Sandy & Jr revelam bastidores da carreira em série: “foi uma terapia aberta”

É inegável que as vidas de Sandy e Júnior foram muito bem documentadas ao longo dos seus mais de 30 anos de carreira. Afinal, desde sua primeira apresentação no palco do programa Som Brasil, no final dos anos 1980, o país acompanha o crescimento dos irmãos, literal e profissionalmente. Além dos discos e clipes, foram numerosas as entrevistas, apresentações ao vivo, sessões de fotos e, claro, fofocas que saciaram a curiosidade dos fãs sobre seus ídolos e deram a sensação de que se sabia tudo sobre eles. No entanto, 13 anos depois da despedida da dupla, Sandy e Júnior abrem para o público detalhes inéditos da sua trajetória, revisitando momentos felizes e dolorosos na série documental Sandy & Júnior – A História, já disponível no Globoplay.

“Foi uma terapia aberta quase, sabe?”, definiu Júnior Lima durante entrevista coletiva virtual. “A gente acabou cutucando coisas muito profundas que a gente viveu”. Sandy também teve a mesma sensação. Para a cantora, o documentário foi uma oportunidade para que eles fizessem as pazes com determinados momentos da vida, algo que exigiu que ambos se permitissem ser mais vulneráveis. “Foi um ato de coragem”, disse Sandy. “[Mas] faz parte, cara. […] A gente ali está só sendo humano”. Júnior concordou: “foi desafiador, mas uma vez que a gente estava lá, foi delicioso e engrandecedor”.

A ideia do projeto surgiu enquanto a dupla planejava os shows da turnê Nossa História, que viajou o Brasil celebrando os grandes sucessos do duo no ano passado. “Foi no processo mesmo”, contou Sandy. “Primeiro, a gente decidiu registrar a turnê. Depois, isso virou um documentário”. De acordo com Júnior, durante esse tempo gradualmente foi ficando clara a necessidade de revisitar à própria história. “A gente ficou tanto tempo sem encostar em Sandy & Jr que decidimos ir de cabeça”, relembrou.

Além da óbvia jornada emocional, esse mergulho também significou fazer uma viagem até a casa dos pais, Xororó e Noely, para desenterrar fotos e fitas de VHS antigas das quais eles sequer se lembravam. Era tanto material que a dupla se pegou admirada com o que viram quando os episódios ficaram prontos. “Muitas coisas surpreenderam, eu fiquei ‘caramba, teve isso!’”, contou Sandy. “E outras estavam tão lá no passado que, vendo agora com meus olhos de 37 anos, eu pensei ‘nossa que pesado’ ou ‘que incrível! Não sabia que era tão legal!’. Muito louca essa experiência”.

De fato, não falta material de apoio para acompanhar os também numerosos depoimentos. Entre as falas de artistas e amigos dos irmãos, como Ivete Sangalo e Serginho Groisman, a série traz vídeos adoráveis dos dois pequenos gravando seus primeiros sucessos, assim como os bastidores nunca antes vistos da turnê de despedida, em 2007. No entanto, a abundância de imagens, por mais emocionante que seja, se tornou um problema. É tanta coisa para se ver e ouvir em episódios de apenas uma hora que a montagem por vezes fica aflitiva, principalmente porque os depoimentos acabaram picotados para que houvesse tempo para todo o resto.

Não à toa, “o maior desafio do documentário foi colocar tudo dentro do tempo, porque era muita coisa para contar”, explicou Sandy. “Tem que caber 30 anos em sete episódios”, completou o irmão.

Mas, como eles bem colocaram também ao longo da entrevista, Sandy & Júnior – A História foi pensado para agradar o público e, com tanta dose de nostalgia, ela certamente faz isso. Até os mais curiosos são atendidos, já que o seriado se propõe a revisitar questões mais delicadas no episódio “Boatos e Polêmicas”, um dos que mais emocionaram os dois.

“É aquela história: as pessoas veem as pingas que eu tomo, mas não os tombos que eu levo'”, disse Júnior sobre os rumores abordados no capítulo. “Adolescente, sempre tomei críticas e porradas como se fosse um adulto e tivesse consistência para lidar com aquilo – às vezes, não tinha, mas tive a sorte de assimilar essas coisas como gasolina para eu correr atrás das coisas. [Mas] dá para ver no trailer, tinha hora que eu tinha muita raiva. Isso também me machucou muito por muito tempo, tanto é que eu tive que me distanciar”.

Na época, realmente era muita coisa para dois adolescentes administrarem, por mais maduros que fossem. Por isso, para eles, este é o momento perfeito para rebobinar essa fita. “Agora a gente tem o distanciamento necessário para contar isso meio como quem vê de fora, sem se abalar, sem correr riscos emocionais”, analisou Sandy.

Tendo revisitado 30 anos das próprias vidas em arquivos variados e depoimentos de pessoas próximas, tanto Sandy quanto Júnior acreditam que tomariam decisões diferentes hoje. “Uma banheira de miojo dava para ter sido evitada”, lembrou o músico, rindo. “Uma capa ou outra de disco poderia ter ficado mais bonita…”. Mas a irmã mais velha resumiu como ambos encaram o passado: “poderia, mas essa história trouxe a gente até aqui, tornou a gente quem a gente é. Eu valorizo cada passo dela”.