Moda de viola & coração apaixonado

A mãe. A matriarca enviou aviso a todos os dez filhos. Estava cada um em um bar da cidade. Venham logo, senão o pai de vocês morre.

-Já fiz tudo o que podia.

Realmente. Desde que o marido pusera aquela ideia na cabeça, só ia de mal a pior. Definhando a cada dia. Ladeira abaixo.

Ela mandava na casa. No terreiro do sítio. Mas, não podia mandar na vida dele. Durona.

-Ele escolheu ser assim. Que que posso fazer?

Ninguém tinha coragem de contrariá-la. Metódica. Aceitava o jogo do marido. A vizinhança até já tinha  se acostumado. Amigos.

Ela dando as ordens na casa e na lavoura. A caminhonete dele chegando, quando chegava, altas horas. Política, cerveja e uma casa mobiliada para uma dona, na cidade. Numa rua calma.

O casal tinha vindo de longe. Formado a fazenda. Colheitas enormes de café. Enricaram. Podres de ricos, dizia o dono da venda, marcando na caderneta.

Os filhos gastavam o que podiam. Tinham puxado o pai. Menos na parte do trabalho.

Agora, esta. O velho recusava – se a alimentar-se. Nem água queria.

A vizinhança se alarmava, mas conhecendo o nariz empertigado da família, ninguém mexeu um dedo sequer.

Ela não contava pra ninguém. Ele decidiu se entregar. Deitado no assoalho da sala. Casa de madeira. Desistira de tudo desde que a namorada desmanchou. Abandonou.

Ficou tão ferido . Orgulho machucado. Que não queria mais viver.

Os filhos. Nenhum atendeu ao chamado dela.

A missa de sétimo dia aconteceu um dia após o feriado. Aniversário da cidade.

Donizeti Donha
professor e Escritor