Erro em critério leva atletismo à convocação polêmica para Mundial

A convocação das atletas brasileiras que irão ao Campeonato Mundial de Revezamentos, dias 1 a 2 de maio, em Silésia, na Polônia, causou polêmica logo que foi anunciada. Atletas, técnicos e pessoas envolvidas com o esporte logo reagiram nas redes sociais –e em comunicados oficiais– após a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) anunciar os 18 nomes que formarão as equipes do 4x100m (masculino e feminino) e do 4x400m (misto). A competição na Polônia vale classificação para o time de revezamento feminino do Brasil, o único dos três ainda sem vaga para as Olimpíadas de Tóquio, no Japão. E o problema aconteceu justamente nessa equipe.

O que havia sido publicado pela CBAt era que seriam convocadas 5 atletas para formar o time do 4x100m. Logo, quatro titulares e uma reserva. No entanto, em uma reunião do Conselho Técnico, na quarta-feira passada, tudo mudou e sete nomes foram chamados: Vitoria Rosa, Ana Carolina Azevedo, Rosangela Santos, Lorraine Martins, Ana Claudia Lemos, Vida Aurora Caetano e Anny Caroline de Bassi. As quatro primeiras estão em treinamento em Chula Vista, nos Estados Unidos, enquanto as outras três permanecem no Brasil. O Mundial da Polônia garante vaga em Tóquio para todas as equipes finalistas que completarem a prova.

Pois bem, o erro está entre o publicado e o acordado em reunião do Conselho Técnico realizada em 21 de dezembro do ano passado. O que está no papel: “Para as equipes de revezamentos 4x100m e 4x400m, masculino e feminino, serão convocados os 5 (cinco) primeiros colocados do Ranking Brasileiro Adulto das provas de 100m rasos para os revezamentos 4x100m e 400m rasos para os revezamentos 4x400m, no período de 01/10/2020 a 11/04/2021”.

A polêmica, porém, estava no segundo item que define quem estaria elegível para a convocação: o atleta que “alcançar resultado técnico na temporada de 2021 equivalente a 96% (ou melhor) da sua melhor marca pessoal”. No entanto, não era para estar escrito “melhor marca pessoal” e, sim, melhor marca no período de 1º de outubro de 2020 a 11 de abril de 2021. E isso muda a convocação.

Olhando apenas as cinco primeiras do ranking, a convocação teria: Vitória Rosa (11s20), Ana Carolina Azevedo (11s33), Ana Cláudia Lemos (11s38), Rosângela Santos (11s46) e Lorraine Martins (11s50). Mas tanto Ana Cláudia (11s01) quanto Rosângela (10s91) tem, na carreira, tempos bem melhores do que os atuais. Ou seja, fora da margem de 96% tratada no documento de convocação da CBAt. São as duas atletas mais rápidas do país na história e ficariam fora da lista, dando lugar à Vida Aurora, grande revelação nacional, de apenas 20 anos, que correu com 11s52, e também à Anny de Bassi, com 11s55.

Entretanto, o acordado –não o escrito– era diferente: os 96% deveriam ser calculados levando em consideração a marca que colocou a atleta no Mundial e não a melhor marca da carreira pessoal. A ideia por trás do critério acordado era para não levar atletas que estivessem fora de forma ou lesionados após fazerem boas marcas na retomada das competições, no final de 2020. Não é o caso nem de Rosângela, que tem bons resultados em provas indoor neste início de ano, nos Estados Unidos, nem de Ana Cláudia, que conseguiu uma grande marca mesmo com as restrições de treinamento pela qual passa no Brasil.

Ou seja, ocorreu uma falha na publicação dos critérios, divergindo do que foi discutido e decidido em reunião do Conselho Técnico. E esse problema só foi detectado no momento em que a CBAt foi fechar a delegação na data final do prazo estabelecido: em 11 de abril. Com dois critérios diferentes, o Blog Olímpico apurou que a CBAt preferiu “não prejudicar as atletas que conseguiram atender um ou outro critério”. Por isso vai levar sete velocistas para o Mundial de Revezamentos. A confusão foi tamanha que uma das atletas que está treinando com a delegação brasileira nos Estados Unidos, a Bruna Farias, nem sequer se encaixou em um ou em outro critério de convocação. Bom lembrar que, desde a reunião, a publicação dos critérios e a atual convocação, o comando da CBAt mudou de mãos em eleição realizada no mês passado.

Os brasileiros estão treinando no Chula Vista Elite Athlete Training Center dentro do Programa de Preparação Olímpica (PPO), numa parceria entre a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e o Comitê Olímpico do Brasil (COB) para os Jogos de Tóquio, de 23 de julho a 8 de agosto – o atletismo começa no dia 29 de julho. O COB, segundo apuração do Blog Olímpico, entende que houve um erro no critério de seleção das atletas, mas que “não justifica a convocação”. O COB, no entanto, dá autonomia à CBAt e à qualquer confederação na formação das suas equipes nacionais.

As convocadas para a Mundial que já treinam em Chula Vista ficam em San Diego, na Califórnia, até o dia 27, quando embarcam para a Europa. Lá na Polônia encontrarão as atletas que conseguiram as marcas e estão treinando no Brasil. Ou seja, com pouco tempo de treinamento em conjunto para as sete atletas juntas. Todas elas estão inscritas no Mundial de Revezamento.

No masculino, por ter sido campeão no Mundial de Revezamentos de 2019, a equipe do 4x100m do Brasil já está classificada para Tóquio e, na Polônia, deve correr com Rodrigo Nascimento, Felipe Bardi, Derick Souza e Paulo André Camilo.