Gente folgada

Gente folgada é uma epidemia. Está em todos os lugares, parasitando, sugando o talento e a paciência das pessoas.

Lidar com pessoas que querem aproveitar de sua boa vontade é uma virtude com a qual eu preciso melhorar. A sensação de ter sido feito/a de idiota não agrada ninguém. Acredito muito que as pessoas devem fazer o bem sem olhar a quem, e jamais esperar que o outro retribua toda sua atenção.

Ainda não consegui atingir esse grau elevado de espiritualidade, porque uma hora cansa sempre ser bonzinho/boazinha e ajudar todo mundo, sendo que nunca ninguém para e pensa naquilo que você quer e que te fará melhor e mais feliz. Muito pelo contrário: as pessoas nem se quer têm a delicadeza de agradecer uma ação. Fazer uma gentileza não significa transformá-la em obrigação.

As pessoas se acomodam com a bondade alheia. Elas partem do princípio de que para o tal do bonzinho tudo está bem, afinal, “ele/ela é um amor de pessoa, vai entender, vai aceitar, não vai se importar…”

A boa educação, o respeito e a cordialidade ainda são valores universais para se viver em comunidade. “De repente” dar seta ao fazer uma conversão deixou de ser obrigatório, colocar o som na altura do Rock in Rio é falta de respeito com a vizinhança, furar fila também é desrespeitoso.

Mas a pior ação do(a) folgado(a) que tenho presenciado é que não aceitam mais ouvir os argumentos contrários, ser contrariado(a) parece que passou a ser uma “coisa desnecessária”, acompanhada da frase “eu não mereço”.

Ser bondoso, bonzinho não significa ser trouxa de ninguém, paciência tem limites. O mais engraçado é que, quando você resolve dizer não, ninguém é capaz de entender o seu lado ou respeita sua opinião, você passa de um status de bonzinho/boazinha para o de injusto(a). Pior é quando isso acontece e você é ainda julgado (a) de hipócrita, duas caras, falso(a) e coisas do gênero. O respeito ao próximo está em falta no mercado e eu pergunto: o que vai ser da humanidade, sem o mínimo de bondade?

As pessoas pensam duas vezes antes de fazer uma bondade para alguém, com medo daquela pessoa se encostar nela e nunca mais “parar de folgar”. Gentileza, bondade é uma via de mão dupla, a bondade anda de mãos dadas com a paciência, mas tem vaga limitada. #ficaadica

Emerson Carlos Pinhati é doutorando em Ciências Econômicas, professor e vice-diretor da Fafiman – Gestão 2018-2021