Justiça determina prisão preventiva de falsa enfermeira flagrada com doses da vacina contra a Covid-19, em Apucarana
A Justiça determinou a prisão preventiva de uma mulher suspeita de desviar doses de vacinas contra a Covid-19 em Apucarana, no norte do Paraná. Silvania Regina Ribeiro, de 46 anos, está presa desde sábado (15). As informações são do G1 Paraná.
De acordo com as investigações do Ministério Público do Paraná (MP-PR), Silvana foi voluntária na aplicação de vacinas contra o novo coronavírus até o dia 11 deste mês.
No sábado, ela foi presa em flagrante com frasco da vacina Astrazeneca, seringas e cartões de vacinação do município em casa. À Polícia Civil ela confessou ter desviado dois frascos para aplicação de primeira e segunda doses em uma família de Mandaguari que tem uma empresa em Apucarana.
No depoimento, Silvana deu detalhes dos motivos que a levaram a pegar os dois frascos do imunizante.
“Simplesmente quis ajudar quem me ajudou muito. Me deram trabalho em uma época que precisei muito. Ninguém pagou por nenhuma dessas doses. Das cinco pessoas que receberam a vacina, três fazem parte dos grupos prioritários. Uma estava na idade da imunização, a outra é hipertensa e outra tinha acabado de ganhar bebê”, contou a suspeita em depoimento.
O delegado de Apucarana Marcos Felipe da Rocha Rodrigues, diz que mesmo ela atuando como voluntária na campanha de imunização, ela responderá por crime praticado por funcionário público durante a função.
“Ela estava exercendo, ainda que sem remuneração e de forma temporária, função de funcionário público, participando da campanha de imunização contra a Covid-19, então se equipara a essa figura. A partir do momento que desvia bens do estado está praticando crime de peculato, mas pode incorrer também o crime de infração à medida sanitária”, explicou.
O secretário de Saúde de Apucarana, Roberto Caneta, afirma que Silvania Regina começou a trabalhar como voluntária na campanha ao se apresentar como técnica de enfermagem. Porém, ela não tem formação na área.
“Ela disse que era técnica de enfermagem de uma instituição de Apucarana e solicitou esse trabalho voluntário ao coordenador de Divisão de Epidemiologia que aceitou o trabalho”, detalhou.
No depoimento, a suspeita negou a versão do secretário de Saúde. Em depoimento disse que a profissão aparecia na carteira de trabalho por uma decisão da instituição de idosos onde trabalhou até o fim de março. Alegou que foi apresentada na campanha de vacinação como ex-funcionária deste local.
“Fui registrada como técnica de enfermagem por motivo de salário, financeiro, porque a base salarial de cuidador de idosos era maior do que a instituição poderia pagar. Isso tudo foi acordado em uma reunião, ninguém foi enganado”, disse à polícia.
A suspeita foi afastada da função assim que o município soube do caso.
“Diante da denúncia, a voluntária foi afastada e publicamos decreto proibindo trabalho voluntário, mesmo com muitas solicitações para isso. Também afastamos o coordenador de Epidemiologia e abrimos sindicância para apurar tudo, colaborando com justiça do nosso município”, afirmou.
A Polícia Civil e o Ministério Público do Paraná também tentam esclarecer outro problema denunciado. Silvania estaria aplicando soro na população ao invés de vacina contra a Covid-19. Em depoimento ao delegado, ela negou que fez isso.
“A própria técnica de enfermagem aspirava a vacina, qualquer um poderia ver. Se aspiravam várias doses e deixavam prontas porque a fila estava enorme. Se for fazer uma por uma, demorava mais. Todas as que apliquei eram da Astrazeneca, nenhuma com soro”, afirmou a suspeita.
O secretário municipal de Saúde descarta essa hipótese.
“Não há risco nenhum porque ela declarou que em nenhum momento realizou aplicação de outro produto que não fosse a vacina da Coronavac ou Astrazeneca”, declarou Roberto Caneta.
“Não prejudiquei nenhum idoso ou gestante. O erro que reconheço foi aplicar a vacina para essa família e ter desviado doses”, disse Silvana Regina.
O Ministério Público investiga a responsabilidade inclusive da Secretaria Municipal de Saúde neste caso.
“A responsabilidade pelo controle das doses é da administração pública municipal. Em nenhuma hipótese seria aceitável que alguém tivesse dose de qualquer vacina em casa, no contexto da pandemia é ainda mais grave. O pior adjetivo não é suficiente para qualificar a gravidade dessa situação. Considero absolutamente inaceitável”, disse a promotora Fernanda Silvério.