Curry ajudou a transformar a NBA, mas revolução foi o sistema de jogo dos Warriors
Tido por muitos como o melhor arremessador de todos os tempos da NBA, Stephen Curry ultrapassou o icônico pivô Wilt Chamberlain como maior pontuador da história do Golden State Warriors na noite desta segunda-feira, ao anotar o 19º dos seus 53 pontos contra o Denver Nuggets jogando no Chase Center, em São Francisco, na Califórnia. O marco rendeu comentários e análises sobre o papel do armador não só com a camisa da tradicional franquia, terceira no ranking de títulos, mas na história do basquete, símbolo que é de uma revolução acontecida ao longo dos anos 2010.
Com seus 17.818 pontos na carreira, todos por um só time – fato raríssimo na liga -, Curry ultrapassou em números totais um dos maiores nomes do esporte, ainda que não haja comparação na média por jogo. Chamberlain anotou 41,5 pontos em seis temporadas pelo Philadelphia Warriors/San Francisco Warriors, entre 1959 e 1965. Curry tem 23,9 e está na sua 12ª temporada. Mas o próprio fato de ter demorado tanto a alcançar a marca em números absolutos diz muito sobre o seu real legado.
Ao passo em que recordes individuais e prêmios se acumulam, incluindo dois MVPs, Curry foi e é o símbolo de uma era do basquete marcada pela coletividade e pela estratégia de jogo baseada em análise de dados. Os cinco títulos consecutivos da Conferência Oeste conquistados pelo Golden State Warriors, de 2014/2015 a 2018/2019, com três troféus da NBA e duas derrotas em finais, o recorde de 73 vitórias em uma temporada regular (2015/2016) e uma mudança de paradigma reproduzida – ou, pelo menos, tentada – por quase todas as outras franquias podem ser mais atribuídas ao sistema de jogo desenvolvido na área da Baía de São Francisco e liderado atualmente pelo técnico Steve Kerr do que pela atuação de uma ou outra estrela.
Os arremessos de três pontos dos Splash Brothers (tem alguém com saudade de Klay Thompson?) são marca registrada, mas não acontecem por acaso. Privilegiar as tentativas do perímetro e os arremessos embaixo da cesta, em detrimento dos chutes de meia distância – cujo aproveitamento historicamente é parecido com os tiros de três, mas valem dois – são um exemplo de como a análise de dados modificou o esporte. A velocidade no jogo de transição e os passes longos, pegando o adversário desprevenido. A troca constante de marcação e a capacidade de todos os jogadores defenderem todas as posições. A inovação de atuar sem um pivô de origem, transformando a própria função do pivô na liga. A movimentação incessante de bola, sempre em busca do melhor jogador posicionado, e os recordes de assistências. Eis o que fez do Warriors a primeira dinastia do século XXI no basquete.
Curry foi o melhor jogador desta máquina azeitada, é capaz de acertar arremessos do meio da quadra com naturalidade, mas não teria o mesmo sucesso sem Draymond Green, Klay Thompson e todos os outros atletas, mais ou menos talentosos, que cumpriram seus papeis, determinados meticulosamente por uma sensível e inovadora comissão técnica. Fundamental também o suporte da diretoria e a estabilidade e visão de longo prazo dos donos da franquia. O melhor entre os melhores arremessadores passará para a eternidade como uma estrela humilde, de grupo, sem vaidades, que se diverte em quadra e tira o melhor de cada companheiro. Wilt Chamberlain pode continuar a ser o maior jogador da história dos Warriors. Stephen Curry permanece dando risada e encantando, noite após noite.
Curry na história do Golden State Warriors
1º em total de pontos (17.818)
1º em cestas de três pontos (2.719)
1º em assistências (4.893)
1º em aproveitamento de lances livres (90,7%)
2º em roubos de bola (1.264)
3º em partidas jogadas (745)
3º em aproveitamento de três pontos (43,3%)
Curry na história da NBA
1º em aproveitamento de lances livres
2º em cestas de três pontos
7º em aproveitamento de três pontos
69º em assistências
78º em roubos de bola
79º em total de pontos