Um vilarejo que virou metrópole

Pense agora em um vilarejo no meio de um deserto inóspito. Um lugar a quilômetros de um centro urbano, próximo apenas de tribos indígenas. Castigado por secas, escassez de recursos e falta de empregos. Para piorar, estoura um gravíssima crise no país, ceifando qualquer esperança de suporte financeiro do governo. O povoado só sobreviveria se encontrasse uma saída alternativa, criasse algo novo, se reinventasse.

Aliás, como tudo no mundo, as maiores inovações da história surgiram assim: da mais absoluta necessidade.

Estamos falando de Las Vegas, no ano de 1930. A cidade de apenas 8 mil habitantes, agonizava no meio do deserto de Mojave no estado de Nevada.

Veio então a Grande Depressão, e o lugar corria sério risco de, literalmente, sumir do mapa. Para evitar o pior, o governo de Nevada fez o impensável: afrouxou as leis que proibiam o jogo e a bebida. O objetivo era atrair os operários de uma construção a 70 quilômetros de distância, na esperança de que seus salários movimentassem a fraca economia local,

A ousadia teve impacto muito maior: atraiu visitantes dos estados de Arizona, Colorado, Utah, Oregon e Califórnia. Gente atrás de diversão e de uma forma de esquecer (nem que fosse bebendo) a opressiva situação econômica.

Como a medida funcionou, o governo foi ainda mais longe, facilitando casamentos e divórcios, numa linha contrária dos processos longos e complexos dos demais estados americanos. O estado de Nevada passou a permitir  e realizar ambos, casamentos e divórcios, sem qualquer burocracia.

Isso só fez aumentar ainda mais o apelo de Las Vegas, agora atraindo gente interessada em se casar e se separar (não necessariamente nessa ordem). Atrás dos turistas vieram hotéis, cassinos, restaurantes, casas de show… foi o início da famosa cidade.

Mas restava um problema: os estabelecimentos ficavam vazios durante a semana. Para combater a ociosidade, as autoridades decidiram transformar a cidade em destino de convenções e eventos. Nos anos seguintes, foi construído o grandioso Las Vegas Convention Center. Finalmente, na década de 1960, o governo de Nevada autorizou empresas listadas na bolsa a adquirir e administrar casas de jogos. Isso abriu caminho para a portentosa indústria de cassinos que conhecemos hoje.

E foi dessa forma, com ousadia e inovações, que Las Vegas cresceu continuamente até 2001, quando ocorreu o ataque às Torres Gêmeas. De uma hora para outra, o público desapareceu dos cassinos, hotéis e casas noturnas. Os estabelecimentos ficaram às moscas.

Mais uma vez, o governo recorreu a uma ideia criativa para reverter a situação. Uma campanha publicitária para comunicar o seguinte: esqueça o medo, a angústia e o terror e venha realizar suas fantasias em Las Vegas.

O mote criado, “O que acontece em Vegas fica em Vegas”, acertou em cheio os americanos estressados com a constante e opressiva ameaça terrorista. O público lotou a região atrás de felicidade.

A publicidade deu tão certo que é considerada a campanha de turismo mais bem-sucedida da história. O slogan se tornou fenômeno cultural, influenciando a produção de filmes de Hollywood como “Se beber não case”. Lançado em 2009, a franquia contribuiu para que a cidade superasse outro desafio, a crise financeira de 2008.

Ainda hoje, milhares de turistas chegam a Las Vegas para conhecer os lugares e estabelecimentos mostrados nos filmes, entre eles o hotel Caesars Palace.

O fato é que Las Vegas apostou alto e quebrou a banca. Entre 1930 e 2020, foi a cidade americana que mais cresceu, segundo o United States Census Bureau: passou de 8 mil habitantes para 2 milhões, um crescimento de 24.900%. Eu não bebi, é isso mesmo que você está vendo, 24.900% de crescimento.

Por ano, a cidade recebe cerca de 40 milhões de turistas. Gente que vem de todo o mundo para fazer sabe se lá o quê, confiando que o que faz em Vegas fica em Vegas.

Sou Gilclér Regina e esta foi mais uma mensagem para motivar e incentivar a inovação e criatividade para vencer momentos difíceis. Um forte abraço!

*Gilclér Regina é escritor com vários livros editados e 3 milhões de exemplares vendidos. Palestrante de sucesso com 4 mil apresentações, mais de 2 mil artigos publicados.