Eisner Awards | Mulheres levam maioria dos prêmios na edição 2020

Ebony Flowers, Emil Ferris, Diane Noomin, Kamome Shiharama, Emma Rios, Erica Eng, Qiana Whitted, Nnedi Okorafor, Tana Ford e Tillie Walden, Mariko Tamaki, Rosemary Valero-O’Connell, Colleen Doran, G. Willow Wilson e Harmony Becker. Dois para Raina Telgemeier e dois para Lynda Barry. Um troféu para o site Women Write About Comics (Mulheres escrevem sobre gibi) e outro para a antologia Drawing Power, de contos femininos sobre abuso e assédio sexual. E quatro novas componentes no quadro de honra.

Entre 31 categorias, 17 prêmios do Prêmio Eisner 2020 ficaram com mulheres. Outros três foram divididos entre duplas autor/autora. Dos oito novos integrantes no Hall of Fame, quatro são autoras: Nell Brinkley, Alison Bechdel, Louise Simonson, Maggie Thompson.

É uma tendência que já se via há alguns anos no Eisner. O número de indicadas vinha aumentando pelo menos desde 2016. Mas o número de premiadas nunca tinha superado o de premiados. O jogo virou.

Meu preferido é o mesmo da maioria. Laura Dean Keeps Breaking Up With Me, de Mariko Tamaki e Rosemary Valero-O’Connell, acabou virando a HQ mais lembrada da noite, com os prêmios de Melhor Publicação para Adolescentes, Melhor Escritora e Melhor Desenhista/Arte-finalista. Já tem editora no Brasil e torço que todo mundo leia em breve.

BILQUIS

O ano do Eisner foi das mulheres, mas, infelizmente, não foi de uma brasileira. Bilquis Evely concorria tanto nas categorias Melhor Artista quanto Melhor Série, ambas por Universo Sandman: O Sonhar. As duas ficaram com outros colegas. Por enquanto.

As duas indicações, porém, foram um grande reconhecimento. Ela já tinha se destacado na série da Mulher-Maravilha, mas O Sonhar foi um salto.

“Foi o projeto onde pude me soltar mais, não só em questão criativa, mas também, aprender a deixar meu traço mais orgânico e fluido”, ela disse.

“Foi também o meu trabalho mais longo, dois anos. Isso me trouxe maturidade em várias outras questões. Por exemplo, como lidar com todos os altos e baixos criativos, me sentir confortável sem me acomodar, como não me repetir.”

Embora Bilquis mostre maturidade artística desde o início de O Sonhar, a desenhista cresceu exponencialmente ao longo da série. Na última edição, publicada este ano, investiu até numa página quádrupla.

DEZ ANOS ATRÁS…

Evely mora em São Paulo e completou 30 anos recentemente. A recém fez dez anos de profissional nos quadrinhos, em dezembro, sendo sete no mercado norte-americano. Seu primeiro trabalho? Luluzinha Teen e sua Turma, a versão adolescente da personagem clássica, produzida no Brasil.

“Muitas pessoas acham que apareci em títulos de destaque do nada, mas não foi assim. Comecei com pequenos passos, aproveitando as oportunidades para aprender, desenvolver meu estilo e minha sensibilidade narrativa. Comecei a trabalhar na DC quando estava me sentindo um pouco mais experiente profissionalmente e ciente do meu ritmo de trabalho. Isso ajuda muito. Depois desse processo de autoconhecimento, no sentido de saber quais são os meus gostos, ou qual o estilo que funciona melhor para mim, eu sempre busquei trabalhos que combinassem comigo. Quanto mais próximo disso, melhor eu vou me sair.”

Apesar de toda a expectativa criada em cima de uma eventual vitória no Eisner, a artista reagiu com tranquilidade ao resultado.

“Trabalhar com quadrinhos é maravilhoso e, para mim, é realmente tudo isso que a gente sonha quando estamos começando nos estudos ou na carreira. Mas também é um trabalho que exige muito da gente, da nossa mente, do nosso tempo e da nossa vida. E acho que a maior parte dos artistas se pressionam muito, às vezes. Tem aquele vai em vem entre pico de criatividade e momentos quando a mente está bem árida. Então ser reconhecida pela editora, pelos colegas e leitores. Quando pessoas apontam pra você e dizem que está no caminho certo, é bastante revigorante. Ajuda muito. Então depois de dois anos de trabalho duro, receber essa indicação dentre artistas tão bons e inspiradores, é um excelente incentivo pra continuar dando o meu melhor e buscando sempre evolução.”

Quanto ao próximo trabalho, ela ainda não pode contar. “Apenas digo que a Bilquis de dez anos atrás ficaria muito feliz em saber.”