Promessa do wrestling se divide entre treinos e barraca de brinquedos no Rio

As crianças que passam pela Quinta da Boa Vista rumo ao Zoológico do Rio de Janeiro aos fins de semana não têm ideia que, numa das muitas barracas de brinquedos em que insistem que seus pais parem no caminho, está uma fera em pele de humano. Matheus Barreto, menino de 18 anos, magrinho, mirrado, parece apenas um inofensivo vendedor oferecendo bonecos, bolas, bichos de pelúcia. Mas quando pisa no tapete olímpico, se torna um leão tão destemido quanto o rei da floresta.

Matheus é uma das principais promessas da seleção brasileira de wrestling, que embarca nesta quinta-feira rumo a Oaxtepec, no México, para a disputa do Pan-Americano Cadete e Júnior do esporte. Ele sustenta seu sonho de viver de esporte ajudando seus pais na barraca de brinquedos, localizada pouco antes da entrada do Zoológico, aos fins de semana.

– O dinheiro que eu tiro aqui aos fins de semana me ajuda a me manter durante a semana, a ir para os treinos. Compro uma sapatilha, compro acessórios pra mim. Alimentação, roupa de treino também – contou o jovem lutador.

Durante a semana, Matheus Barreto treina duas vezes por dia, às vezes até três, na academia Nova União, com o treinador Daniel Piratiev, ex-seleção brasileira. Lá, ele não só pratica, como puxa as atividades para outros atletas da seleção e lutadores de MMA, incluindo gente com passagem pelo UFC como Léo Santos, Matheus Nicolau e Luana Pinheiro.

Atleta do estilo livre, Barreto foi campeão e Atleta Destaque da seletiva nacional, disputada em Rio Bonito-RJ, em maio. Lutando na categoria Júnior, até 57kg, venceu rapazes até dois anos mais velhos. Na decisão, bateu Bryan Lucas, que tem experiência na seleção principal e é outra grande promessa da modalidade.

– Eu costumo dizer que aprender a lutar, qualquer pessoa aprende. O coração, a gente nasce com ele. Não tem como eu tirar o coração do meu peito e colocar no peito do Matheuzinho, não. Ele já nasceu com isso – afirma o treinador Piratiev.

Agora, o menino vendedor de brinquedos parte em sua primeira viagem internacional, levando seus sonhos na bagagem. A mãe, dona Vera, e o irmão, Amilar, vão cuidar da barraca e assistir ao vivo pelo celular, como fizeram na seletiva nacional.

– A gente teve que ver daqui pelo celular, pela live que teve… Foi emocionante. Na reta final mesmo, na última luta, a gente meio que largou a barraca e só ficou assistindo (risos). Agora é rumo ao México – diz Amilar