O 2021 de uma campeã

Emanuelle Victória Sa de Araujo deu uma entrevista a equipe do Jornal Agora e falou como foi seu desempenho e o balanço de seu ano na natação durante a pandemia da Covid-19. Ela teve que enfrentar muitos desafios para poder continuar treinando e praticando o esporte que ama, natação.

Com apenas 14 anos de idade, a mandaguariense já é campeã brasileira nos 200 metros medley e 100 metros livres, além de ser vice-campeã nos 50 metros livres e 50 bordo, sua categoria. Além disso, em novembro ela conquistou quatro medalhas, duas de ouro e duas de prata, nas Paralimpíadas Escolares do Brasil. E também se tornou uma atleta paralímpica e bolsista do programa Geração Olímpica. Com isso, foi selecionada para participar do camping escolar, um intensivo de treinamento onde os melhores atletas e técnicos do Paraná se reúnem e trocam conhecimentos e experiências.

Apesar disso, Manu enfrentou e ainda enfrenta muitos problemas para continuar treinando e competindo no esporte, com dificuldades intensificadas pela pandemia. No começo de 2020 tudo ficou parado, não aconteceram mais campeonatos e outras provas, os lugares de treino fecharam impossibilitando assim que ela treinasse. “Foi bem complicado porque eu parei de nadar e ficava só em casa, não tinha nada para fazer e a natação era minha motivação. Em 2021 foi bem mais fácil, porque fui me ajeitando e por causa da pandemia não pude treinar em Maringá, que é onde eu sempre treino, e comecei a treinar na Aqua Hidro em Mandaguari. Eles equiparam e cederam um espaço para que eu pudesse treinar lá”, conta Manu.

Outro problema que ela também enfrentou e ainda enfrenta é a falta de condução para reinar em Maringá, pois não há um transporte específico para ela e outros atletas paralímpicos. “Nós pegamos a circular para ir e eles só aceitam um cadeirante no ônibus e muitas vezes já tem um e por isso não consigo ir. Não temos um transporte específico, o município não dá e também tem outros atletas que fazem, mas tem muita dificuldade para ir e todas as vezes combinamos de cada um ir em um horário para não atrapalhar o outro e mesmo assim às vezes não dá certo porque o lugar já está ocupado por outra pessoa”, relata.

Com as dificuldades, Manu precisou reduzir drasticamente seus treinos. “Antes da pandemia eu fazia umas quatro a cinco horas diárias e depois cortou pela metade praticamente”, detalha.

Apesar de todos os desafios, continuou lutando e se esforçando para continuar vivendo seu sonho, e voltou a participar de campeonatos presenciais assim que foram retomados, em meados deste ano.

Manu conta também que não recebe incentivo do poder público, porém conta com apoio de empresários de Mandaguari e região, que acreditam em seu potencial. “Nos ajudam com academia, nutricionista, fisioterapeuta e outros profissionais. Em campeonatos grandes o Sicredi Agroempresarial PR/SP patrocina. Temos também a piscina de Maringá e uma imobiliária que apadrinhou ela pagando a piscina de Maringá”, conta Regina, mãe de Manu.

Daqui para frente, com o fim das restrições contra a Covid-19, Manu tem planos para o futuro e conta seus objetivos a serem alcançados: “Um dos meus objetivos com isso também é melhorar minha qualidade de vida, não precisar mais fazer cirurgias e ficar cada vez melhor. Eu quero continuar treinando bastante, aumentar as cargas de treino e ir para campeonatos maiores, quero ir para campeonatos internacionais e também ir para as Olimpíadas, ser uma atleta internacional”.

Manu também quer agradecer a todos que apoiaram e a ajudaram a chegar até aqui e que a união faz a força “(…) não foi fácil e por isso quero dividir minhas medalhas com todos que me ajudaram a chegar até aqui, se não fosse com ajuda eu nem estaria aqui”, finaliza.

HISTÓRICO – A atual campeã brasileira de natação dos jogos escolares, Emanuelle Victória Sá de Araújo é paraplégica e nasceu com mielomeningocele, que é uma má-formação na coluna vertebral, na medula espinhal e no canal da medula, que ocorre nas primeiras semanas da gestação. Quando grávida de Manu, a mãe da jovem, Regina Celia de Sa, ouviu de seus médicos que sua filha não nasceria ou que sofreria grandes males graças à hidrocefalia. Emanuelle superou as expectativas da ciência e veio a este mundo quebrando paradigmas e recordes. As condições de nascimento de Manu fizeram com que ela ficasse até os 10 anos corrigindo a má formação com que ela nasceu, a natação foi o principal fator que fez com que, atualmente, Emanuelle possa se locomover com um andador e conquistar medalhas de ouro pelo Brasil afora.

Ao recorrer à Maringá, a família encontrou um treinador, particular, que na época atendia apenas a sua irmã, que também é deficiente. Depois que ele tomou conhecimento da história e do quadro de Emanuelle, ele aceitou treiná-la e ajudá-la a alimentar essa nova vida que se construía braçadas após braçadas.

No mesmo ano em que iniciou os treinamentos, em 2018, Manu foi para o primeiro campeonato, os Jogos Escolares, e ganhou quatro medalhas de ouro. Logo após essas vitórias, o Estado a convocou para representar o Paraná nas Paraolimpíadas Nacionais em 2019, onde ela também ganhou quatro medalhas de ouro e ainda bateu um recorde. E assim que venceu, a jovem foi convidada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) para participar dos treinamentos para as paraolimpíadas, duas vezes ao ano junto com a Seleção Brasileira Paralímpica.

Reportagem publicada na 376ª edição do Jornal Agora