Uma nova chance para um filme perdido no tempo

Na década de 1990, o mandaguariense Jeange Clay Neves dava seus primeiros passos como produtor audiovisual. Ainda enquanto trabalhava em uma madeireira, e após sofrer com uma situação de doença, comprou uma câmera filmadora, que algum tempo depois viraria seu meio de vida, onde expressa sua visão artística e de onde tira seu sustento.

O ano é 1999, e Jeange Clay decide dar início a um projeto de conscientização sobre o uso de drogas e o impacto negativo que os entorpecentes causa na sociedade. “Eu queria fazer alguma coisa diferente”, relata o produtor em entrevista ao Portal Agora. Com isso em mente, ele fez um estudo de campo, manteve contatos, escreveu um roteiro e deu início ao projeto do filme “Uma nova chance”.

Um trabalho ambicioso, que contou com a participação voluntária de mandaguarienses apaixonados por cinema. Ainda na fase inicial, Jeange Clay procurou a Polícia Militar, que prontamente topou participar das gravações. “Criei a história, fui atrás da PM, mostrei o projeto e eles ficaram emocionados”. O produtor também entrou em contato com o poder público à época, para viabilizar a gravação em algumas ruas e pontos da cidade.

Os esforços de todos os envolvidos resultaram em mais de 40 horas de materiais gravados, para um filme que teria 1h40 de duração. Teria. Ainda durante o trabalho de edição, quando Neves finalizava o material, uma queda de energia resultou na perda dos arquivos, engavetando um sonho.

“Estava fazendo a parte sonora, tirando barulhos e alguma fala que escapava e não podia, e aí um dia começou um tempo ruim de chuva. Muitos relâmpagos, começou a piscar a energia. O computador era simples na quela época. Numa dessas quedas, travou o HD e eu perdi todo o material pronto. Foi uma frustração muito grande”, relata.

O produtor conta ainda que a frustração persistiu por muito tempo, já que os participantes do filme volta e meia questionavam sobre o produto final, quando o encontravam na rua. Os anos foram passando e, com as novas tecnologias, Jeange Clay conseguiu recuperar alguns fragmentos das filmagens. Até que certo dia um amigo iria promover um evento em Mandaguari, ficou sabendo da produção e pediu um clipe. O material foi enviado a poucas pessoas, e o produtor se deparou com os vídeos recentemente circulando em redes sociais.

Trecho do filme que viralizou em redes sociais. Jeange Clay esclarece que nenhum dos voluntários é ou era usuário de drogas, e que nenhum tipo de droga lícita ou ilícita foi usada nas filmagens. O objetivo da obra é única e exclusivamente fazer uma conscientização sobre o impacto do uso de entorpecentes na sociedade.

A partir daí, Neves recebeu dezenas e dezenas de mensagens e solicitações de amizade, de pessoas que participaram das filmagens e queriam relembrar a época. Agora, com os trechos repercutindo pela internet, Jeange Clay não descarta a possibilidade de reeditar o material que conseguiu recuperar. “Eu tenho vontade de resgatar esse material todo, não sei como eles estão. Eu queria resgatá-los e tentar reeditar de uma maneira um pouco mais enxuta”, afirma.

24 anos depois da produção original, e com mais experiência na produção audiovisual, a ideia do mandaguariense seria chamar participantes do filme e mostrar um desfecho da história de cada personagem. Quem sabe no futuro, com a combinação de uma série de fatores contribuindo para a retomada do projeto, o filme seja finalizado. Uma nova chance, para um filme que infelizmente ficou perdido no tempo.

Entrevista em vídeo

A convite do Portal Agora, Jeange Clay Neves concedeu entrevista na manhã desta segunda-feira (30). Confira o vídeo completo: