Sandy e Junior lançam série e cantor relembra período de depressão: ‘A turnê ocupou um lugar de cura’

Chegou o dia da tão aguardada estreia da série documental Sandy e Junior: A História, que o Globoplay lança nesta sexta-feira, 10/7. Para falar sobre esse projeto, que mostra a trajetória de 30 anos de sucesso dos irmãos, eles mergulharam fundo no passado e resgataram questões pessoais e profissionais.

“Foi mágico, emocionante. Não esperava nem metade do que foi a turnê. E a ideia do documentário foi vindo depois. As coisas foram acontecendo e surpreendendo de um jeito que nem em sonho a gente podia imaginar. Agora estamos tendo a chance de reviver essa história e recontá-la através dos nossos olhos. É como se fosse uma terapia”, disse Sandy, no início do papo remoto.

“A história em si, todo mundo que acompanhou nossa carreira sabe, só que agora será mostrado como isso acontecia dentro da gente. Acabamos tendo a oportunidade de reviver a vida toda e olhar para tudo com a cabeça e a profundidade de agora, aos 36 e 37 anos. Vai facilitar para contar aos nossos filhos (risos)”, completou Junior.

A série documental partiu de um vasto acervo caseiro dos artistas. Mais de 250 DVDs foram compartilhados pela mãe da dupla, Noely, com gravações em casa e em programas de TV. Em sete episódios, a obra apresenta registros da infância e da adolescência dos irmãos, momentos em família e gravações de discos e clipes. Os trabalhos em dramaturgia e no mercado publicitário também estão lá, assim como o show no Rock in Rio de 2001 e a carreira internacional.

Sandy: “A gente tem o distanciamento necessário para poder contar isso, meio que quem vê de fora, sem se abalar e correr riscos emocionais, sabe? Estamos em outro momento da vida, eu com a minha carreira solo, ele com a dele, no papel de irmãos, bem amadurecidos. Muitas coisas me surpreenderam, coisas que eu nem lembrava. É um álbum da nossa história inteira esmiuçada.”

Junior: “A gente não está vivendo mais aquilo, é o nosso passado. Tivemos tempo de amadurecer e trabalhar isso dentro de nós. Acaba sendo uma terapia aberta, porque acaba cutucando coisas muito profundas que viveu.”

Material nunca mostrado

Sandy: “Tem um material de making of que nunca foi revelado, imagens do último show em 2007, de conversas privadas… Muitas coisas que os fãs nunca tiveram acesso. Para gente, foi novidade também. Fizemos pensando nos nossos fãs, até porque Sandy e Junior já tinha feito sua história como dupla. As pessoas pediram muito essa volta.”

Junior: “Na época, tinha uma pessoa que andava grudada com uma câmera filmando todos os bastidores. Aí chegou uma hora em que a gente acostumou e nem via mais, isso foi guardado, então teve material inédito até para gente. Quem é fã, acredito que vai gostar bastante. Esse doc é muito por carinho, até para mostrar o que construímos. Ajuda a gente a dimensionar coisas que viveu.”

Sandy descarta outro comeback da dupla

Sandy: “Todo esse projeto, o tamanho que ele tomou, o que teve de significado na vida das pessoas, merecia esse desdobramento, nossa atenção. Estou muito feliz de poder fazer isso, ter essa oportunidade, mas acho muito difícil que a gente faça de novo. Foi importante, lindo, emocionante, de um jeito que eu nem imaginava. Sou muito grata por essa experiência toda.”

Junior: “Estamos ansiosos para acabar esses últimos compromissos de Sandy e Junior e poder focar nas nossas carreiras. Eu tinha a ilusão de que ia conseguir, por exemplo, tocar a turnê e meus projetos pessoais. Não entendia a proporção que as coisas tomaram. Foi uma avalanche em nossas vidas. A coisa mais incrível que a gente fez na carreira, mas não sobrou tempo e energia para mais nada.”

“Esses são os últimos compromissos como Sandy e Junior, como a gente fez em 2007. É o encerramento para poder voltar a se dedicar a outras coisas.”

Junior cantor

Junior: “Entrei muito mais em contato com o Junior cantor. Antes, estava numa fase mais como produtor, instrumentista, de me realizar em outras camadas. Cantava basicamente no chuveiro (risos), e uma coisa ou outra que pintasse. E quando rolou essa tour, de fato, foi muito gostoso voltar a esse lugar, prazeroso. Comecei a me sentir mais à vontade, e com vontade de fazer.”

“Com essa pandemia, veio essa vontade de: 'Caraca, o que eu posso fazer, preso dentro de casa, para mim e para o meu público?'. E o que sei fazer de melhor é música. Então, fui tocar uma coisas soltas, sem pretensão, mais como um carinho na alma, uma válvula de escape.”

Como a turnê influenciou no trabalho individual

Junior: “Para mim, me ajudou muito a dimensionar as coisas e a entender onde estava Sandy e Junior na cabeça das pessoas, na minha cabeça, onde estava o Junior… Deu uma organizada. Me deixou com mais vontades do que eu estava antes, me acordou, lembrou de coisas que estavam apagadas dentro de mim, o prazer de revisitar aquele palco, mexer com dança, sabe? Coisas que a gente acaba resgatando de uma época que foi muito gostosa.”

Sandy: “Confirmei para mim mesma como eu amo fazer isso. Foi também o contraponto daquela mega turnê com minha carreira solo, que tem outra vibe. Escolhi estar aqui e quero voltar para esse tipo de trabalho. Foi legal ver isso, olha o que eu fazia e me realizava, e me realizou nesse momento, porque virei essa chavinha agora para ser a Sandy, de Sandy e Junior. Foi maravilhoso, amei viver aquilo, mas também estou pronta e com vontade de voltar para minha carreira solo.”

“Era para eu voltar este ano, estava com ideia de turnê, mas não tenho previsão para lançar músicas agora. Está tudo muito difícil de fazer. A gente está planejando coisas para lançar meio soltas, mas acho que projeto mesmo só ano que vem. Está complicado trabalhar no meio da pandemia, não posso receber ninguém na minha casa… Vou começar a planejar de acordo com o que for acontecendo.”

Irmãos e profissionais

Sandy: “A gente tem um caso específico de dois irmãos que cresceram juntos e que foram parceiros a vida toda. Mas aquele momento de individualidade e distanciamento natural que dois irmãos podem ter, com seus grupos de amigos e tal, a gente não teve ao longo da carreira. Quando não estava em casa ou na escola, estava viajando para trabalhar. Isso foi um desafio, porque é complicado separar o profissional do pessoal. A gente teve a sorte de construir uma relação muito boa e sempre se respeitou com muito amor e cuidado.”

“A gente passou 12 anos construindo e fazendo só uma relação de irmãos e aí, depois, se viu na mesma posição de ter que retomar à parceria (profissional). Isso foi interessante e desafiador. Cada um já tinha sua vida própria, casamento, filho…”

Junior: “Sem perceber, quando a gente viu já tinha um projeto em comum, lutava pelas mesmas coisas, foi criando uma parceria, era uma construção a dois. Fortaleceu os laços como irmãos. Se misturou muito, mas em certo ponto, a gente era basicamente só trabalho. Nossa carreira consumiu muito do nosso tempo. Hoje, assistindo, penso em como era possível caber tanta coisa no dia a dia.”

“Quando acabou Sandy e Junior (em 2007), o interessante foi o ressurgimento da relação unicamente de irmãos. Sabe quando dá uma aliviada de pressão? A gente não precisa ficar falando de trabalho. Foi bom por esse lado. Somos muito diferentes um do outro. Não era possível a gente ter uma discussão e entrar num palco brigado, tinha que se resolver. Criamos uma relação madura. Achamos nossa pegada. Óbvio que existiram tretas, mas foram pontuais, e a gente teve a sorte de ter cabeça para resolver, mãe e pai presentes para ajudar.”

Emoção à flor da pele

Junior: “Me emocionei muito assistindo à maioria dos episódios (da série).”

Sandy: “Eu chorei mais no primeiro e no quarto. Preparem o coração! (risos). Não quero que pareça pretensioso, tipo: 'Olha nossa história, como ela é incrível'. Não é isso, mas sei que muita gente tinha curiosidade. E quem se importa com isso, vai ver o outro lado e se emocionar. E é bom poder dar esse presente para os nossos fãs. O que vocês sempre quiseram ver, a gente agora está pronto para mostrar. É nossa história e só podia ser a gente ali, contando. Entendemos o lugar que nossas vidas e carreiras têm na vida de muita gente.”

Sem arrependimentos

Sandy: “Hoje, com certeza, eu ia segurar mais o Theo (filho dela e de Lucas Lima). Se ele fosse tentar ser artista na infância, não ia deixar. Mas nossa história aconteceu naquela época, e ela foi do melhor jeito que dava. Tenho zero arrependimento. Sou muito feliz de ter construído essa história porque ela me trouxe até aqui. Sou muito realizada. Claro que tive meus tropeços, dificuldades, tombos na vida, mas que são importantes para construção de quem a gente é.”

Junior: “Adoro colocar músicas antigas de Sandy e Junior para o Otto, ele tem 2 anos (risos). Mostro algumas musiquinhas mais infantis, como 'Aniversário do Tatu', e ele ama.”

Intensidade

Junior: “A intensidade dos fãs aumentou e se somou à saudade, e também à noção de que ia ser só essa turnê e que ia terminar de novo. A energia que eu senti, tenho certeza de que não vou viver de novo.”

Lado negativo

Junior: “Sempre recebi críticas, essas porradas que tomava ainda adolescente, como se fosse adulto e tivesse consistência para lidar com aquilo, mas não tinha. Tive a sorte de assimilar essas coisas como desafio, gasolina para eu correr atrás, então acho que acabou me projetando, me empurrando. Era meio que: 'Ah, é? Então, peraí!'. No trailer (da série), tem esse momento em que falo de raiva, e, de fato era. Tinha hora que eu estava ali gritando.”

“Isso me machucou muito, e por muito tempo, tanto que tive que me distanciar. Não tinha coragem nem estofo para lidar com esses assuntos. Aí veio um período de depressão, de pânico, uma série de coisas inevitáveis diante de tudo o que a gente viveu. Mas eu consegui superar. Tem um lado negativo, sim, como tudo na vida. Todo mundo vive isso.”

“Ocupou um lugar de cura para gente voltar para essa tour, para esses palcos, reencontrar os fãs, arranhar a superfície de Sandy e Junior, se reencontrar como artista pop. Tem várias maneiras de ser artista, né? E em cada projeto, eu ia buscar uma camada em mim, alguma coisa diferente. Na hora de voltar para Sandy e Junior, eu precisava dessa potência e não sei ser diferente nesse sentido. É necessário a entrega para chegar nesse lugar maior. Gosto muito de desafio, então foi delicioso.”

“Foi desafiador, um ato de muita coragem revisitar tudo isso, mas uma vez que já estava lá, foi engrandecedor. Eu saía com o peito desse tamanho. Não conseguia dormir para processar aquilo. Foram noites e noites em claro para entender o que estava acontecendo. Faria tudo de novo!”.

Dedinho do pé quebrado e rotavírus

Junior: “No meio da turnê, quebrei um dedinho do pé. O primeiro show que fiz assim foi um pouco assustador, porque tive que ficar mais alerta. Precisava daquela concentração extra, e tinha um pouco mais de dificuldade de mergulhar só na emoção. Tive que ficar mais técnico.”

Sandy: “Para mim, isso aconteceu nos últimos shows de São Paulo, em outubro, porque eu estava com rotavírus. Então, esses foram mais complicados do ponto de vista técnico, porque estava com medo de desmaiar no palco. Também não acreditei em como a emoção e a adrenalina do momento me levantaram. Se fosse para entrar no palco sentindo o que eu estava sentindo na minha casa, esgotada, não parecia possível fazer aqueles shows. O que o público fez comigo, a energia, tenho certeza de que foi o que me ajudou. Então, foi muito potente o que a gente recebeu no palco.”

Despedida

Junior: “Foi difícil sair do palco. Quando acabou e apagou a luz, eu não queria ir embora. Fiquei ali um tempinho, no escuro, olhando para a galera.”

Sandy: “Foi difícil processar tudo o que tinha acontecido. A gente fez show onde foi o Rock in Rio, no Parque Olímpico, para 100 mil pessoas. Como se fosse um Rock in Rio nosso. Foi muita gente, muito amor… Foi um presente reviver tudo isso, e triste também ter que se despedir. Era uma mistura de alívio por ter dado tudo certo, e tristeza por acabar.”

Junior: “Ao mesmo tempo em que eu estava extremamente feliz, um lado meu ficou meio mal, de tão intenso e maravilhoso que foi.”

Além da reexibição de Estrela-Guia e da estreia da nova série documental, no dia 17/7 será a vez de ir ao ar um dos shows desta turnê, produzido durante a apresentação no Allianz Parque, em São Paulo. E também será lançado DVD e o álbum de Nossa História nas plataformas digitais. O primeiro episódio da docussérie será exibido na TV Globo no domingo, 12/7, no Pré-estreia Globoplay.