Volta da Série A2 será disputada entre sobreviventes e “clubes zumbi”

Depois da confirmação do retorno da disputa da Série A1 para o dia 22 de julho, a Federação Paulista de Futebol convocou uma reunião com os presidentes dos clubes da Série A2 para a próxima terça-feira (14) para debater a retomada.

O presidente da FPF, Reinaldo Carneiro Bastos, afirmou que a prioridade agora será elaborar os protocolos de segurança em meio à pandemia do novo coronavírus, apresentá-los ao governo de São Paulo e aguardar a liberação de uma data para a volta.

Se seguir os mesmos padrões da elite, o protocolo exigirá dos clubes testes para o novo coronavírus em elencos, comissões técnicas e funcionários do futebol. Um processo que leva tempo, consome dinheiro e pode resultar em afastamentos.

Os clubes da Série A2, que estão com as atividades paralisadas há quase quatro meses, só poderão voltar a realizar treinos presenciais depois disso. Se já foi complicado adotar esses protocolos na Série A1, dá para imaginar como será na segunda divisão.

As diretorias têm alertado para a incapacidade financeira de realizar os testes e adotar todas as regras impostas para o retorno do Campeonato Paulista. Afinal, o protocolo exige custos altos não só com testes, mas com estrutura para treinos e jogos.

Sem contar que muitas das equipes são de cidades em que os índices de contaminação e de mortes pelo novo coronavírus estão em franca ascensão. Muitas delas estão apenas com os serviços essenciais em funcionamento, com todo o restante fechado.

É um desafio e tanto retomar a Série A2 e, mais ainda, prever como voltarão os clubes. Faltam três rodadas para a conclusão da primeira fase e, portanto, para a definição dos oito times que continuam vivos na luta pelo acesso à elite paulista.

Alguns dos integrantes do G8 tiveram mudanças consideráveis. Os contratos da maior parte dos elencos terminaram em abril. O vice-líder Taubaté fez um acordo, parcelando os salários de março e abril e se comprometendo a quitar tudo no retorno.

O Juventus e a Portuguesa Santista dispensaram todos e agora, com a perspectiva de uma retomada da Série A2, estão tentando recontratar os atletas. No caso da Briosa, a comissão técnica foi trocada: saiu Sérgio Guedes e chegou Elder Campos.

O Monte Azul perdeu mais de 15 jogadores, incluindo o artilheiro Marcos Paulo, e alega não conseguir fazer qualquer acordo sem uma projeção de retorno. Não há caixa. Já o XV de Piracicaba foi um dos poucos a manter o time-base treinando em casa.

A estrutura foi mantida, mas recentemente a diretoria anunciou a demissão do técnico Tarcísio Pugliese. Ninguém esconde que o lado financeiro está pesando. A Portuguesa tem tentado segurar ao máximo o elenco e manter os salários em dia.

A Lusa fez uma readequação salarial, manteve a estrutura do elenco e ainda trouxe reforços. O técnico Fernando Marchiori ficou. A diretoria aposta que a quebradeira Série A2 afora pode ajudar o clube a conquistar o acesso no ano do centenário.

O próprio São Bento, primeiro fora do G8, está em crise e em um impasse. O clube disputa a Série C, cuja verba ajudou a manter parte do time com salário reduzido, mas pode ter de priorizar uma ou outra competição na sequência da temporada.

Sertãozinho, Penapolense e Votuporanguense chegaram a cogitar nem voltar a campo. No entanto, após ameaças de punição da FPF, recuaram e devem apostar na base. O Sertãozinho, por exemplo, está sendo processado por atrasos de salários.

A reclamação geral é de que a Federação Paulista de Futebol não prestou qualquer auxílio financeiro aos clubes que, em grande parte, não têm calendário nacional a disputar. Ou seja, com portões fechados e sem bola rolando, não há dinheiro em caixa.

Fato é que a Série A2, caso realmente volte, será uma competição totalmente diferente. Se todos os clubes conseguirem cumprir os protocolos e colocar os times em campo, já será uma vitória. A disputa será entre sobreviventes e espécies de “clubes zumbi”.