, o que requer um pouco mais de treino, porém, nunca ninguém fica para trás, um ajuda o outro, empurra na subida se for necessário, ajuda a remendar pneu, trocar câmara de ar, mesmo não se conhecendo, quando está no pedal todos viram amigos e se ajudam”, conta Antônio Carlos Manchini Xavier, que sempre pedalou, seja como meio de transporte ou esporte.

Antes de começar a praticar o ciclismo como esporte, ele confessa que não gostava de ter de pedalar nos lugares. “No começo, utilizava ela como meio de transporte, e assumo que não gostava de ter que pedalar, para ir para escola ou a algum lugar. Porém, depois de um tempo, há uns 4 ou 5 anos atrás, um amigo meu que já pedalava, me chamou para pedalar numa estrada rural e foi então que comecei a pegar gosto.”, diz.

Para todos eles os benefícios do esporte são os mesmos, mas em cada um há um toque especial que os fazem continuarem. “O esporte me ajudou a ser mais paciente, persistente, mais feliz e de bem com a vida. Além dos benefícios na saúde física, o que realmente fez eu me prender no esporte, é a paz que traz para mente, os novos lugares e pessoas que conhecemos, a sensação de dever cumprido quando termina um pedal, ou conseguir terminar uma subida puxada. Porém, os valores que construímos sendo ciclistas levamos para a vida como o respeito, companheirismo, equidade e perseverança.”, conclui.

Esses bons sentimentos que o ciclismo proporciona é apenas um dos benefícios de usar a bicicleta em seu favor, e os testemunhos não param por aí. “Eu tenho várias testemunhas de pessoas que mudaram sua vida por causa do pedal e de vários casais que foram para se renovar e também vai com a família toda, nosso grupo é bem família. Temos um senhor lá com mais de 70 anos que anda com a esposa e é muito bonito de ver”, conta Edvaldo da Mata Ribeiro.

Edvaldo pedala há cinco anos e é um dos fundadores do grupo Abelhas Bike e tudo começou com um grupo de amigos. “Começou com um grupo de amigos, Amigos do Pedal, como um esporte, mas como eu era iniciante eu não conseguia acompanhar. Então eu chamei um amigo meu para formar um grupo de ciclismo e hoje se tornou um grupo grande. Hoje qualquer um pode pedalar conosco, seja iniciante, intermediário ou avançado.”, diz.

Apesar de termos vários grupos de ciclismo na cidade todos eles têm em comum o jeito e os horários em que praticam, alguns mais durante a semana, outros mais nos fins de semana, alguns dentro da cidade e outros nas áreas rurais. “Nós pedalamos nas terças e quintas-feira dentro da cidade, que recomendamos para os iniciantes e também para todos que queiram participar para incentivar o povo para um passeio, e no fim de semana nas zonas rurais, onde é um pouco mais difícil e puxado e que recomendamos para os mais avançados no esporte. Geralmente andamos 20km em passeios na cidade e quando é na zona rural é mais ou menos uns 30 à 40km”, explica.

Venda de bicicletas quase duplica durante a pandemia em Mandaguari

Durante a pandemia o mercado de bicicletas ficou aquecido no mundo todo, em Mandaguari as vendas quase duplicaram em comparação a anos anteriores. Apesar do preço ter subido também, devido a alta do dólar, o mercado continua aquecido pois as pessoas procuraram por um meio para irem ao ar livre e praticarem alguma atividade física.

Durante a pandemia foi uma surpresa porque na realidade a gente esperava uma estagnação porque estava uma incerteza muito grande, porém as pessoas estavam comparando bicicletas para praticar esportes e lazer, porque elas já estavam a muito tempo presas dentro de casa. Uma das únicas alternativas para sair de casa um pouco é a bicicleta porque ela podia pedalar ao ar livre e levar a família junto. Por isso teve um incremento muito grande na venda de bicicletas, e posso falar assim que dobrou as vendas nesses um ano e meio”, conta Evanir Stadler da Bicicletaria Ideal.

Evanir é dono de uma das maiores e mais antigas bicicletarias do Paraná, o negócio é de família e desde pequeno era muito ligado à bicicleta. Somente a loja em Mandaguari tem 74 anos. Ele ajudou a criar o grupo de ciclismo MandaBike e pedala todos os domingos.

Durante a pandemia houve um aumento muito grande de vendas, praticamente dobrou, não só aqui em Mandaguari e no Paraná, foi no mundo inteiro. Tanto que trouxe uma escassez de peças de bicicleta porque o mundo inteiro estava necessitando delas buscando essa alternativa e as fábricas não estavam dando conta de fabricar tudo. Houve falta de mercadoria, mas mesmo assim vendemos muito. No começo desse ano já houve uma estabilizada, um equilíbrio, como era antes. Com o avanço da vacinação e a liberação de espaços públicos como academia as pessoas deixaram um pouco de lado a bicicleta. No primeiro ano, a partir de abril e maio porque já faziam mais de 90 dias que as pessoas estavam trancadas dentro de casa e restritas aos espaços públicos. No ano passado foi um estouro de vendas de maio até dezembro”, conta ele como foi o processo de vendas durante a pandemia.

Reportagem publicada na 371ª edição do Jornal Agora