Cumbe

Marcelo D’Salete é professor, ilustrador e quadrinista. Estudou design gráfico, é graduado em artes plásticas e mestre em história da arte.

Autor das graphic novels, Cumbe de 2014 e Angola Janga lançada em 2017 do paulistano Marcelo D’Salete, venderam juntos mais de 200 mil cópias só no Brasil e foram adotas em escolas públicas e privadas do país, além de serem premiadas ao redor do mundo.

Filho de um eletricista e de uma auxiliar de enfermagem, Marcelo foi criado nos bairros de São Mateus e Artur Alvim, na zona leste de São Paulo. Por meio da literatura e do rap na adolescência, tomou consciência sobre questões como a luta contra a discriminação racial e os movimentos de resistência negra.

De autoria do paulistano Marcelo D’Salete, a HQ aborda a escravidão – essa enorme feriada aberta e ainda mal curada na história do país. O título remete à um quilombo na Paraíba, mas abrange significados muito mais amplos. A palavra “Cumbe”, de raiz banto, quer dizer também luz, fogo e força, o que expressa bem a vida de luta dos personagens retratados.

O projeto da história em quadrinho que viria a se tornar Cumbe teve início em 2004, e para isso Marcelo D’Salete precisou mergulhar e ir a fundo em registros e documentos históricos. O que veio em seguida foi um enredo criativo e acima de tudo crítico. Todo esse trabalho levou cerca de 10 anos para ser concluído e publicado, a publicação faz das possíveis formas de resistência à escravidão um fio condutor para as tragédias pessoais dentro de um contexto histórico de mais de 300 anos.

Marcelo tem um jeito único de contar suas histórias, mesmo com violência que permear as páginas da HQ, o autor abusa de uma narrativa poética, mesmo em histórias cheias de tragédias.

A escravidão é enfocada a partir do ponto de vista do escravizado, mas somente na intenção de lhe dar o protagonismo e a voz narrativa. Os episódios procuram fugir de qualquer estereótipo ou da romantização da figura do negro. E para dar profundidade aos diálogos, o quadrinista escreveu de forma a aproximar a fala de uma linguagem a mais verossímil possível, adotando expressões e palavras extraídas da cultura banto, de origem no Congo e Angola.

Cumbe foi lançado nos EUA em 2017 com o título de Run for It. Ganhou a projeção que lhe faltava, e, no ano seguinte rendeu a Marcelo D’Salete o maior dos prêmios para um artista do gênero: o Eisner Award, considerado o maior prêmio das Histórias em Quadrinhos, na categoria Melhor edição Americana de material estrangeiro.