Luthier: profissão milenar

Reportagem publicada na 376ª edição do Jornal Agora

Para o filósofo chinês Confúcio, “a música produz um tipo de prazer que o ser humano não consegue viver sem”. Nesse contexto ter a oportunidade de aprender a tocar um instrumento musical pode trazer muitos benefícios além da alegria e diversão que pode dividir com as pessoas ao seu redor.

Muitos começam a tocar um instrumento influenciados por algum familiar que repassa um violão que estava encostado algum tempo.

Quando alguns desses instrumentos precisam de reparo, como uma troca de uma tarraxa, ou substituir um traste do braço de um violão, um captador de uma guitarra ou até mesmo quando o músico profissional quer algo exclusivo ou até mesmo sobre medida, todos recorrem a um luthier.

O luthier é o profissional que trabalha muitas vezes de forma artesanal e é especializado na construção e no reparo de instrumentos de cordas, com caixa de ressonância. Isto inclui o violão, violinos, violas, violoncelos, contrabaixos e todo tipo de guitarras.

O termo luthier é derivado da palavra francesa luth que significa alaúde. Já em português existem algumas palavras que também são usadas para se referir a esse profissional, como luteiro, guitarreiro e violeiro.

Pouco conhecida no Brasil, a luteria, como essa arte e técnica é chamada, é bastante antiga. Alguns registros datam que o primeiro instrumento musical e o primeiro luthier surgiram há mais de 30 mil anos. Mas a formação profissional começou a se desenvolver na Europa, na Idade Média, e atingiu o seu auge na Renascença Italiana.

No Brasil, são poucos os cursos que ensinam o ofício. O único superior na área é o Tecnólogo em Luteria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), implantado em 2009, com duração de três anos e em período integral.

Para entender um pouco mais sobre o assunto e como funciona uma das profissões mais antigas, a reportagem conversou com dois luthiers que residem em Mandaguari, Jeferson Grella Mardegan, 45 anos, que nasceu na cidade de São Paulo, mas mora em Mandaguari há mais de 30 anos, e Ezequiel Granado, 59 anos.

Ezequiel relata que aos 18 anos na Igreja Congregação Cristã no Brasil começou a estudar música, e, cerca de três meses depois, estava tocando violino. Anos depois teve a ideia de fazer o primeiro instrumento. “Desde os 12 eu já mexia com marcenaria e na época trabalhava em uma fábrica de estofados, esse conhecimento facilitou bastante”.

O primeiro violino demorou seis meses para ficar pronto. “Lógico que o primeiro não ficou bom de som, saiu um som, mas não era o que precisava”, e ainda segundo o luthier ele começou a trabalhar em outros instrumentos, foi quando começou a se preocupar em aperfeiçoar a técnica para melhorar o som dos seus violinos.

Após alguns fracassos, Granado disse que buscou conhecimento em livros, “Li muitas coisas sobre violinos, como o Stradivarius, que foi quem aperfeiçoou e principalmente o formato do instrumento”.

Depois dessa busca em livros, foi até a cidade de Tatuí no interior do estado de São Paulo, em busca do aprimoramento, onde segundo ele é um lugar com muitos luhieres e escolas. “Fui até lá em busca técnica para dar aquele som aveludado do violino”.

Desde de 1986 atuando na confecção de violinos, viola clássica e violoncelo, o artesão faz os instrumentos conforme o pedido do músico, “Geralmente eu trabalho com os modelos mais tradicionais, mas se o cliente quer um modelo especifico eu faço também”.

Questionado sobre o método de trabalho, Granado explica que após receber o pedido do instrumento,o primeiro passo é definir junto com o cliente a madeira que será usada, ainda segundo ele, tem madeiras importadas e nacionais. Em seguida começa o trabalho que é todo manual, a madeira vai sendo moldada com o formão até chegar na espessura especifica, “Em cada parte do instrumento tem uma espessura e para isso tem uma ferramenta chamada espessimetro”.

Com uma clientela bem variada Ezequiel diz que recebe pedidos de instrumentos da região, de outros estados e até mesmo de fora do Brasil, “Hoje eu tenho violino meus, nos Estados Unidos, Portugal e Espanha”, um dos fatores que ajuda a divulgação do seu trabalho são os professores de músicas que faz a indicação do luthier mandaguariense para seus alunos. Outro fator são as redes sociais que facilita o contato, “Quando o pedido não vem pelo Whatsapp vem através da minha página do Facebook, e a pessoa conversa diretamente comigo e isso facilita muito”, finaliza.

Reforma e customização

A mais de 25 anos atuando como músico e pouco mais de seis anos também trabalhando como luthier, Jeferson Grella, como ele mesmo define engatilhando na profissão. Já a relação com a música, Grella define que é de família, principalmente da parte do seu pai, que há vários anos toca na igreja. “Nós morávamos em São Paulo e lá ele já tocava na igreja, e tudo começou com uma simples afinação de instrumento. Meu pai tocava aos finais de semana e desafinava o violão, um dia ele iria ensaiar e eu pedi para afinar o violão, eu tinha uns 10 anos amis ou menos, ele disse que poderia afinar. Afinei entreguei na mão dele. Isso era um sábado e na segunda-feira ele foi comprar um violão para mim”.

Com o incentivo do pai Jeferson aprendeu os primeiros acordes, mais segundo ele faltava dedicação. Só após os 18 anos ele realmente resolveu estudar música e no início desta fase o intuito era montar uma banda, “Eu não tinha nem a pretensão de dar aula, só depois que estudei com um músico muito bom ele me incentivou a ser professor”.

Já a lutheria entrou na sua vida após headstock de uma guitarra sua quebrar, ele encomendou o trabalho de um luthier de uma cidade da região, mais o ficou mal feito, que ele decidiu aprender o oficio.

Depois de algum tempo procurando quem o ensinasse encontrou um professor na cidade de Cornélio Procópio, “Se você é músico é mais fácil, porque tem vários tipos músicos e cada um tem o seu estilo de tocar”.

No início Grella arrumava apenas seus instrumentos, mais que após o aperfeiçoamento técnico aprendeu a fazer a reforma, colagem

Jeferson se especializou na reforma, customização e conserto, principalmente de cavaquinhos, violão, viola caipira, contrabaixo e guitarra. Em relação a customização o profissional relata que faz as modificações que o cliente quer, como trocas de peças e pinturas por exemplo.

Grande parte do trabalho está concentrado na manutenção dos instrumentos, como peças que quebram o desgastam com o tempo de uso.

Na parte da construção de instrumentos, Jeferson tem duas guitarras concluídas. Uma de sete cordas que ele fez para ele próprio e uma de seis cordas feitas para um músico da região. Em ambos projetos Grella fez todo ao trabalho que foi deste do entalha da madeira a instalação das partes eletro/eletrônicas dos instrumentos.

Como Ezequiel Granado Jeferson Grella tem uma vasta gama de clientes que vem de várias cidades da região e até mesmo de localidades mais distantes, “O Whatsapp facilita muito, o cliente me manda vídeo do que está acontecendo com o instrumento, mais a avaliação final é feita aqui. Na hora eu já falo o que precisa ser feito”, conclui Jeferson.

Serviço

Para quem quiser conhecer o trabalho ou entrar em contato com dois profissionais, podem entrar em contato com Ezequiel Granado pelo número (44) 99740-9759 e com Jeferson Grella o contato é (44) 99929-3886.