Um trabalho que vai além da coleta de recicláveis

 A reciclagem começou na década de 1940, durante a Segunda Grande Guerra, quando produtos como o náilon, borracha, papel e muitos metais eram racionados e reciclados, para ajudar a suportar a sua escassez durante o conflito, que durou entre os anos de 1939 a 1945. Mas só foi por volta dos anos de 1990 que o assunto e os debates tomaram proporções globais.
Reciclagem é o processo em que há a transformação do resíduo sólido que não seria aproveitado, com mudanças em seus estados físico, físico-químico ou biológico, de modo a atribuir características ao resíduo para que ele se torne novamente matéria-prima ou produto, segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Atuando na cidade há pouco mais de uma década a Associação dos Catadores de Mandaguari (ACAMAN) vem, ao longo dos anos, atuando no segmento da reciclagem em um trabalho que vai muito além do recolhimento dos materiais.
Hoje o papel da associação também está ligado na conscientização ambiental junto à comunidade e principalmente as escolas, onde as crianças, através de visitas à sede da Acaman, podem acompanhar todo o processo, desde recolhimento até sua separação, preparação e destinação para empresas que recebem esse material reciclável. 
Outra ação fundamental, talvez a mais importante da Acaman, é sua função social, dando uma condição de vida mais digna aos seus 23 associados, que na grande maioria é constituído por mulheres que tem na separação do material reciclado a sua única fonte de renda.
A associação funciona com a divisão do lucro das vendas feitas dos materiais recicláveis, o recolhimento é feito em toda a cidade no sistema de rodízio por dois caminhões. Depois que esse material chega à sede da Acaman é feita uma triagem, onde é separado e vendido para empresas da região com certificações ambientais e são elas que processam e dão a destinação dos recicláveis para as indústrias.
Apesar de a associação ter como objetivo a reciclagem, a Acaman é ponto de recolhimento de madeiras, móveis e eletrônicos. Angélica Amanda Bento, gestora da entidade, ressalta que as pessoas que possuem esse tipo de material têm que levar até o local. “Nós somos um ponto de recebimento, nós não coletamos móveis”, conta.
Outro ponto que vale ser ressaltado é que a Acaman é uma prestadora de serviço do município, na qual existe um contrato que é renovado anualmente. Segundo números repassados pela gestora, cerca de 60 toneladas de material reciclado por mês deixam de ir para o aterro sanitário.
 A parceria com o município, afirma Angélica, é boa. A Prefeitura cedeu um dos caminhões usados para a coleta, e o outro foi adquirido com recursos da associação, que antes pagava aluguel de um veiculo. Mensalmente é entregue para o município um relatório das rotas feitas pelos veículos, que possuem rastreadores, e com a quantidade de recicláveis recolhidas. “Existe uma transparência no nosso trabalho. Hoje temos como comprovar que os caminhões estão fazendo as suas rotas, se alguém reclamar”, enfatiza Angélica.
A entidade ainda enfrenta a falta de conscientização e compreensão por parte da população em relação a alguns materiais que a associação não recolhe como, por exemplo, lâmpadas fluorescentes e aparelhos eletrônicos abertos. “As pessoas deixam eletrônicos para que possam serem recolhidos, alguém passa e abre o aparelho para retirar os fios de cobre e deixam a somente a carcaça. Infelizmente o comprador não aceita quando está aberto, no último mês tivemos que pagar para que seis toneladas desse material, que é rejeito, fossem encaminhadas para um aterro industrial”, afirma.
Já em relação a madeira a gestora conta que muitas vezes as pessoas vão até o local para deixar o material e acabam jogando pelo chão ou na entrada da associação, o que dificulta até mesmo a passagem dos veículos da Acaman. “Nesse caso das madeiras nós pedimos para que a pessoa jogue dentro do container, algumas vezes elas saem bravas daqui. E outra situação é quando jogam material na entrada ou por cima do portão. Tem dias que precisamos tirar o portão do trilho para conseguir entrar. Precisamos da colaboração da população”.
Por outro lado, a gestora conta que acidentes com os recolhedores envolvendo objetos cortantes e perfurantes diminuíram consideravelmente, a população vem tomando consciência que não se deve misturar vidros no meio de outros materiais. “Os últimos acidentes que tivemos fora com seringas de insulina, e isso gera todo um transtorno, a pessoa tem que tomar um coquetel de medicamentos durante um mês.  Isso acarreta certo mal-estar na pessoa devido a grande quantidade de remédio que ela tem que tomar”, diz Angélica.
Mensalmente a prefeitura de Mandaguari repassa algo em torno de R$ 34 mil para Acaman, esse recurso é usado na manutenção dos dois caminhões, no aluguel do local, equipamentos de proteção individual (EPI) e uma parte é destinada para compra de uma cesta básica e o recolhimento do INSS dos associados, garantindo a eles seus direitos em caso de um afastamento por acidente ou problema de saúde.
“Quanto mais a população ajuda com a separação do material reciclável do lixo doméstico, ajuda também no sustento de uma família”, finaliza Angélica.