“É hora da sociedade se mobilizar”

Em 1997, quando as principais rodovias paranaenses foram concedidas à iniciativa privada, a internet ainda estava popularizada no país, não havia redes socais e a divulgação dos atos do governo geralmente se resumia aos diários oficiais que quase ninguém lê. Com raras exceções, a sociedade não acompanhava as ações dos governantes e o processo de concessão aconteceu quase na surdina.
Por aqui o interesse pelo assunto só veio quando a praça de pedágio começou a ser erguida praticamente na porta da nossa casa. Antes disso não se viu nenhuma manifestação por parte das autoridades locais nem dos deputados estaduais e federais que representavam a região e eram na grande maioria aliados do governo.
Passados mais de vinte anos, o que se viu foi uma cobrança de tarifas exorbitantes, aditivos contratuais que só beneficiaram as concessionárias e políticos e rodovias de qualidade incompatível com os valores pagos pelos usuários. Inúmeros acidentes e mortes teriam sido evitados se obras essenciais não tivessem sido adiadas ou canceladas por conta de acordos feitos sem a participação da sociedade. Isso sem contar o forte esquema de corrupção envolvendo as empresas de pedágio descoberto durante as investigações da Operação Lava Jato. Em resumo, o modelo de concessão de rodovias adotado no Paraná foi um verdadeiro desastre.
Felizmente, embora tenha havido grande pressão por parte de alguns políticos e das empresas, a Justiça determinou que os atuais contratos de concessão não serão prorrogados. O Governo Estadual, por sua vez, formalizou à União o não interesse em continuar responsável por essas rodovias e elas serão incluídas em um novo pacote de concessões, cuja licitação acontecerá em 2020.
O pouco que se sabe até agora é que, além das rodovias já pedagiadas, os contornos de algumas cidades e aproximadamente mil quilômetros de estradas estaduais também entrarão no pacote. Em relação às tarifas, o que se cogitou até o momento é que deverão baixar em torno de 50%.
Parece uma redução significativa, mas ainda é muito pouco se considerarmos os valores atuais e o que se recebe em troca. Se a sociedade não se mobilizar corre o sério risco de ganhar outro “presente de grego” como o que recebeu há mais de 20 anos e pelo qual até hoje paga um alto preço.
Porém isso só acontecerá se a população quiser. A situação atual é bem diferente daquela de 1997. Falta mais de um ano para as concessões serem licitadas e hoje é muito fácil obter informações sobre o que o governo pretende fazer, quais serão as condições estabelecidas nos futuros contratos de concessão, quais serão as obrigações das empresas e, principalmente, quais benefícios terão os moradores de cidades como Mandaguari, que como disse anteriormente, tem uma praça de pedágio na porta de casa.
Vale lembrar que com o término do atual contrato a Viapar será extinta e com junto com ela o acordo que hoje nos dá o desconto na tarifa e o direito de desviar pela estrada Terra Roxa.
Cabe à sociedade local decidir que tipo de situação quer enfrentar nas próximas décadas. Nos contentaremos com uma mera redução de 50% na tarifa como está sendo proposto ou brigaremos pela isenção total dos veículos locais e pela garantia contratual de que não seremos impedidos de transitar pela Estrada Terra Roxa? Continuaremos passivos diante dos graves acidentes na PR 444? Estamos satisfeitos com redutores de velocidade em apenas dois cruzamentos de estradas rurais com as rodovias pedagiadas ou exigiremos viadutos em todos esses pontos do território municipal? Vamos continuar mendigando junto à concessionária a manutenção do asfalto, construção de passarelas e rotatórias nos perímetros urbanos cortados pelas rodovias? Acompanharemos a elaboração dos editais de concessão ou deixaremos que novamente por conta dos nossos deputados que, como em 1997, são na maioria governistas?
A hora de agir e reivindicar é agora. Se deixarmos para depois continuaremos por muitos tempo ouvindo aquela famosa frase que há anos vem sendo dita pelos representantes da Viapar sempre que se busca alguma melhoria para a cidade: “não faremos porque não está previsto no contrato de concessão”.