Após ir a pé a Lunardelli, mandaguariense conta que o próximo desafio é ir até Aparecida do Norte

Em agosto, uma mandaguariense chamou a atenção nacional, e até internacional, após carregar a pé uma cruz de 40kg de Mandaguari a Lunardelli, o que dá aproximadamente 80km, como uma forma de agradecimento e pagar promessas. 

Neide Aparecida da Silva, de 49 anos, é uma mulher muito religiosa e com grande fé em Deus, sua história de vida é impressionante e ao mesmo tempo incentivadora para aqueles que não conseguem achar uma luz no fim do túnel. 

Neide teve sua vida testada três vezes e apesar disso ela não perdeu a fé e a confiança em Deus, por isso ela decidiu fazer uma promessa pela vida de seus netos. Em entrevista a Agora FM, Neide contou sua história de vida e a superação que houve na vida de seus netos.

Júlio César Raspinha: Como era sua vida antes da chegada dos seus netos?

Neide: Minha vida era muito boa, eu morava e trabalhava no Japão e ganhava bem, mas voltei para o Brasil em 2011 porque meu casamento havia dado uma balançada e meus filhos, um casal, me pediram para voltar para cá. Eu também voltei porque meu pai estava doente e eu precisava cuidar dele, após isso eu comecei a trabalhar na empresa Chip, era fundadora, e também ganhava bem. 

Você estava me contando que fez uma festa de aniversário para sua filha quando ela fez quinze anos, não é?

Neide: Sim, eu ganhava bem então tive condições de fazer. Após isso as coisas começaram a desandar, a Roseli, uma amiga do trabalho, me disse que eu não era a primeira e nem ia ser a última a ficar nessa situação, mas a minha filha estava grávida. Foi um choque para mim, eu fiquei sem chão porque ela nem havia completado 16 anos. 

Em que ano isso aconteceu?

Neide: Foi em 2015, agora meus netos têm seis anos de idade e minha filha vai fazer 22 anos. Os dois filhos dela, Davi e Samuel, são gêmeos. 

E era uma grávidez de risco? 

Neide: Sim e muito porque minha filha era pequenininha e muito nova para isso. Eu estava bem estruturada no meu emprego e tinha acabado de comprar meu carro e mudar minha casa, então eu estava desesperado por causa desse golpe repentino, era como se o vento estivesse balançando minha estrutura e eu tinha que permanecer de pé. 

Além da grávidez de risco quando seus netos nasceram veio com necessidades especiais e precisando de um apoio, não é?

Neide: Sim, depois do ultrassom é que a gente percebeu isso, ela já estava me escondendo a gravidez há quase cinco meses. Depois do ultrassom o médico de Kaloré disse para mim não me assustar porque minha filha estava grávida de gêmeos.

O primeiro impacto foi a grávidez e o segundo impacto foi que era de gêmeos. 

Neide: Sim, e o terceiro impacto foi quando fomos no Doutor Alberto e ele nos disse que além da gravidez de risco as crianças iriam nascer com problema e ele nos encaminhou para Maringá. Foi uma tempestade, uma sequência de golpes. Fomos para Maringá fazer um ultrassom mais específico e o médico de lá me disse que teria que tirar eles dali o mais rápido possível e na outra semana a bolsa já rompeu com cinco meses de gravidez.

Ou seja, no intervalo de um mês você recebeu essa sequência de golpes?

Neide: Sim, foi um mês turbulento.

Dona Neide conta como foi o nascimento de seus netos e o milagre que Deus fez na vida dela. 

Neide: Na outra semana a bolsa dela estourou, porque não havia espaço para essas crianças crescerem, no meio de um churrasco de família e nesse momento eu estava dentro de um supermercado e não podia ajudar minha filha. Ninguém imaginava porque estava previsto para acontecer só na outra semana.

Cheguei no PAM e minha filha não estava lá e eu não estava conseguindo dirigir porque minhas mãos estavam tremendo e um casal daqui me deu carona até Maringá para eu encontrar minha filha. Ela estava com o Doutor André e uma enfermeira e não havia vagas para eles na UTI do Hospital Santa Casa e o SAMU não podia ajudar porque estavam em uma ocorrência, estava muito corrido e meu desespero era enorme. Eles queriam colocá-la em uma UTI e meus netos em outro hospital porque não conseguiam vagas, isso se meus netos conseguissem sobreviver. Foi aí que eles começaram sua batalha pela vida.

Porém no meio de todo esse caos Deus apareceu para ajudar em forma de uma mulher, ninguém a conhecia, mas ela estava lá me acalmando e pedindo para que eu tivesse fé e confiasse em Deus que eles iriam achar uma vaga para meus netos e que tudo daria certo. Fomos numa capela que fica dentro do hospital e fizemos uma corrente de oração para pedir a Deus que nos ajudasse, e ele ajudou. 

O parto deu certo e minha filha estava bem e nem precisou ir para a UTI e meus netos conseguiram uma vaga lá, porém a médica disse para não me empolgar porque os dois corriam risco de vida, o Davi teve duas paradas cardíacas e por causa do nascimento ele estava todo machucado e não havia muitas chances de sobreviver. Eu olhei para ela e disse assim: Vai sim, doutora, vai sim, se Deus concedeu eles virem até aqui eles irão viver se for da vontade dele. Após isso eu nunca mais encontrei aquela mulher para agradecê-la. 

Em que momento você teve o impacto de fazer uma promessa e dizer que gostaria de ir para o Santuário de Santa Rita de Cássia pela vida de seus netos? 

Neide: Foi no dia do nascimento deles, quando eu os vi na ala da UTI eles não eram bebês, eram dois bichinhos pequenininhos entubados, um nasceu com 520g e o outro com 780g, e foi aí que eu resolvi fazer a promessa para poder ter meus netos bem e vivos. Durante os 96 dias de luta na UTI eu fui conversar várias vezes com Deus para que ele os mantivesse vivos, fiz várias promessas como parar de fumar e eu parei de verdade, até que chegou o dia em que a médica disse que o Davi estava bem, mas que ele não ia conseguir sentar, andar ou falar e eles tiraram ele da UTI e colocaram na CTI. Eu agradeci muito a Santa Rita de Cássia, cada dia era um dia de emoção, alegria e felicidade. 

Já o Samuel teve hemorragia no pulmão e não estava correspondendo aos tratamentos e estava perdendo peso, ele foi para 515g e eles disseram que já tinham feito de tudo para ele mais mesmo assim eu confiei em Deus de que tudo iria dar certo e eu queria levar os dois para casa. Eu fui para aquela capela de novo e comecei a conversar com Deus pedindo por eles e me sacrificando por eles. No outro dia o Samuel havia ganhado sete gramas e ele reagiu e melhorou e foi aí que ela disse que se ele melhorasse ia para o CTI com o Davi. Eles saíram do hospital no final de setembro. 

Meses após isso o pai de meus netos morreu atropelado e por isso eu moro com minha filha para ajudá-la com a criação deles e mesmo assim já é difícil para nós duas cuidarmos deles sozinhas. 

E como está o Davi e o Samuel hoje?

Neide: O Davi não anda, não fala, não senta, tem duas paralisia cefálica mas ele é muito inteligente. O Samuel é autista, o autismo dele é baseado em um grau e meio, ele é agitado, não aceita não como resposta, mas gosta muito de ferramentas e de animais.

Mais independente da dificuldade que eles enfrentam eles são uma vitória para vocês só pelo fato de estarem lá?

Neide: Sim e muito, e ainda vem muita luta pela frente, o Samuel vai entrar na fila para transplante de fígado.

A partir daí Neide decidiu, após seis anos, ir a pé até o Santuário de Santa Rita de Cássia, em Lunardelli, para pagar sua promessa e agradecer a Deus pelos milagres que realizou em sua vida. Foram mais de 80km e 30h de percurso até chegar ao seu destino. “Olha o Revelino da Polícia Rodoviária me disse que aquelas placas são enganosas, ele disse que daqui até Lunardelli dá 96km, perdi 7kg”, brinca ela.

Neide: Eu saí daqui e não sabia que iria dar essa repercussão toda, e saí com chuva, coloquei água dentro do porta malas do carro do meu filho, que iria me acompanhar com meus remédios que preciso tomar, cobertor, travesseiro e banana. Eu não fui por causa de dinheiro ou fama, eu fui para cumprir uma promessa que fiz com Deus.

Dona Neide está preparando mais um desafio como forma de agradecer a Deus, agora ela quer ir para Aparecida do Norte para agradecer por tudo de bom que está acontecendo em sua vida. 

Neide: Antes eu disse para a minha filha que se o Davi falasse eu iria para lá e aconteceu. O Davi por mais que não fale ele é fã de música sertaneja, ele pula e se agita com a música e neste mês, quando eu estava nos fundos de casa, ele falou a palavra “Jesus” e minha filha me chamou correndo dizendo que ele havia falado e eu fiquei muito feliz.

Você tem data para ir para Aparecida do Norte?

Neide: Ainda não tem data definida mas vai ser ano que vem, preciso me preparar, mas ainda não irei dizer o que levarei junto comigo. 

Até hoje tem gente que me pergunta ‘O que você espera do Davi e do Samuel?’. E eu sempre respondo: que eles tenham muita saúde e que cada dia superem seus desafios diários.