Relato

Por motivos pessoais, prefiro não me identificar, porém, o convido a ler e refletir sobre as situações que serão trazidas a seguir:

No dia 13/02/2020 (quinta-feira), estava realizando minha caminhada habitualmente pela manhã em uma praça que fica próxima da minha casa. Aproximadamente às 07 horas, percebo que se forma um “grupinho” de rapazes que aparentemente estavam se dirigindo à escola. Inicialmente, passo por eles e me sinto um pouco constrangida com os olhares, porém, resolvo seguir com a minha caminhada. Quando realizei outra volta na praça, escuto algumas falas de assédio sexual. Até pensei em continuar meus exercícios, mas acabei desistindo e voltando para casa.

No outro dia, por volta do mesmo horário, o “grupinho” novamente se forma. Assim que os avistei no mesmo local do dia anterior, decide abortar minha caminhada e voltar para minha residência.

No caminho de volta, passaram vários pensamentos em minha cabeça. Imaginei que seria melhor pegar outro caminho ou talvez acordar mais cedo e assim não “correr o risco” de coincidir de encontrar aqueles rapazes novamente.

Após alguns minutos refletindo pensei, por qual motivo EU PRECISO MUDAR MEU HORÁRIO OU CAMINHO para me exercitar?!

Talvez você lendo esse relato possa pensar: – Você deveria ter chamado a polícia!

Ou então, – Você deveria ter “encarado eles”/ ter respondido/ ter gritado/ chamado ajuda …

REALMENTE, eu poderia ter feito alguma coisa.

Talvez ter chamado a polícia, e correr o “risco” de não dar em nada (?!)

Perdoe-me as autoridades competentes, sei que não deveria generalizar, mas esse pensamento me veio à cabeça, pois já presenciei duas situações de agressão contra mulher e as autoridades não tomarem nenhuma providência. NA MINHA OPINIÃO, nas duas ocasiões mencionadas, houve despreparo entre os policiais responsáveis.

Por esse motivo, acredito que os militares (policiais, bombeiros…) deveriam ser CAPACITADOS para oferecer melhor assistência às mulheres vítimas de violência.

Eu poderia, também, ter “encarado eles”/ ter respondido/ ter gritado/ chamado ajuda … Mas, tive medo. Sim, tive medo de que aqueles rapazes fizessem algo contra mim. Infelizmente, a violência tomou uma proporção gigantesca em nossa sociedade, que hoje, se tem medo de até buzinar para o carro da frente!

Em fim, não querendo me justificar, mas já me explicando (não que haja necessidade de explicações), eu não tive reação na hora, também, porque já sofri violência sexual quando criança. Isso me deixou com traumas que carrego até hoje, mesmo sendo adulta. Então, em situações de cunho sexual, ainda sofro e me escondo como forma de me proteger.

Além disso, a questão aqui não deveria ser: “O QUE VOCÊ DEVERIA TER FEITO”, até porque, a vítima de tudo isso sou EU. Os agressores é que deveriam ser julgados e cobrados!

Trago MEU RELATO PESSOAL, mas entendo que diariamente diversas mulheres passam por situações semelhantes (ou piores) na rua, no trabalho ou em casa, seja no Brasil e no mundo.

Então, convido você a refletir, até quando a mulher será tratada dessa forma?! Por acaso, o fato de ser mulher é pré-requisito para não poder sair sozinha?! Não poder sair a noite?! Não poder sair vestida como bem entender?!

No caso Magó, ouvi muitos justificarem que o ocorrido com ela se deu pelo fato de estar sozinha e no “meio do nada”.

– PELO AMOR DE DEUS! Quem pensa dessa forma, poupe a sociedade pensante de tamanha imbecilidade!

A vítima, SEMPRE será a vítima, essa deverá ser ACOLHIDA e PROTEGIDA.

O vilão é o agressor, esse deve ser julgado, penalizado e arcar com seus atos!

Por fim, alguns podem até argumentar que tudo que trago é “mimi” ou discurso de feminista.

– Ok, é seu direito achar o que bem entender.

Ou até alguns podem pensar: “- homem também sofre assédio!”

– Sim, claro! Mas, toda via, porém, entretanto… Basta ver alguns dados estatísticos para entender que a MAIORIA das violências de cunho sexuais, ocorrem com mulheres! E o pior, muitas, acabam em tragédia!

Sendo assim, reafirmo que violência contra mulher é algo real, pode ocorrer de forma “leve” como uma “simples cantada” no meio da rua ou até agressão sexual propriamente dita, de qualquer forma é agressão! E isso precisa acabar!

Grata pela atenção,

Mandaguari /PR , 14 de fevereiro de 2020.