Hacker diz que fez parte da chantagem contra padre Robson na delegacia após ser preso e teve que dar R$ 165 mil a delegado

O hacker Welton Ferreira Nunes Júnior, uma das cinco pessoas condenadas pela Justiça por extorquir dinheiro do padre Robson de Oliveira, disse em depoimento à Justiça que e-mails e imagens usados na chantagem foram criados de “dentro da delegacia”, quando estava preso. Ele contou ainda que o delegado Kleyton Manoel Dias, responsável pela investigação do caso, consentiu o procedimento e, após a montagem do material, cobrou dele R$ 165 mil.

À TV Anhanguera, o delegado disse que não ia comentar o assunto. A Polícia Civil informou que a Corregedoria apura o caso. Já a defesa do padre Robson afirmou que o fato “somente reafirma que todo o conteúdo das mensagens mencionadas é falso” (leia na íntegra o posicionamento ao final do texto).

O processo de extorsão ao padre originou a Operação Vendilhões, deflagrada pelo MP para apurar desvios de doações feitas por fiéis à Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), responsável pelo Santuário Basílica de Trindade, cidade na Região Metropolitana de Goiânia. Fundador e presidente da entidade, padre Robson se afastou das funções temporariamente. Ele nega qualquer irregularidade.

O depoimento de Welton consta no processo de extorsão. Nele, o hacker conta que foi contratado e receberia R$ 1,5 milhão para “pegar informações do padre” por uma suspeita de que ele tinha um caso amoroso. No entanto, ele optou por chantagear o próprio religioso, pedindo um valor maior – R$ 2 milhões – para não divulgar as supostas provas contra ele.

No processo, consta que Welton também teria um caso amoroso com o padre Robson. O hacker, apontado como o mentor da extorsão, disse que em todo momento conversou com o religioso por um aplicativo de mensagens.

Welton afirma que somente após a prisão é que começou produzir o material contra o padre e criar o e-mail que foi enviado com ele. Tudo isso, segundo ele, na delegacia e com a permissão do delegado.

“Eu fiquei uma semana lá na Deic [Delegacia Estadual de Investigações Criminais] criando isso aí (…). Fiquei uma semana dentro da sala do delegado fazendo isso aí”, disse Welton no depoimento.

Uma dessas criações é um e-mail enviado ao padre em 24 de março de 2017. Usando a alcunha “Detetive Miami” – também criada na delegacia, segundo ele – o hacker escreve que está com “cópia de todos os seus emails” e “dois anos de conversa no WhatsApp”.

No texto, ele cita ainda um suposto “caso” do religioso com uma mulher e cobra R$ 2 milhões para não divulgar o material.

No tempo em que ficou detido, ele disse que ficou preso “na sala do delegado”, que dormia e tomava banho lá. Welton afirmou ainda que, quando terminou de criar o material, o delegado e alguns agentes começaram a cobrar dinheiro dele e até a agredi-lo. Ele diz que pagou, mas que o dinheiro era próprio e não da extorsão ao padre.

“Quando nós terminamos, aí o delegado falou 'eu quero dinheiro, eu quero dinheiro', e batia em mim (…). O dinheiro ficou com eles, né. Em torno de R$ 165 mil”, disse.

Entenda o caso

  • No dia 21 de agosto, o MP deflagrou a Operação Vendilhões, que apura desvios de verba e lavagem de dinheiro na Afipe
  • A ação apura o uso de dinheiro da Afipe – em sua grande maioria doada por fiéis – na compra de fazendas, casas de praia e outros imóveis de luxo. O MP afirma que eram usados “laranjas” e empresas de fachada para a prática dos crimes
  • Um processo de extorsão sofrido pelo padre Robson originou a ação do MP. A Justiça afirma que um hacker extorquiu o pároco tinha um romance com ele e ameaçava expor casos
  • A investigação aponta que a Afipe movimentou cerca de R$ 2 bilhões na última década. Ao menos R$ 120 milhões teriam sido desviados
  • Fundador e presidente da Afipe, padre Robson se afastou do cargo por conta da operação. Ele era o responsável por gerir um orçamento de R$ 20 milhões mensais

Nota da Polícia Civil:

Em relação ao questionamento formulado, a Polícia Civil de Goiás informa que a atual gestão instaurou procedimento na Corregedoria da instituição para apurar eventual transgressão disciplinar de policiais civis. O procedimento é sigiloso enquanto estiver em andamento, razão pela qual não serão prestadas maiores informações.

Nota do padre Robson:

Isto somente reafirma que todo o conteúdo das mensagens mencionadas é falso. Os responsáveis já foram condenados pelo Judiciário com severas penas. Este processo, no qual o padre Robson figura como vítima destes criminosos, está sob sigilo, conforme decisão do Tribunal de Justiça de Goiás.