Precisamos falar sobre suicídio

Esse não é um tema fácil, mas nós precisamos falar sobre ele. Nas últimas semanas, tem preocupado as recentes notícias de pessoas buscando tirar a própria vida. Entre suicídios e tentativas, foram três casos, em Mandaguari e Jandaia do Sul.

Os números, infelizmente, seguem uma tendência mundial. A Organização Mundial de Saúde (OMS) colocou o suicídio como questão crítica de saúde pública e estima que pelo menos 800 mil pessoas se suicidam por ano. A cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida. Praticamente o mesmo tempo que você levou para ler até aqui.

Mas é importante lembrar que o suicídio é uma causa de morte que pode ser evitada, e não são poucas as iniciativas para que pessoas depressivas, pensando em tirar a própria vida, reconsiderem e deem mais uma chance para si mesmas.

Hoje, uma das principais é o Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza um serviço de apoio emocional e prevenção do suicídio. O CVV presta atendimento voluntário e gratuito para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Os atendimentos são feitos por telefone (188), e-mail e chat 24 horas, todos os dias (www.cvv.org.br).

Também na internet, criaram-se os alertas de gatilhos emocionais, conhecidos em inglês como “trigger warnings”. A ideia é colocar o aviso antes de textos com conteúdos que possam ser considerados sensíveis, como casos de abusos sexuais, violência e crimes. Assim, é possível proteger pessoas depressivas de terem acesso a algo “pesado” demais para elas.

 

Números

2016 foi o último ano em que o Ministério da Saúde publicou dados sobre suicídio no país. Os números foram alarmantes: naquele ano, 11.433 pessoas morreram por “lesões autoprovocadas intencionalmente”, o maior número desde que o órgão começou a fazer este levantamento. Somente no Paraná, foram 768 paranaenses que perdemos para a depressão.

Outro ponto que é destaque nas discussões sobre suicídio é a faixa etária das vítimas. Essa é a segunda causa de morte no planeta entre jovens de 15 a 29 anos, ficando atrás apenas da violência. Entre idosos, os números também assustam. Foi registrada uma média de 8,9 mortes a cada 100 mil pessoas com mais de 70 anos.

Quando o ponto de análise é o gênero, os homens são os que mais se suicidam, 79% do total, enquanto o número de mulheres é 3,6 vezes menor, 21%.

 

Mandaguari

Um levantamento realizado pela 55ª Delegacia de Polícia Civil a pedido da reportagem, apontou que no último ano três casos de suicídio foram registrados em Mandaguari, dois por arma de fogo e um por enforcamento.

Neste ano, somente um caso foi registrado até o momento. No ano de 2017 não houve registros.

O suicídio é um fenômeno complexo que pode afetar indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero. Mas o suicídio pode ser prevenido. Saber reconhecer os sinais de alerta em si mesmo ou em alguém próximo a você pode ser o primeiro e mais importante passo. Confira os sinais mais comuns:

• As pessoas sob risco de suicídio costumam falar sobre morte e suicídio mais do que o comum, confessam se sentir sem esperanças, culpadas, com falta de autoestima e têm visão negativa de sua vida e futuro. Essas ideias podem estar expressas de forma escrita, verbal ou por meio de desenhos;

• Expressão de ideias ou de intenções suicidas, como “Vou desaparecer.”, “Vou deixar vocês em paz.”, “Eu queria poder dormir e nunca mais acordar.”, “É inútil tentar fazer algo para mudar, eu só quero me matar.”;

• As pessoas com pensamentos suicidas podem se isolar, não atendendo a telefonemas, interagindo menos nas redes sociais, ficando em casa ou fechadas em seus quartos, reduzindo ou cancelando todas as atividades sociais, principalmente aquelas que costumavam e gostavam de fazer.

 

Ainda é um tabu falar sobre suicídio. O assunto é tão complexo que muitas pessoas evitam comentar a respeito. Porém, o Ministério da Saúde afirma que esta nem sempre é a melhor decisão. Um problema dessa magnitude não pode ser negligenciado. Sabemos hoje que o suicídio pode ser prevenido. Uma comunicação correta, responsável e ética é uma ferramenta importante. Veja a seguir algumas formas de se abordar e acolher uma pessoa com pensamento suicida:

• Encontre um momento apropriado e um lugar calmo para falar sobre suicídio com essa pessoa. Deixe-a saber que você está lá para ouvir, ouça-a com a mente aberta e ofereça seu apoio.

• Incentive a pessoa a procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio em algum serviço público. Ofereça-se para acompanhá-la a um atendimento.

• Se você acha que essa pessoa está em perigo imediato, não a deixe sozinha. Procure ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência e entre em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa.

• Se a pessoa com quem você está preocupado (a) vive com você, assegure-se de que ele(a) não tenha acesso a meios para provocar a própria morte (por exemplo, pesticidas, armas de fogo ou medicamentos) em casa.

• Fique em contato para acompanhar como a pessoa está passando e o que está fazendo.

 

O Ministério alerta ainda para frases que, ao serem ditas, podem prejudicar ainda mais a situação da pessoa deprimida. Confira o que NÃO dizer

• Não condenar/ julgar: “Isso é covardia.” “É loucura.” “É fraqueza.”.

• Não banalizar: “É por isso que quer morrer? Já passei por coisas bem piores e não me matei.”

• Não opinar: “Você quer chamar a atenção.” “Isso é falta Deus.” “Isso é falta de vergonha na cara.”

• Não dar sermão: “Tantas pessoas com problemas mais sérios que o seu, siga em frente.”

• Não falar simplesmente frases de incentivo vazias: “Levanta a cabeça, deixa disso.” “Pense positivo.” “A vida é boa.”

 

Onde buscar ajuda?

A seguir, confira alguns órgãos e unidades que prestam atendimentos em casos de emergência no atendimento à pessoa com crises suicidas:

  • Centro De Atenção Psicossocial De Mandaguari [CAPS]: (44) 3233-9405
  • Unidades Básicas de Saúde [Saúde da família, Postos e Centros de Saúde]
  • Serviço de Atendimento Móvel de Urgência [SAMU]: (44) 3233-0144
  • Centro de Valorização da Vida [CVV]: 188 ou www.cvv.org.br

 

* Matéria publicada na 304ª edição do Jornal Agora.