Fake news, Mandaguari e 2020: o que nos resta é ficarmos bastante atentos

Caro leitor, imagine que dividíssemos este espaço da seguinte maneira:

“Era só o que faltava para Mandaguari! Um novo projeto que está tramitando no Congresso Nacional tenta extinguir municípios com menos de 50 mil habitantes e torná-los distritos de cidades vizinhas que sejam maiores. A proposta não está encontrando resistência dos deputados federais, que vão sair ganhando eleitoralmente em 2022 com os votos de regiões ainda maiores em todo o Brasil.

E Mandaguari, que deu origem a tantos outros municípios, deve comemorar o seu último aniversário. Depois de 83 anos como pioneira, nossa cidade está ameaçada. Vai ser reduzida a distrito de Maringá. Os políticos, que já estavam preparando partidos e candidaturas para outubro, estão desesperados, mas ainda não sabem o que fazer.

Se você também acha isso um absurdo, compartilhe este jornal com o maior número de pessoas possível. Vamos fazer nosso repúdio chegar ao Congresso Nacional. Mandaguari não pode ser refém dos deputados.”

 

Perceberam? Textos com características parecidas tornaram-se parte do nosso dia a dia, especialmente por meio dos aplicativos de mensagens. Ou não perceberam? Tudo bem. Afinal, nem sempre é tão simples reconhecer notícias mentirosas, também conhecidas por fake news. E o objetivo é esse mesmo. Quem escreve se apropria do estilo do texto noticioso, o verdadeiro, para convencer o leitor com mais facilidade daquilo que está sendo dito.

 

Em tempos como este, de uma pandemia com consequências incalculáveis, acontecendo justamente num ano de eleições municipais… Pronto. Eis o ambiente perfeito para que gente engraçadinha ou, de fato, mal intencionada comece a espalhar invencionices de todo o tipo. Você mesmo já deve ter recebido uma quantidade considerável de textos, fotos e vídeos de possíveis situações ou de possíveis especialistas, por exemplo, minimizando a gravidade do novo coronavírus ou tratando dos bastidores da política municipal como um verdadeiro caos. Pois bem, eis um hábito propício para que compartilhemos tais conteúdos fantasiosos, que podem prejudicar a vida de outras pessoas.

 

O Brasil, infelizmente, institucionalizou essa prática. Recentemente, durante a pandemia de COVID-19 no país e da manifestação pró-governo e contra o Congresso Nacional e o Judiciário, realizada no dia 15 de março, 55% das publicações de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no Twitter foram disparadas por robôs. O dado foi apontado por um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP). Embora esse número não trate, necessariamente, da veracidade das publicações, ele revela como elas podem ser potencialmente disseminadas.

 

Assustador, né? Os responsáveis pelo Whatsapp e pelo Facebook têm desenvolvido formas de barrar o compartilhamento massivo de qualquer tipo de conteúdo. São tentativas de impedir que sejamos vítimas dessas fake news. A principal e mais assertiva, porém, você conhece: temos que checar as informações. Com uma rápida e comum pesquisa na internet, de preferência nos meios de comunicação tradicionais, é possível detectar se o texto recebido é ou não confiável.

 

Ah! Antes que a gente encerre: Mandaguari não será distrito de Maringá. Tampouco existe qualquer tipo de proposta parlamentar para a extinção de municípios com menos de 50 mil habitantes tramitando no Congresso Nacional. Caso queira, você pode compartilhar este jornal, mas sem a preocupação de que ele viaje até Brasília. Mandaguari completa 83 anos e, no que depender dos jornalistas que se esforçam diariamente para levar informação apurada até você, completará outros tantos.

 

O município só não pode – e esse sim é um alerta verídico – se tornar refém das fake news.

_ _ _

TIAGO MATHIAS,

Jornalista, mestre em Comunicação e Cultura Midiática e assessor de imprensa da Câmara Municipal de Mandaguari