Projeto ‘Construindo Sonhos’ transforma a vida de crianças com transtornos do desenvolvimento por meio da cultura
Em Mandaguari um projeto tem mudado a realidade de dezenas de crianças com transtornos do desenvolvimento. Batizado de ‘Construindo Sonhos’, a iniciativa é fruto de uma parceria entre a Comunidade Social Cristã Beneficente do Doutor Osvaldo, a Cesumar e o Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação, com apoio da Fundação Araucária.
Atenção individualizada e multidisciplinar
Às segundas e sextas-feiras, os atendimentos do ‘Construindo Sonhos’ se dividem entre ações socioculturais e atividades de observação clínica. Cada estudante do curso de Medicina da Cesumar é responsável por acompanhar uma criança com algum transtorno do desenvolvimento, como TEA (Transtorno do Espectro Autista), TDAH ou Síndrome do X Frágil.
“Essas crianças precisam aprender a sentir, a reconhecer suas emoções, a respeitar seus próprios limites. E esse processo precisa ser acompanhado com empatia e técnica”, explica Luane Rech Petri, estudante de Medicina e uma das responsáveis pelo projeto.
Nas sextas-feiras, o foco recai sobre aspectos como fala, motricidade fina e emoções, com atividades cuidadosamente planejadas para estimular o desenvolvimento cognitivo e sensorial das crianças.
“Não é uma atividade aleatória, os alunos vêm com tudo estruturado, inclusive com as perguntas certas para cada caso. Eles são supervisionados e preparados para lidar com as complexidades que essas crianças apresentam”, reforça Tânia, presidente da Comunidade do Doutor Osvaldo.
Cultura e música como ferramentas terapêuticas
Nas segundas-feiras, o projeto recebe 144 crianças da Escola Angelina, transportadas por ônibus da própria instituição. Além das atividades em grupo, os pequenos também participam de oficinas de música às quintas-feiras, conduzidas por profissionais capacitados, como o maestro Clóvis, formado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
As crianças mais interessadas seguem com aulas de canto, enquanto outras, que preferem ouvir música, participam de atividades conduzidas por Luane, que usa o poder da música para acolher, acalmar e estimular emocionalmente os participantes.
“A música tem um potencial transformador e ajuda a diminuir ansiedade, estresse e aquela agitação interna que muitas vezes é confundida com indisciplina. Algumas dessas crianças são chamadas de bagunceiras, mas, na verdade, só precisam de espaço para se expressar”, explicou ela.
Vagas abertas e critérios de participação
O projeto está com vagas abertas para novas crianças, desde que atendam aos critérios do programa. Nas oficinas culturais (como violão e karatê), a prioridade é para famílias em vulnerabilidade econômica. Já para os atendimentos de crianças com transtornos do desenvolvimento, a prioridade é o próprio quadro clínico, independentemente da situação financeira.
O processo de triagem é feito com apoio da assistente social da comunidade. “Cultura não se nega, sempre acolhemos crianças de todos os perfis. Já tivemos filhos de juiz participando conosco”, lembra Tânia. No entanto, o projeto hoje depende de convênios públicos e apoios direcionados a perfis socioeconômicos específicos.
“Quando a gente vê uma criança que antes não se comunicava e agora canta, ou uma que tinha medo de tocar nas tintas e agora se expressa com cores… isso não tem preço. A gente está realmente construindo sonhos”, finaliza Luane.