Alunas de colégio agrícola no Paraná criam minifoguete para reflorestar áreas de difícil acesso

Três alunas de um colégio agrícola de Palotina, no oeste do Paraná, desenvolveram o protótipo de um minifoguete com cano de PVC, ao custo de R$ 50, para lançar sementes e reflorestar áreas de difícil acesso.

As estudantes, de 14 e 15 anos, pensaram no projeto depois de um incêndio que atingiu o Parque Nacional de Ilha Grande, no noroeste do Paraná, em 2019. O fogo atingiu mais de 60% da área de preservação ambiental.

“Quando a reserva foi queimada, as cinzas subiam, dava para ver no céu. Eu ficava agoniada com aquilo, era desesperador. Agora, saber que há esperança, que podemos melhorar e a floresta pode ter um novo começo foram os motivos que me atraíram para esse projeto”, contou a estudante Estephany Cristine da Silva Alves, de 15 anos.

Segundo o professor Emmanuel Zullo Godinho, que orientou as alunas, a iniciativa é pensada para áreas em que não é possível entrar plantadeiras, o que torna o replantio desafiador.

O minifoguete utiliza combustível sólido, como pilhas, e cria uma espécie de chuva de sementes. Com o PVC, o protótipo sobe até 300 metros. A peça com as sementes se desencaixa e desce até o solo, espalhando as sementes.

A equipe do 1ª ano do ensino médio pesquisou quais eram as plantas nativas da região do parque, onde o protótipo será lançado.

Depois, as estudantes definiram que o minifoguete soltará sementes de pitanga, pelo potencial da fruta em atrair animais, e de ipê branco, pois a árvore é de fácil germinação e pode criar um microclima para o desenvolvimento de outras plantas.

O estudo parte do princípio de germinação como ocorre nas situações em que passarinhos soltam sementes enquanto voam.

Educação e meio ambiente

A ideia surgiu dentro das salas do Colégio Agrícola Estadual Adroaldo Augusto Colombo, em 2019, por meio de uma parceria com o projeto Meninas nas Ciências, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Palotina. A cidade tem cerca de 31 mil habitantes.

Além de Godinho, a professora Mara Fernanda Pacheco deu orientações e acompanhou o projeto, mas o trabalho foi desenvolvido pelas aluas Estephany Cristine da Silva Alves, Marina Grokorriski e Kawany Caroline Duarte da Rocha.

“Sou professor, da área da pesquisa, e essa pandemia está provando para todos que a pesquisa é fundamental. Além disso, quando vejo essas crianças pegando gosto nisso, descobrindo, fico pensando o quanto isso é importante para elas pensarem fora da caixinha.”

Desde o início, a intenção do grupo era produzir algo barato e efetivo. Assim, o trabalho pode ser disseminado para ajudar o meio ambiente em outras cidades e países.

“Eu acho que a maioria das iniciativas para evitar o aquecimento global são essenciais para ajudar as gerações futuras. Precisamos ter conscientização sobre aquilo que a gente tem, sobre o que perdemos e a nossa responsabilidade em reflorestar”, disse Estephany.

Estephany contou que o trabalho abriu os olhos dela para a carreira profissional. Para a adolescente, a iniciativa mostra que as mulheres podem fazer o que quiser e que, cada vez mais, está aumentando o número de meninas estudantes no colégio agrícola.

“É uma grande conquista ter um projeto desse com estudantes mulheres. Vemos que estamos ganhando espaço em um lugar que é predominantemente de homens, isso é muito bom.”

O estudo foi o único do Paraná a ser escolhido entre 1,7 mil trabalhos e se tornou um dos 20 semifinalistas do prêmio Respostas para o Amanhã, da Samsung.

O concurso desafia alunos e professores da rede pública de ensino do Brasil a desenvolverem soluções para problemas locais com experimentação científica e tecnológica.

Prática

Conforme o professor, os primeiros testes foram feitos com grãos de milho, que tiveram em média 61% de germinação, e de soja, com germinação média de 53%. Por causa da pandemia do novo coronavírus, a prática em campo foi suspensa temporariamente.

Primeiro, a equipe utilizou papelão para o protótipo, mas o material foi trocado para poder ir mais alto e ter uma área maior no lançamento das sementes.

Para que o reflorestamento seja possível, o ambiente em que as sementes serão lançadas precisa estar em condições ideais. Em períodos de seca, como em setembro, não é possível fazer o plantio das sementes, pois não ocorrerá a germinação, segundo o professor.

A intenção do grupo é que o minifoguete seja lançado na área do Parque Nacional de Ilha Grande, no período de chuvas, durante o verão de 2021.

O projeto considera ainda que o minifoguete não seja usado em locais de seca para que não haja risco de incêndio com a faísca que ocorre no lançamento.

Além disso, partes da ferramenta, que cairão na terra, devem ser retiradas por uma pessoa a cada uso para que os componentes não fiquem na natureza.