40 anos de Back in Black! O Rock and Roll não é poluição sonora

1980 foi um ano mágico, não só para mim que celebrava 12 anos de existência enquanto me mudava de casa pela primeira vez, mas para o planeta como um todo. O ano que abre uma década que mudou o mundo pra sempre.

Ronald Reagan era eleito presidente dos Estados Unidos e ficaria no poder por oito anos promovendo a desastrosa guerra contra as drogas; no Brasil já se via os primeiros passos de uma abertura política na sociedade no lento processo de saída da ditadura em direção à democracia; um Papa visitava o país pela primeira vez na história; José João da Silva, atleta do São Paulo F.C., ganhava a tradicional corrida de São Silvestre depois de 44 anos sem ter um Brasileiro vencedor; e o rock e o metal estavam entrando na minha vida.

Nesta época eu já ouvia alguma coisa de Kiss e Queen. O Edson, meu vizinho mais velho e com uma coleção de discos de rock maravilhosa, me fazia umas coletâneas em fitas cassete que entre Queen e Kiss também tinha muito Led Zeppelin e AC/DC, suas bandas preferidas. Eu já curtia muito o Highway to Hell, último disco com o vocalista Bon Scott, e conhecia um pouco dos outros discos do AC/DC, mas não era minha banda preferida. O Queen veio para o Brasil em 1981, mas minha mãe não deixou eu ir no show. Eu era muito novo e ninguém de casa queria me levar. Em 1983, o Kiss veio pra fazer shows pelo país e em São Paulo eu fui. Mudou a minha vida. Lembro que antes de o Kiss entrar, enquanto a galera entrava no estádio só rolava AC/DC nas caixas. Eram os álbuns Back in Black e o For Those About to Rock, os mais recentes da banda. Ouvindo o Back in Black agora enquanto escrevo este texto me leva de volta àquele momento tão especial na minha vida, tudo muito excitante e novo, que época boa!

O Back in Black é um disco refinado, muito bem produzido e que soa como se fosse feito ontem. Muito diferente do que o AC/DC tinha feito até então. O Bon Scott era praticamente um vocalista Punk, um gênio à sua maneira mas a banda tinha uma atitude mais despojada e desinteressada. Com a morte do vocalista, o AC/DC mudou, se aperfeiçoou, cresceu e ainda de luto escreveu a sua maior obra, uma verdadeira “masterpiece”! O produtor Mutt Lange, que já havia produzido o Highway to Hell foi muito importante neste amadurecimento do som da banda, principalmente pelo trabalho que fez com o novo vocalista e letrista Brian Johnson. Que pressão para Brian! Mas ele tirou de letra (com o perdão do trocadilho). Fez um trabalho magistral que mostrou um novo futuro para a banda, novas possibilidades.

Divulgação

A abertura do álbum já é algo único, grandioso e muito original, especialmente para uma banda de heavy “bluesy” rock. Lenta e muito densa, quase como um “Bolero” de Ravel, em que os elementos entram um a um até que a massa sonora da banda prepara a “cama” para os primeiros e inéditos urros melódicos de Brian. Que música! (Ouvi “Hells Bells” no estádio do Morumbi em 1983 enquanto esperava o show do Kiss começar e nem podia imaginar que anos mais tarde no mesmo estádio o meu time do coração em todos os jogos entraria no gramado ao som de “Hells Bells”, escolha pessoal do goleiro, artilheiro e roqueiro Rogério Ceni). Que poder motivador tem a música!

Outra coisa que me chamou a atenção foi o fato de que a música-título não abria o álbum, o que para mim seria óbvio. Mas com “Hells Bells” na lista não tem como ter uma abertura melhor. Colocar a “Back in Black” para abrir do lado B foi genial, me passou um sentimento de recomeço, não só para o disco em si mas para a banda de uma forma geral. Uma homenagem ao parceiro que se foi de forma trágica e inesperada, que fecha um ciclo e abre outro. Muito forte e poderoso. É simbólico que a “You shoot me all night long” seja a música seguinte por que mostra um novo AC/DC, mais “pop” com mais possibilidades de tocar nas rádios e conquistar um público que até então não se importava com o AC/DC. Não à toa foi escolhida como o primeiro single e ajudou a colocar o AC/DC em outro patamar.

A popularização mundial do heróis Marvel através do cinema colocou novamente o Back in Black no topo como tema principal do mais famoso dos heróis, o Homem de Ferro. Introduziu este obra-prima para um público jovem mostrando a relevância e o poder que o disco ainda exerce no presente.

Todas as faixas são poderosas e cada uma tem o seu caráter próprio, se você tirar uma faixa o equilíbrio se perde, tudo se desmonta. O impacto deste disco foi e é muito forte, real e me parece eterno. Ainda hoje tem um garoto ou uma garota que estão escutando os acordes de “Hells Bells” pela primeira vez e sentindo o seu mundo mudar, com certeza pra melhor. Mudou o meu e sou eternamente grato por isso.