Número de MEIs mais que dobra em cinco anos no Paraná

O número de formalizados como Microempreendedores Individuais (MEIs) mais que dobrou nos últimos cinco anos no Paraná, de acordo com estatísticas do Portal do Empreendedor, do governo federal. No fim de maio, havia 636,8 mil cadastrados no estado.

Economicamente, em todo o Brasil, os MEIs se tornam a cada ano mais expressivos. Neste ano, o país ultrapassou a marca de 10 de milhões de microempreendedores. É dentro deste universo que a série de reportagens Profissão Empreendedor, do G1 Paraná e do Bom Dia Paraná, estará entre esta quinta-feira (4) e sábado (6).

Em meio à pandemia do novo coronavírus, o ritmo de crescimento do número de formalizados desacelerou no Paraná. De janeiro a maio de 2019, o aumento de MEIs foi de 7%. No mesmo período deste ano, a quantidade aumentou 6,5%.

Neste ano, o crescimento foi mais tímido principalmente em abril e maio. Para o diretor de Estatística do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Daniel Nojima, a continuidade do aumento de MEIs tem relação com a recuperação da economia que estava em curso antes da pandemia.

“De dois meses pra cá, a situação mudou bastante para o Paraná e Brasil. A gente tinha uma perspectiva de estar num processo de recuperação da economia”, afirma o economista.

Conforme ele, no fim de março a atividade econômica chegou a cair 30% no estado. “É uma queda bastante violenta que afetou muito particularmente o setor de serviços”, explica.

Nojima avalia que a recuperação dessa crise tende a ser muito gradativa e depende do sucesso de medidas adotadas para conter a pandemia. Em meio ao problema, os microempreendedores tentam buscar soluções.

Por que empreender?

Há dois anos, Queila Magalhães, de 41 anos, precisou se reinventar ao perder o emprego na área de recursos humanos e encontrar dificuldades para recolocação com carteira assinada.

“Não era minha opção empreender, veio como uma necessidade”, diz.

Diante da situação, ela decidiu investir na criação de uma pequena empresa de personalização de produtos, como canecas e bolsas, em Curitiba. Mesmo com uma clientela fidelizada, Queila enfrentou uma queda repentina na demanda com a chegada do coronavírus.

“Apesar de ser algo assim bastante sério, de ter um peso muito grande, a gente tem que botar a cabeça para funcionar e tentar achar alguma saída de alguma forma”, indica.

Para ela, a solução para encarar os meses de pandemia estava próxima. A empreendedora percebeu que poderia personalizar tecidos para que costureiras, que estavam com serviço parado, fizessem máscaras para vender.

As canecas, até então carro-chefe da empresa, deram lugar para os tecidos e máscaras – que ela também faz para os clientes com uma máquina de costura comprada há alguns meses por causa da demanda de produtos personalizados.

Queila diz ter conseguido encontrar um público novo casando com o trabalho que já exercia. As horas dedicadas a empresa também aumentaram.

“Por conta das máscaras, eu simplesmente não estou dando conta dos pedidos. Sei que é temporário, mas num momento negativo estou enxergando bastante coisa positiva para o meu trabalho”, avalia.

Olhar para além da atividade principal

O diretor de inteligência de mercado e professor ligado à Fundação Getúlio Vargas (FGV), Leo Morel, diz que o momento é para olhar além da atividade principal do negócio, assim como fez a Queila.

“A necessidade faz a oportunidade. É crise para uns e oportunidade para outros”, afirma o professor.

Segundo ele, a solução para alguns empreendedores passa pela mudança da cadeia produtiva – até mesmo enxergando um setor vizinho. “Não só no sentido de expandir a clientela, mas muitas vezes de transferir mesmo”, explica.

O professor também alerta para a necessidade de buscar auxílio de instituições como o Sebrae e cursos de capacitação a fim de desenvolver o negócio quando a pandemia passar.

Importância da formalização

O diretor de Economia do Ipardes diz ainda que o MEI é um instrumento que pode servir como uma ponte de compensação das dificuldades, a exemplo do capital de giro, para os empreendedores.

“A proposta original do MEI é conferir uma maior segurança para esse trabalhador. Ele pode ter inclusive facilidade maior de acesso a crédito e programas do governo federal”, afirma o economista.

Dez atividades com maior número de MEIs no Paraná:

Cabeleireiros: 47.417

Obras de alvenaria: 46.621

Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios: 43.284

Promoção de vendas: 23.103

Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares: 17.113

Outras atividades de tratamento de beleza: 14.901

Serviços de pintura de edifícios em geral: 14.489

Serviços domésticos: 13.446

Instalação e manutenção elétrica: 13.391

Outras atividades auxiliares dos transportes terrestres: 11.979

MEI e a crise do coronavírus

Uma pesquisa nacional do Sebrae feita em abril aponta que quase 90% dos MEIs tiveram redução do faturamento e que 78% desempenham atividades que tiveram o funcionamento suspenso por decretos estaduais ou municipais.

Nas últimas semanas, o governo federal anunciou um conjunto de medidas para apoiar os empreendedores. Segundo dados do Sebrae, o auxílio emergencial de R$ 600 deve atender a cerca de 3,6 milhões de MEIs.