Em um mês, casos e mortes por Covid-19 entre profissionais de saúde dobram no PR

O número de contaminações e óbitos por Covid-19 entre os profissionais de saúde do Paraná mais do que dobrou em aproximadamente um mês. É o que revelam dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), os quais apontam ainda que 5% do total de casos e 1,94% dos óbitos causados pelo novo coronavírus no estado afetam enfermeiros, médicos, profissionais da área farmacêutica e outros que estão na linha de frente no enfrentamento à pandemia.

Conforme dados do Informe Epidemiológico Coronavírus mais recente, divulgado pela Sesa na última sexta-feira (7 de agosto), o Paraná havia registrado um total de 4.403 casos de Covid-19 entre profissionais de saúde, sendo 1.259 em profissionais de enfermagem e 343 em médicos. No mês anterior, até o dia 8 de julho, eram 2.202 casos confirmados, o que aponta um crescimento de 99,96%.

Nesse mesmo período, o total de contaminações pelo novo coronavírus entre toda a população paranaense saltou 148,9%%, passando de 35.324 para 87.915.

Já quanto aos óbitos por Covid-19 entre os profissionais de saúde (cujas informações não são divulgadas no boletim epidemiológico, mas foram repassados ao Bem Paraná pela Sesa a pedido da reportagem), entre os dias 18 de julho e ontem (10 de agosto) houve um aumento de 104,6% nos registros, que passaram de 22 para 45.

Entre a população em geral, o número de óbitos nesse mesmo intervalo (18 de julho a 10 de agosto) teve crescimento de 79,9%, passando de 1.289 para 2.319.

Conforme Simone Peruzzo, presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-PR), um dos principais motivos para o crescimento no número de casos confirmados entre profissionais de saúde é o aumento da testagem entre os trabalhadores. O grande problema, explica ainda ela, tem sido conseguir lidar com tantos profissionais afastados e consequente sobrecarga de trabalho, que obriga muitos profissionais a dobrarem os plantões, por exemplo.

“Temos colegas estressados, dobrando plantão para dar conta da demanda. Então há um desgaste físico e emocional do trabalhador saudável, que vai, sim, acabar dobrando plantão, porque não tem quem substituir. Isso é extremamente preocupante”, comenta Simone.

Presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Enfermagem (Sismec), Raquel da Silva Padilha revela ainda que recentemente houve uma UPA de Curitiba que, numa única semana, precisou afastar 35% dos seus profissionais. “Numa UPA, um paciente precisou ficar um período a mais porque aguardava uma vaga em hospital. Depois disso, 35% do efetivo precisou ser afastado. O que acontece daí? Fica sem pessoal para repor, porque mesmo ofertando mais horas extras, os profissionais não têm condição de trabalhar tanto. A maioria tem dois empregos e mesmo quem faz as horas extras anda muito cansado”.

Falecimento de médico em Maringá gera comoção

No último sábado faleceu em Maringá, no norte do Paraná, o médico Lucas Augusto Pires, de 38 anos. Ele foi contaminado pelo novo coronavírus ao realizar seu trabalho no Instituto de Saúde Bom Jesus, em Ivaiporã, também na região norte do estado, e gerou comoção nas redes sociais por conta de uma publicação que fez no Facebook antes de ir para a UTI.

No texto escrito aos amigos, o neurocirurgião diz que “peguei essa doença fazendo o que amo, cuidando dos meus pacientes com amor e dedicação”. Em seguida, garante: “Faria tudo outra vez”.

Uma colega de turma de Lucas, a Doutora Valéria Cristina Scavasine, também se pronunciou sobre o falecimento numa mensagem para Benjamin e Isabela, filhos do doutor Lucas. “Nunca se esqueçam disso: por amor à profissão, ele perdeu a própria vida cuidando de outras vidas”.

Saúde emocional é uma das principais preocupações de quem atua em hospitais

Recentemente, chamou a atenção da mídia nacional um caso ocorrido no Hospital das Clínicas de Pernambuco, no qual o enfermeiro e chefe da Unidade de Blocos Cirúrgicos, Marcone César Tabosa Assunção, de 32 anos.

O profissional teria ficado abalado após perder a mãe para a Covid-19 e acabou cometendo suicídio. No Paraná, só nos últimos dois meses o Coren recebeu três notificações de casos desse tipo.

“Claro, uma pessoa se suicida por ‘N’ motivos, mas esse momento que vivemos tem colaborado, é bem preocupante”, comenta a presidente do Coren-PR, Simone Peruzzo.

A presidente do Sismec, Raquel da Silva Padilha, revela que o grande medo dos profissionais de saúde é acabar sendo contaminado e transmitir a doença para familiares. “O pessoal relata que é o grande medo deles. Já ouvi várias vezes coisas como ‘se passar para minha filha, para mimha mãe, eu não me perdoo, não vou me perdoar’.

Eu mesma me afastei da minha casa, tenho uma mãe com 83 anos. Ficava pensando: ‘Ela pode pegar, mas se eu estiver lá, vou me sentir culpada’. E nunca temos certeza de onde veio, podemos estar assintomáticos e passar para outra pessoa”.

Para a Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem), o cenário é complexo e só reforça a importância de serem promovidas iniciativas que busquem preservar a integridade física e mental destes trabalhadores.

Curitiba se aproxima dos 25 mil casos. Secretaria de Saúde tem problemas

A Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba confirmou, ontem, mais 16 óbitos de moradores da cidade infectados pelo novo coronavírus. Com os novos dados, Curitiba chega a 724 mortes pela Covid-19. O boletim mostra mais 473 casos do novo coronavírus em moradores da cidade. Até agora, 24.453 pessoas testaram positivo para a Covid-19 desde o início da pandemia, das quais 19.413 pessoas estão liberadas do isolamento.

Entre os casos confirmados, 639 pacientes estavam internados em hospitais públicos e privados da capital paranaense, 256 deles em UTIs, até ontem

Brasil — Desde o início da pandemia, o Brasil acumula 3.057.470 casos de Covid-19, conforme balanço diário divulgado ontem pelo Ministério da Saúde. O número de mortes chegou a 101.752. Há ainda 3.569 óbitos em investigação. Atualmente, 791.096 pacientes com covid-19 estão em acompanhamento. Já a quantidade de pessoas recuperadas chega a 2.163.812.

Paraná — A Secretaria de Estado do Saúde divulgou os números do boletim apenas pouco antes das 22 horas. No fim de semana a secretaria enfrentou dificuldades com o sistema Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) responsável pelo armazenamento de resultados de exames laboratoriais.

O boletim divulgado confirmou 1.338 diagnósticos positivos e 53 óbitos, ontem, elevando para 93.139 confirmações e 2.370 óbitos pela Covid-19 desde março deste ano.