Olimpíadas de Tóquio tomam forma um ano após adiamento, mas cenário ainda é imprevisível

O dia 24 de março entrou para a história das Olimpíadas. Há exatamente um ano, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciava o adiamento inédito dos Jogos de Tóquio por causa da pandemia do coronavírus. Doze meses depois, a competição no Japão começa a tomar forma, mesmo que ainda existam muitas incertezas da crise sanitária internacional. Com o fim do estado de emergência em Tóquio, a dúvida cada vez menos é se as Olimpíadas vão acontecer. A questão agora para ser outra: como vão ser os Jogos em tempos de pandemia?

As Olimpíadas estão confirmadas?

As pesquisas de opinião pública apontam que a maioria dos japoneses quer que as Olimpíadas sejam adiadas novamente ou canceladas. No entanto, o Comitê Organizador de Tóquio e o COI trabalham para que as Olimpíadas de fato aconteçam entre 23 de julho e 8 de agosto de 2021. Eles consideram um novo adiamento impossível. O imponderável ainda não permite descartar totalmente um cancelamento, mas é cada vez mais improvável os Jogos não serem realizados este ano.

Apesar do agravamento da pandemia no Brasil e do temor de algumas variantes do coronavírus como a sul-africana, Tóquio confia nos protocolos de segurança que vem adotando em suas ligas locais. Um estudo encomendado pelas principais ligas do país apontou só nove casos de torcedores infectados em mais de 1.600 jogos desde julho. As competições domésticas já estão acontecendo e, com o fim do estado de emergência em Tóquio, o Japão se prepara para receber atletas estrangeiros e torneios internacionais. As partidas das eliminatórias da Copa do Mundo de futebol do Catar vão ser mais um teste.

Como garantir que o coronavírus não se dissemine nas Olimpíadas?

Como evitar a disseminação do coronavírus durante os Jogos é a pergunta-chave para a realização do evento e também a mais difícil de responder. Com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Comitê Organizador estabeleceu protocolos rígidos de segurança descritos no playbook, uma espécie de código de conduta para atletas, voluntários, jornalistas e todos os credenciados para as Olimpíadas. Os princípios básicos são:

Monitoramento da saúde – além de testes frequentes do tipo PCR e da medição de temperatura, todos os credenciados vão precisar baixar um aplicativo no celular para monitorar a saúde e o deslocamento, rastreando possíveis focos de infecção.

Uso de máscara e álcool gel.

Distanciamento social – pessoas credenciadas não podem usar transporte público e podem se deslocar apenas para instalações esportivas e locais pré-determinados, que não incluem restaurantes, bares, pontos turísticos e lojas. Atletas são encorajados a manter 2m de distância de outras pessoas, enquanto a recomendação para outros credenciados é de 1m.

Esses protocolos estão sendo constantemente reavaliados de acordo com a evolução da pandemia. O Comitê Organizador deve publicar uma atualização do playbook em abril e outra em junho. Nesse novo texto, a frequência de testes em atletas pode aumentar. Em vez de um PCR a cada quatro dias, a testagem pode ser diária.

As punições a quem ferir esse código de conduta ainda serão detalhadas, bem como o que vai acontecer caso uma atleta que esteja competindo testar positivo para covid-19. Apesar de todas as medidas de segurança, o Comitê Organizador ressalta no playbook que os riscos podem não ser totalmente eliminados.

Vai ser preciso quarentena?

Sim. Todos os envolvidos nas Olimpíadas vão precisar apresentar um teste do tipo PCR negativo para covid-19 realizado até 72 horas antes do embarque para o Japão. Um novo teste pode ser feito no desembarque dependendo do destino de origem da pessoa. Aí se inicia um período de 14 dias de quarentena para ingressar na bolha dos Jogos. Mesmo atletas japoneses ou que já estavam em aclimatação no país vão precisar apresentar exame negativo para covid-19 antes de entrar na Vila Olímpica. O Comitê Organizador ainda vai detalhar as regras para esse período de quarentena.

Vai ser obrigatória a vacina?

Não. A presidente do Comitê Organizador dos Jogos, Seiko Hashimoto, afirmou que a vacinação não vai ser um pré-requisito para participar das Olimpíadas. No entanto, a imunização é encorajada. Presidente do COI, Thomas Bach afirmou recentemente que a China ofereceu vacinas da Coronavc aos atletas que vão aos Jogos, mas não detalhou como ou quando vai ser a distribuição dos imunizantes.

Alguns países colocaram os atletas olímpicos e paralímpicos no grupo prioritário da vacinação. Romênia, Hungria e Israel já vacinam suas delegações. Austrália, Coreia do Sul, Bélgica e Rússia também anunciaram intenção de imunizar suas equipes. No Brasil, atletas militares serão vacinados como grupo prioritário das Forças Armadas, segundo o Ministério da Saúde.

Vai ter torcida?

Até o momento sim, mas apenas residentes no Japão vão ser permitidos nas arquibancadas. No último sábado, o Comitê Organizador anunciou que os torcedores estrangeiros vão ser barrados como forma de controle da disseminação do coronavírus. Quase 4,5 milhões de ingressos para os Jogos já tinham sido vendidos antes da pandemia, e cerca de 630 mil haviam sido adquiridos por estrangeiros, que vão ser reembolsados.

Torcedores residentes no Japão também terão que seguir protocolos de comportamento, mantendo distanciamento e evitando gritos e cantos – são encorajados a bater palmas. O Comitê Organizador ainda estuda limitar torcida a 50% da capacidade das arenas – ginásios maiores podem ter máximo de 20 mil torcedores. Essa decisão vai ser anunciada em abril.

Os voluntários estrangeiros também foram barrados. Apenas 500 desses voluntários vão ser liberados sob regras especiais de entrada no Japão por terem habilidades específicas, como especialistas em certos idiomas. De acordo com os organizadores, os estrangeiros representavam cerca de 10% do total de 80.000 voluntários que fariam parte dos Jogos antes de a pandemia de coronavírus forçar o adiamento.

Vai ter revezamento da tocha?

Sim. O revezamento da tocha olímpica vai começar nesta quinta-feira, em Fukushima, em uma cerimônia fechada ao público. A chama símbolo dos Jogos vai percorrer todas as 47 prefeituras do Japão em 121 dias até a Cerimônia de Abertura, no dia 23 de julho.

O Comitê Organizador lançou um guia de medidas para evitar que o revezamento se torne um foco de transmissão do coronavírus. Os fãs vão poder acompanhar a passagem da tocha pelas ruas, mas são orientados a não aglomerar, a não gritar e a não se abraçar. São encorajados apenas a aplaudir. As celebridades devem fazer mistério sobre sua participação no revezamento, mas algumas estão desistindo de participar, evitando assim atrair aglomerações.

Vai ter Cerimônia de Abertura?

Sim. A Cerimônia de Abertura é um dos momentos mais aguardados das Olimpíadas e vai ser realizada no dia 23 de julho, embora muitos detalhes ainda não tenham sido anunciados. A tendência é de que apenas 20 mil torcedores estejam presentes nas arquibancadas do Estádio Nacional do Japão, que tem capacidade para 68 mil pessoas. As delegações vão desfilar com número reduzido de atletas. A pandemia do coronavírus vai ser um tema da cerimônia, colocando as Olimpíadas como luz no fim do túnel.

Quanto está custando o adiamento das Olimpíadas?

Uma operação inédita como o adiamento das Olimpíadas tem um custo elevado. O Comitê Organizador promete transparência com as contas, apesar de não detalhar as previsões de gastos. Especialistas estimam que o valor adicional provocado pelo adiamento gire em torno de US$ 2,7 bilhões (quase R$ 14,9 bi na cotação atualizada). Assim, o custo total dos Jogos pode ultrapassar os US$ 16 bilhões (mais de R$ 88 bi).

Desde o anúncio do adiamento dos Jogos, em março, o COI e as autoridades japoneses não se entendem sobre a divisão de responsabilidade com as contas extras das Olimpíadas. Em um primeiro momento, o COI afirmou que Shinzo Abe, então primeiro-ministro do Japão, concordou que o país continuasse a cobrir os custos. Tal acordo logo foi negado pelo então secretário-chefe do gabinete japonês e atual primeiro-ministro, Yoshihide Suga.

Em maio de 2020, o COI anunciou a criação de um fundo de US$ 800 milhões (mais de R$ 4,4 bilhões) para cobrir o impacto financeiro da crise do coronavírus no esporte. Destes recursos, US$ 650 milhões (mais de R$ 3,5 bilhões) foram destinados à organização dos Jogos de Tóquio. O valor corresponde a cerca de 24% do estimado para os custos extras das Olimpíadas. Os outros 76% parecem ter sobrado para os japoneses.