Elas fazem a diferença

Celebrado em 8 de março, o Dia Internacional da Mulher foi instituído para que se comemore e valorize todas as conquistas femininas alcançadas ao longo de séculos de luta, seja no âmbito pessoal ou profissional.

Para celebrar a data, a reportagem do Jornal Agora ouviu mandaguarienses que se destacam em suas respectivas áreas.

 

Política

Maria Inês Botelho

Maria Inês Botelho foi a primeira prefeita de Mandaguari. Ela chefiou o Executivo local de 1996 a 2000, e, antes disso, foi vereadora em duas gestões, de 1983 a 1988 e de 1989 a 1992. Com currículo extenso na política, foi presidente da Associação dos Vereadores do Vale do Ivaí, fez parte da diretoria da Amusep, foi presidente de partidos locais e representou os prefeitos do Paraná junto ao Conselho Estadual do Fundef.

Ela conta que ingressou na vida pública a convite do ex-prefeito Antônio Galera Gonçalez. “Ele me chamou para assumir a Inspetoria Municipal de Ensino, que hoje significa Secretaria Municipal de Educação”, detalha. Posteriormente, Maria Inês acabou assumindo a Inspetoria Estadual de Educação. Alguns anos depois veio o convite para participar da política.

Atualmente, Maria Inês se dedica a clubes como Rotary e Elos, além de participar da União dos Jornalistas e Escritores de Maringá (Unijore) e outras entidades. Ela afirma que contou com muito apoio enquanto disputava cargos eletivos, e acredita que o público feminino deva, sim, investir em carreira política.

“É óbvio que o caminho é longo. A própria mulher, às vezes, não quer se expor, mas acho que a sociedade já está habituada com um quadro Legislativo ou Executivo composto com a presença feminina. Para mulheres que querem ingressar na área, digo que devem abraçar a causa, se envolver, porque suas vidas também estão inseridas no contexto político-partidário”, declara a ex-prefeita.

“Temos atualmente conquistas como a Lei Maria da Penha, a lei do Feminicídio e outras situações que só foram conquistadas porque houve mulheres que chegaram ao Congresso Nacional e conseguiram ultrapassar diversas barreiras”, conclui.

Márcia Serafini

Engana-se quem acredita que a atuação da vereadora Marcia Serafini está distante de sua carreira na enfermagem. Na verdade, de acordo com ela, uma levou a outra. “Eu atuava como secretária de saúde e eu via a necessidade das pessoas. Entendi que é importante ter um representante da área da saúde no Legislativo, pois temos vivência e conhecemos a realidade do setor”, conta.

O interesse pela vida política logo se tornou um objetivo. Em 2016, aos 44 anos, Marcia se lançou como vereadora e o resultado todos já sabemos. “Me senti acolhida, tanto pelos familiares quanto pela população. Fui a terceira mais votada daquele pleito e me sinto honrada pela chance que recebi da população para buscar o melhor para Mandaguari. ”

Questionada sobre preconceitos enquanto mulher vereadora, ela reconhece que enfrentou dificuldades. “Uma parte das próprias mulheres não nos apoia. É triste dizer isso, mas enfrentamos resistência até entre nós. Algumas ainda duvidam que temos capacidade”, lamenta.

Outro ponto importante é o fato de o cuidado com o lar e os filhos serem visto como delas. “Além de desempenharmos nosso papel profissional, temos trabalhos relacionados à vida familiar, onde a mãe e a esposa são o alicerce. Acabamos sendo sempre sobrecarregadas, mas é louvável a forma como suportamos tudo sem reclamar”, afirma.

Apesar de as mulheres ocuparem cada vez mais áreas no mercado de trabalho, nem tudo são flores na caminhada. Às vezes parece que elas só aparecem em datas comemorativas, como o Dia da Mulher. Nos outros 364 dias do ano, precisamos lidar com os espinhos. “Não importa o tamanho do esforço ou da luta, o reconhecimento na maioria das vezes não vem. Quantas vezes não ouvimos que não fizemos mais do que nossa obrigação?”, questiona.

Entretanto, apesar de todos os desafios, o mundo da política só cresce quando mulheres fazem parte dele. “Para as que têm esse anseio de fazer parte da política e trabalhar para fazer uma sociedade melhor, meu recado é que sigam firme e não desistam. O mundo só tem a ganhar com homens e mulheres trabalhando juntos, como iguais, em todas as áreas possíveis”, finaliza.

 

Mercado de trabalho

Nayara Braga

Conquistar espaço no mercado de trabalho não deixa de ser um desafio, mas o público feminino tem avançado no cenário. Um estudo divulgado em 2018 através de parceria do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ) mostra que o número de mulheres envolvidas em negócios com até três anos e meio de atuação no mercado alcançou uma taxa de 15,4%, enquanto o segmento masculino somou 12,6% de participação.

Um exemplo de empreendedora é a cirurgiã-dentista Nayara Braga, que completa 30 anos em 14 de março. Ela se formou em 2010, e três anos depois investiu na abertura de sua própria clínica odontológica através de uma franquia, a OdontoCompany. À reportagem, ela relata que contou com o apoio do marido, Fernando, que é dono de uma empresa da área de uniformes. “Sempre foi muito apaixonada pela odontologia, e decidi com ele investir na clínica”.

Quando perguntada sobre como é estar à frente de uma empresa sendo mulher, Nayara contou que não sofreu preconceito algum. “Sempre soube me impor como profissional, e acredito que um profissional deve ser respeitado pelo que faz, independente de qual seja o seu sexo”.

Ao Jornal Agora, a jovem falou ainda sobre outro desafio, o de ser mãe, pois recentemente deu à luz o bebê Enrico. “A maternidade requer também grande dedicação, principalmente nos primeiros meses. Mas, como tenho uma equipe incrível, extremamente competente, ficou muito mais fácil pra eu poder conciliar a maternidade com o trabalho. Fiquei muito mais focada e agora consigo administrar melhor meu tempo para poder chegar em casa mais cedo e ficar com meu filho”, aponta.

 

 

Segurança pública

Soldado Juliane

O nome dela é Juliane Romão Gaviolli, mas no uniforme está “Soldado Juliane”. Dos 30 anos de idade, os últimos cincos foram dedicados à segurança pública. Ela é uma das quatro mulheres que atuam no pelotão da Polícia Militar de Mandaguari.

“Sou formada em Pedagogia, com especialização em Psicopedagogia, mas me tornei policial por oportunidade. Prestei o concurso da corporação e passei. Porém, posso dizer que me encontrei enquanto policial. Sempre amei e admirei a profissão”, conta.

Em um primeiro momento, a escolha não foi compreendida pelos pais que, obviamente, ficaram receosos quanto a escolha da filha. “Eles tinham muito medo por ser uma profissão complicada, perigosa. Minha mãe dizia para eu aguardar um concurso e ser professora, mas o amor pela nova profissão falou mais alto”, relata.

Com um filho de dois anos, Soldado Juliane diz que agora sente na pele o receio que seus pais sentiram quando ela começou na carreira. “Quando somos sozinhos, temos medo de deixar familiares e amigos, claro. Mas com um filho pequeno, que depende da gente, esse medo aumenta muito, pois não temos opção. Precisamos voltar para casa. ”

Diferente do que algumas pessoas ainda acreditam, a atuação de mulheres na Polícia Militar em nada deixa a desejar. “Ouço algumas colegas dizendo que, no início, as mulheres que ingressavam na corporação sofriam preconceito. Agora, isso não existe mais. Recebemos o mesmo treinamento que os homens e, na rua, é tudo de igual para igual. Se precisar rolar no chão com marmanjo maior do que a gente para fazer nosso trabalho, vamos rolar. Estamos preparadas para isso”, brinca.

E para as mulheres que desejam trabalhar com segurança e ajudar a proteger as pessoas, o recado da Soldado Juliane é: “Temos força para trabalhar com o que quisermos. Se tiver vontade, tem que batalhar, estudar, treinar a parte física, fazer o concurso e entrar. Força e capacidade temos de sobra!”

 

* Matéria publicada na 292ª edição do Jornal Agora