Inter avança como pior 1º lugar e não empolga com campanha na Libertadores

O Inter cumpre o objetivo e garante a vaga nas oitavas de final da Libertadores como primeiro colocado do Grupo B, mas, um a um, os jogadores deixam o gramado do Beira-Rio cabisbaixos. Uma reação que diz muito sobre o sentimento de frustração que ficou no ar após o empate em 0 a 0 com o Always Ready, nesta quarta-feira.

O duelo com um rival frágil era chance e tanto para o Colorado virar a página e ganhar nova vida após o vice no Gauchão. Mas (mais) 90 minutos de futebol sem conseguir marcar um gol sequer no Always Ready viraram analogia para a oscilação que a equipe viveu durante toda a fase de grupos.

Prova disso é que o Inter avança aos mata-matas como o pior primeiro colocado. Segundo no Grupo E, o São Paulo tem campanha melhor, por exemplo.

Foram 10 pontos somados, em um sobe e desce com duas goleadas arrasadoras em casa e dois tropeços fora, além da atuação apática desta quarta. Provas, ao mesmo tempo, de que a equipe compreende e consegue executar os conceitos de Miguel Ángel Ramírez, mas oscila e tem um longo caminho a percorrer até engrenar de vez com o treinador.

O mesmo Inter que atropelou adversários em série no Beira-Rio também sofreu para encontrar alternativas diante de condições adversas e rivais recuados. Sintomas até esperados de um projeto de ruptura de modelo de jogo que tem menos de três meses de duração.

— A evolução tem sido muito grande. Nos dois jogos, o controle foi total. Fizemos muito mais do que nas partidas que goleamos. São dois jogos que dão um claro sinal do entendimento e que estamos fiéis ao que treinamos e queremos ser — apontou Ramírez.

Apesar de haver domínio e criação, também não houve efetividade. Talvez por ser um time ainda em formação, como de fato é. Mas foram 180 minutos sem conseguir fazer gol nos bolivianos, apesar das goleadas em Olimpia e Táchira. Isso cria dúvidas sobre qual mensagem acreditar.

A oscilação gera pressão externa, respondida com respaldo da diretoria, e mostra que a equipe ainda tem pontos a evoluir (com certa urgência) até solidificar o sistema de jogo. Mas a avaliação de Ramírez é de que o Inter avançou no que ele pretende desde o início do ano.

SIm (estou satisfeito). Terminamos com uma evolução grande. Temos sido taxativos nas correções que precisamos. O resultado é muito mentiroso no futebol. É preciso ter muito cuidado. Fizemos de tudo para ganhar. O time evoluiu muito da primeira rodada até hoje — Ramírez

Os números da partida contra o Always Ready mostram que a frustração está ligada apenas ao resultado – que, de fato, deixa muito a desejar. O Inter teve quase 80% de posse de bola e finalizou 22 vezes. Seis das conclusões foram na direção do gol e transformaram o goleiro Lampe no melhor em campo.

Mas as dificuldades recentes em marcar levaram Ramírez a repetir a experiência do Gre-Nal, que no domingo foi após 38 minutos, com a expulsão de Yuri Alberto. No clássico, a formação coincidiu (e foi responsável) com o momento em que a equipe conseguiu se impor e levar perigo ao rival.

Nesta quarta-feira, não foi diferente. O Inter revisitou os dias de Eduardo Coudet e iniciou o jogo com dois atacantes, no 4-1-3-2, esquema preferido do argentino. Thiago Galhardo e Palacios eram os homens mais avançados.

Pouco a pouco, a formatação mostrou suas sutilezas. Rodrigo Lindoso funcionou como um líbero, ora mais recuado, ora mais adiantado que os zagueiros. Sem a bola, o Inter se posicionou mais de uma vez com uma linha de cinco na defesa, no 5-3-2.

A equipe conseguiu atacar com mais gente por dentro e também por fora. Pelo meio, Taison e Palacios usavam a mobilidade, com trocas de posições, para abrir espaços. Pelos lados, eram os laterais os responsáveis por subir e dar amplitude – antes função dos extremas.

E funcionou. O jogo fluiu, e o Inter criou três chances em 14 minutos: uma finalização de Saravia, uma pifada de Taison para Galhardo e em um cruzamento de Saravia para o centroavante. Mas o ensaio durou apenas 20 minutos.

A partir daí, Ramírez orientou Taison e Palacios a abrirem pela esquerda e pela direita, respectivamente. O treinador remontou o esquema habitual – o 4-3-3. A equipe teve o controle habitual, a ponto de encerrar a primeira etapa à beira dos 80% de posse de bola. Mas perdeu em imposição e agressividade – algo recorrente até aqui.

E que se repetiu no segundo tempo. A equipe voltou com a mesma formação. Mas logo aos 5 minutos, Mauricio entrou na vaga de Nonato para atuar aberto pela direita. Taison foi para o meio, e Palacios, para a esquerda.

Foi a primeira das cinco trocas que mexeram bastante na estrutura do time, mas não o tornaram mais perigoso para converter o controle em chances claras de gol.

Depois disso, Lucas Ramos e Caio Vidal entraram nas vagas de Palacios e Rodrigo Lindoso – Edenílson recuou, e Mauricio foi para o meio. Rodrigo Dourado e Guerrero entraram depois nos lugares de Edenílson e Guerrero.

A equipe manteve o controle de uma partida jogada quase que o tempo todo no campo de ataque. As 12 finalizações até o final da partida mostram que o time teve volume ofensivo e buscou o gol a ponto de o goleiro rival ter sido eleito o melhor em campo.

Mas a equipe ficou mais exposta, e a incapacidade de marcar quase cobraram seu preço. Marcelo Lomba teve de fazer um milagre para evitar a derrota após contra-ataque finalizado por Mosquera.

O empate em 0 a 0 com o Always Ready mostra um longo caminho a percorrer. Mas o Inter encerra o Grupo B na liderança, com 10 pontos somados e vaga nas oitavas de final da Libertadores. Agora, a equipe foca na estreia no Brasileirão, contra o Sport, às 20h30, no domingo, no Beira-Rio.