Vida de prefeito

Eleito em 2012 e reeleito em 2016, o prefeito Romualdo Batista participava de uma reunião de despacho com um secretário municipal semanas atrás, quando uma ligação interrompeu a conversa.
Do outro lado da linha, uma moradora pedindo sua intervenção para um fato no mínimo pitoresco. “Batistão, eu tive um problema e preciso da sua ajuda. Eu crio umas galinhas aqui no fundo de casa, e o meu galo canta todos os dias ao amanhecer, e minha vizinha fica brava porque espanta os cachorros da casa dela”, relatou.
Ao que emendou um pedido: “ela falou que iria pedir para os fiscais da prefeitura me multar. Não deixa não, fala com eles”, apelou. Pode parecer raro, mas situações como essa são mais comuns do que se possa imaginar.
Confrontado com a história, o prefeito sorri: “São situações com as quais nos deparamos, mas está tudo bem, a gente vai levando”, garante.

Banheiro de cachorro
Outro fator que faz o telefone do prefeito tocar com frequência são os conflitos por causa de cachorros. Perguntado sobre uma delas, Batistão solta uma gargalhada ao lembrar a seguinte passagem:
“Uma moradora ligou brava porque ela tem um gramado na calçada na residência dela, e várias pessoas passam pelo local andando com cachorros, e eles adoram ‘fazer cocô’ naquele espaço”, relata.
O que poderia ser feito seria uma lei municipal para regulamentar tal atividade, mas quem iria fiscalizar? Seria mais uma dessas leis feitas para “não pegar”. O chefe do executivo segue a mesma linha. “Ainda tento mediar e acalmar a pessoa, mas não há nada que possa fazer”.

Quero dormir
A verdade é que ser prefeito é também atuar como psicólogo, ouvir e absorver situações como a de um morador que reclama ser acordado quase diariamente por um produtor que liga seu veículo ainda antes de amanhecer para sair vender frutas.
O reclame é porque o veículo fica vários minutos funcionando antes de o trabalhador sair, o que atrapalha o sono dos moradores da residência. “O que posso fazer? No máximo, ligar para a pessoa e pedir para ficar menos tempo com o veículo ligado”, indaga.
Há uma gama de temas que fazem o celular do prefeito ser acionado, ou mesmo sua campainha ser tocada em sua residência. Vão desde fatos pitorescos, até situações que estão verdadeiramente na alçada da Prefeitura Municipal.
O salário não é ruim, o risco de processos por erros alheios à sua vontade é cada vez maior, há glamour, mas há riscos, e também vizinhos que querem o prefeito entre os muros decidindo quem está certo e quem está errado.