Borná das Emoções

Texto e fotos por Tálita Tonolli, especial para o Jornal Agora*

O campeonato de futebol suíço do Clube dos 200 sabe, assim como a Argentina que levou a copa, que futebol se faz do povo para o povo e usa essa receita com maestria em uma cidade onde o Leão do Norte “MEC” ressoava e hoje vê no clube, rugidos tímidos recomeçando.  É comum terem inúmeros grupos de amigos e familiares acompanhando os jogos que acontecem sempre as sextas à noite, sábado à tarde e domingo, no famoso jogo da madrugada, que nem é tão cedo, mas é cedo suficiente para um domingo. Desses torcedores assíduos, o destaque desse foi sem dúvida nenhuma, o canino Thobias.  Thobias acompanhou sua equipe, Paraná Banco, durante todo o campeonato, ao lado da sua tutora Amanda Moraes. A presença dos dois em campo, demonstra o respeito dos patrocinadores e apoiadores com os atletas. E esse apoio foi compartilhado por todas as equipes.

Diferente do mundial em que a festa só acontece de 4 em 4 anos, a festa aqui é de 6 em 6 meses, com direito a família toda reunida. As finais são aguardadas não apenas pelos atletas, mas por toda uma comunidade sedenta de lazer e diversão.

A festança começa com a bola rolando e as vendas de um delicioso almoço que inclui uma costelada famosa e inúmeros acompanhamentos produzidos por uma equipe de dar inveja a qualquer chef internacional. A equipe dos comes chega cedo, coloca suas panelonas para refogar quilos de arroz, farofas e uma salada com frutas, que até quem não gosta de misturar doce com salgado vai se esbanjar. Quem comanda a equipe é a Vilma do Serginho, aliás ele também está na equipe, junto com a Simone e um batalhão de gente bonita e animada.  A comida tem sabor de domingo, família reunida, uma verdadeira “comfort food”, diriam os críticos gastronômicos. E uma informação importante, o almoço que é servido no clube, não tem disponibilidade de pratos e talheres, guardem esse aviso, porque ele abrilhanta ainda mais a festa. Todo campeonato é acompanhado de perto por avós, filhos, netos… e se desenrola na expectativa da grande final.

A grande final

Em um domingo onde o sol teimava em ficar entre as nuvens e ainda amargávamos a despedida do Brasil do mundial, uma legião de pessoas madrugou para deixar o espaço aconchegante. As mesas foram dispostas com toalhas e quem chegasse primeiro, conseguiria a mesa maior, sim, o lema é mesa grande, pois as famílias vão em 3 gerações ver seus ídolos de perto, no caso, o pai, o tio e o avô. As equipes de organização, segurança e alimentação, corriam em frenesi para deixar tudo pronto para os convidados especiais. Era quase impossível conversar tranquilamente entre os equipamentos de comunicação, mas o assunto principal era como estava tudo maravilhoso.

O clube não conta oficialmente com jogos femininos, digo que não oficialmente porque o time feminino é tão grande e tão importante quanto os dos homens. Elas, torcem, vibram, patrocinam e são tão apaixonadas pela bola quando o sexo oposto. E por causa delas, aquela informação da ausência de talheres é tão importante. Elas, digo todas, criaram uma forma bonita e criativa de dar um charme e se fazer presente na final.

Borná de Emoções

Sacola de Talheres, porta talheres, porta pratos…Foram inúmeros nomes que descobri durante o evento, mas pra mim poderia se chamar borná de emoções. É tanto carinho, empolgação, torcida envolvida que  não encontrei na literatura uma palavra que conseguisse abranger tudo em um só “pacotinho”.

Alguns são produzidos de tecido, outros de crochê, tricô; coloridos, em tons terrosos, neutros… o que vale é a criatividade e a praticidade.  Conversando com a Dona Beatriz Rodrigues, esposa do atleta duzentino Vicente Balbino, que joga na equipe da Prorelax, conta que gosta de ver os jogos e principalmente participar da final, onde pode conversar e interagir com outras famílias. Dona Beatriz, conta que seu borná foi produzido por uma amiga há muitos anos atrás, mas que cuida para sempre traze lo no evento. Outra família que se reunia para saborear os quitutes da final, foi a família do Marcelo Vieira, atleta da equipe do Posto do Boi. Marcelo foi com as filhas Rafaela e Emili, a mãe Dona Vanda e a estreante Aliandra, sua namorada que também aprovou a tradição do Borná de Emoções, pela praticidade em levar os itens. E nessa família quem preparou o borná foi o próprio atleta, supervisionado pelos olhos atentos da experiente Dona Vanda.

Outro atleta veterano que também resolveu preparar seu borná foi o Marcelino, o Carneiro, que joga na equipe Truck Forte Transportes e Ferragens Bredariol, marido da simpática Sandra Carneiro. Marcelino bem que tentou, mas bateu na trave, o borná da sua família é todo trabalhado no crochê com flores maravilhosas, mas Marcelino, ainda pouco entrosado com o ornamento, vestiu seus talheres do avesso, causando inúmeras gargalhadas a quem estava na mesa.

Katia Tavares, esposa do atleta e presidente do Clube Maguila, estava acompanhando toda movimentação de perto, com seus netos e também trouxe seu Borná. Segundo ela que acompanha eventualmente os jogos, a festa da final é um momento de união entre as famílias, onde podem brindar o ano com amigos e familiares.

E esse campo amador foi palco de grandes partidas, momentos de alegria, espaço de integração e quem sabe, até celeiro de grandes atletas. Essa forma mais popular de lazer está aqui nos 200, um acontecimento comunitário movimentando campeonatos independentes, sendo mantidos com amor e tradição, assim como o almoço que começou a ser servido ao meio dia, com as mesas cheias igual casa de vó, e que sempre cabe mais um.

*Reportagem publicada na 392ª edição do Jornal Agora