“Jogo dos tronos”

A semana começou com gosto amargo para os fãs de cultura pop. Após uma década, a série Game of Thrones chegou ao fim, mas não da forma como muitos dos apaixonados pela atração gostariam.

Quem olha de fora enxerga na produção um amontoado de pessoas trajadas em roupas medievais, combates violentos, dragões e até uma pitada de misticismo, mas o que prendeu espectadores por dez anos foi a trama política na disputa pelo trono de ferro.

A primeira temporada deixa clara essa disputa, no momento em que uma família do Norte vai à capital de Westeros, país fictício onde ocorre a história. Fora de seu território, os nortenhos são vítimas de uma conspiração feita por pessoas que até então eram consideradas suas aliadas e juravam lealdade eterna. É o gatilho para desencadear uma série de conflitos e o jogo pelo poder.

Por mais que centenas de elementos ficcionais estejam envolvidos, é a semelhança com as intrigas políticas da vida real que realmente chamam atenção. Quem será o próximo rei ou rainha? Quais negociatas o governante terá de fazer para ter sua legitimidade confirmada por outros lordes? Está tudo lá.

E, ainda no pacote de similaridades com a vida real, a série mostra algumas dezenas de vezes que o articulador não necessariamente precisa ser aquele que pretende governar. No xadrez do poder, um bom jogador consegue usar o povo e até mesmo reis e rainhas como peões.

Não por acaso, a abertura apresenta uma roda com os símbolos das casas envolvidas na disputa pelo trono. Ao mesmo tempo que lembra ao espectador quais são os jogadores da trama, a roda mostra que quem está por cima pode acabar tendo sua situação invertida, e vice-versa.

No meio do caminho há uma personagem que se mostra disposta a quebrar essa roda, mudar o sistema e a maneira como as coisas funcionam. Mas, como isso não é do interesse dos outros jogadores, invariavelmente ela acaba entrando nas regras da disputa, para depois ser esmagada pela própria ambição.

Com tantos elementos e investimento absurdo, é de se espantar que Game of Thrones tenha decepcionado em seu desfecho. Talvez fossem necessários mais alguns episódios para “amarrar a trama”, pois o que era um complexo tabuleiro de xadrez se resumiu em um simplório jogo de damas.

Por mais que o final tenha decepcionado a muitos, acredito que o legado da série está em sua jornada e nos ensinamentos que ficam, para os produtores de conteúdo e para os espectadores. Um deles é o de que investir em produções voltadas exclusivamente à televisão é, sim, lucrativo.

A segunda mensagem está no enredo, e é a mais importante. A história nos ensina que, no jogo político, não existe amor ou ódio eterno. Não há lealdade ou rixa que não possa ser deixada de lado em troca de um punhado de terras – ou cargos e benesses.

* Roberto Júnior é editor do Jornal Agora