Conheça Paper Girls, próxima HQ a ganhar série no Prime Video

Co-criador de obras-primas como Y: O Último Homem e Saga, Brian K. Vaughan é responsável também por uma das minhas HQs favoritas dos últimos tempos: Paper Girls. Em parceria com Cliff Chiang, o roteirista criou uma grande história que mistura ficção científica e conto de amadurecimento em uma história emocionante, ágil e extremamente divertida. Com uma adaptação já confirmada para o Amazon Prime Video, o gibi foca em quatro jovens entregadoras de jornal dos anos 1980 que, por acidente, se envolvem em um gigantesco conflito geracional iniciado mais de mil anos depois da época em que nasceram.

Embora o cenário de Paper Girls mude a cada página – saindo de 1988 até o futuro mais distante imaginável, passando pelo século XXI e pela pré-história -, sua trama é surpreendentemente comum e relacionável. Por ser essencialmente um conto de amadurecimento, os eventos fantásticos do gibi, por melhor construídos que sejam, ficam em segundo plano à humanidade inerente à autodescoberta natural da pré-adolescência. Ao longo das 30 edições da revista, o quarteto formado por Erin, KJ, Mac e Tiffany se depara com questões como sexualidade, preconceito, mortalidade e responsabilidade.

As diferentes origens, crenças e ideologias das garotas são o ponto mais forte e atraente da revista. Mesmo que parta inicialmente do ponto de vista de Erin, Paper Girls dá às quatro protagonistas espaço para que sejam desenvolvidas de maneira profunda e orgânica, em um ritmo que, embora faça sentido com a agilidade da história, nunca parece apressado.

Durante suas viagens, as garotas conhecem versões diferentes de si mesmas e descobrem que são essenciais para uma guerra entre adolescentes e adultos pelo controle da viagem no tempo, uma trama que ganha camadas cada vez misteriosas à medida que a história avança. Assim como faz em Saga, Vaughan prende o leitor ao encerrar cada número com uma reviravolta chocante, que toma proporções ainda maiores graças à arte de Chiang.

O visual colorido das páginas e os designs dos personagens também enchem os olhos. Kaijus em forma vermes, homens das cavernas usando trajes futuristas e um sem número de apetrechos mirabolantes da Apple se encaixam perfeitamente no cenário maluco criado pela dupla, e ajudam a conectar esse mundo fantasioso com a nossa realidade.

Obviamente, como qualquer obra de entretenimento, Paper Girls tem seu público específico. Dificilmente leitores avessos a histórias de viagens temporais ou de questões adolescentes se conectarão ao gibi como fãs de sci-fi. A aparente nostalgia oitentista do primeiro volume também pode enganar, e talvez até espantar, leitores já cansados dessa abordagem, já que essa década dominou a cultura pop por um certo período.

A comparação natural com Stranger Things ou It: A Coisa também pode causar ruídos na hora da leitura. Mesmo que tenha muito pouco em comum com qualquer uma das produções além do grupo de protagonistas de bicicleta, o uso de elementos dos anos 1980 são o bastante para atrair (como aconteceu comigo) ou afastar leitores em potencial do título. Mas superando esse pré-julgamento, as diferenças entre as obras ficarão muito mais claras.

Assim como The Boys, Invincible e O Legado de Júpiter, que passou dias entre as séries mais assistidas da Netflix, Paper Girls tem grande potencial para se tornar um grande sucesso no streaming. Seguindo a linha de outras obras adaptadas pela Amazon, a série deve trazer mudanças em relação ao gibi, mas nada que afete sua história e mensagem. E, embora as viagens de Erin, Mac, Tiffany e KJ exijam um alto investimento em efeitos visuais, é difícil acreditar – especialmente para um fã do quadrinho – que a versão televisiva de Paper Girls não repetirá o sucesso de suas antecessoras.