Dramas familiares

Royal City: Segredos em família

O canadense Jeff Lemire atualmente é um dos nomes mais influentes dos quadrinhos. Seu nome está associado desde a produção autoral quanto a personagens importantes das grandes editoras americanas como Marvel e DC Comics.

Com várias indicações aos principais prêmios como o Schuster Award e o Eisner Awards, que é considerado o Oscar dos quadrinhos, é criador da aclamada série Black Hammer, que já vendeu mais de 60 mil exemplares no Brasil.

Royal City: Segredos em família é uma graphic novel escrita, roteirizada e ilustrada pelo canadense. A história acompanha o drama vivido pelos integrantes da família Pike, que carregam, cada um a seu modo, o trauma da morte do caçula, Tommy. Anos depois do fatídico acontecimento, o patriarca, Peter, sofre um derrame, fato que põe outra vez frente a frente a mãe, Patti, e os filhos Patrick, Tara e Richie. Cada membro da família se relaciona regularmente com Tommy, que se materializa conforme a visão particular de cada um, ora um padre, ora um alcoólatra ou na forma de um adolescente.

Royal City: Segredos em família tem pegada cinematográfica, até poderia ser roteiro de um filme ou série. Diálogos afiados, que imprimem bem todo trauma e dor entranhados nas relações dessa família disfuncional. A cidade retratada no papel também assume a função de personagem, emanando todo o pessimismo e amargura dos Pike.

Rosalie Lightning

Ter um filho muda tudo. Não só a rotina ou de dinheiro; muda a perspectiva. Passamos ver a vida de outra maneira. Enxergamos nossos pais com outro olhar. Enxergamos o futuro com um misto de entusiasmo e apreensão. Enxergamos a nós mesmos como realmente somos.

Filhos são nossos espelhos, carregam nosso DNA e nosso sobrenome. São eles que perpetuarão nossa alma depois que o corpo descansar. O que fazemos em vida é deixar marcas: um afago quando eles acordam, uma sessão de cócegas, um passeio de mãos dadas pelas ruas da cidade, um beijo de boa noite por cima do pijama. Mas somos desconfiados, somos inseguros: queremos deixar marcas físicas também, queremos a certeza material de que não seremos esquecidos.

Agora, imagine quando a notícia ruim vem mesmo de forma inesperada. E quando você está recém -escobrindo o que é ser pai.

Foi o que aconteceu com o cartunista americano Tom Hart e sua mulher, a artista gráfica Leela Corman. Rosalie, sua filhinha que adorava catar bolotas, ver tartarugas e sonhava em conhecer o labirinto do milho, morreu de repente, com menos de dois anos.

“O que você faz quando sua filha morre?”, pergunta Hart. “Você cai num buraco”.

Tom Hart caiu, profundamente. Mas reergueu-se e fez uma história em quadrinhos, Rosalie Lightning: Memórias Gráficas. Trata-se de uma obra dolorida e melancólica, como era de se esperar, mas cheia de amor e de criatividade. Com extrema sinceridade, o que garante momentos tocantes, mas com algum distanciamento crítico, Hart reproduz o seu estado de espírito após a partida prematura. Os desenhos, por vezes, são um borrão, como a ilustrar a confusão e o desânimo total, em outras, os traços ficam mais nítidos e delicados, representando a alegria e a esperança.